Isaura Daniel, enviada especial
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São Paulo – Em meio a arranha-céus luxuosos, avenidas modernas, shoppings povoados de butiques internacionais, uma pequena área de Dubai, nos Emirados Árabes, faz comércio como antigamente. O lugar se chama Porto Saeed e fica em uma região da cidade de nome Deira. Ali, na beira do Mar do Golfo Arábico, funciona um porto marítimo de comércio formiga. Barcos de médio e pequeno porte saem todos os dias levando mercadorias os vizinhos Irã, Paquistão, Índia. “Ali começou a idéia de Dubai como um entreposto comercial”, diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
O emirado de Dubai tem portos modernos, transporte de carga aérea, mas é no Porto Saeed que funciona o comércio ao estilo antigo, dos mascates, pelo qual os árabes ganharam fama mundo afora. A rotina no local começa cedo. Por volta de 5 horas da manhã já há homens descarregando mercadorias de caminhões, a maioria de pequeno porte, no cais. São colchões, tecidos, material de informática, móveis, eletrodomésticos. Os produtos ficam ali, no chão do cais mesmo, esperando para serem embarcados nos navios. A função toda só termina tarde da noite, por volta de 22 horas.
Quem embarca os produtos normalmente veio do próprio país de destino da mercadoria, junto com o barco. Aliás, a maioria que trabalha ali não é nascida nos Emirados. São indianos, paquistaneses, e de outros países próximos, que vieram buscar um sustento nas raspas do comércio do emirado bilionário. O paquistanês Raja Zahid Akram é um deles. Akram tem uma empresa de transporte chamada Al Najah Gen Transport. O paquistanês busca mercadorias na zona franca de Jebel Ali, também em Dubai, e as traz até o porto. O que ele transporta são têxteis que têm como destino o seu próprio país e também o Irã.
Akram se mudou do Paquistão para os Emirados Árabes Unidos há cinco anos para trabalhar e garantir o sustento da família. No seu país, que não é árabe, mas fica no Oriente Médio, ele trabalhava com serviços administrativos. “Tenho uma vida melhor aqui. Não há muito trabalho lá”, disse Akram à reportagem da ANBA. A família do pequeno empreendedor segue no Paquistão. De Dubai, Akram envia dinheiro para a esposa. Só volta ao Paquistão uma vez por ano. De acordo com o paquistanês, enviar mercadorias pelo porto de comércio formiga é mais barato do que usar as vias mais modernas.
De acordo com Alaby, o porto é usado para transporte de mercadorias aos países mais próximos dos Emirados. Ao redor dele também estão alguns sinais de um comércio mais tradicional. Um souk, que é um pequeno mercado, vende artigos iranianos, indianos, chineses. Há também várias outras lojas de rua. Sem andar muito, porém, é possível encontrar um shopping luxuoso, onde o ar-condicionado garante a distância do calor sob o qual trabalham os mascates, e o suntuoso prédio da Prefeitura de Dubai. São as duas Dubais.