São Paulo – A marca de chocolates Mission Chocolate lançou neste mês a edição limitada de uma barra que leva leite de camela. Em apenas três semanas de venda, a fundadora da marca, Arcelia Gallardo, precisou produzir mais do produto para garantir o estoque por mais alguns dias. “Fizemos mais uma ‘batelada’ para poder atender os clientes. Foi muito bem recebido e, se tivermos uma demanda realmente boa, podemos estender para uma edição maior”, contou a chocolatier.
A barra está à venda na loja virtual da marca, que entrega em todo o Brasil e no exterior. O lançamento faz parte do projeto ‘Rostos do Brasil’. O objetivo da especialista em chocolates é criar uma barra para cada um dos povos que formam o Brasil. O chocolate de leite de camela é o representante dos árabes, em especial dos sírios e libaneses que compõem a cultura brasileira principalmente desde a imigração dos séculos 19 e 20. Essa foi a primeira edição do projeto que terá, ainda, produtos com ingredientes que homenageiam os povos africanos, indígenas e japoneses, entre outros. “Essa linha vai ajudar a informar lá fora quais são os rostos do Brasil”, disse Gallardo, que é norte-americana e tem clientes na Europa e Estados Unidos.
O leite de camela traz uma textura mais cremosa para a barra. “Para mim, é como se fosse um leite muito mais ‘direto da fazenda’, sinto muito frescor na barra”, detalha a especialista. Para a receita, foi preciso importar de Dubai o leite de camela em pó. “Tivemos que comprar de fora, mas eu estou procurando alguém no Brasil que forneça esse leite, sei que deve haver essa pessoa. E seria ótimo para manter o produto”, afirmou ela.
A busca por ingredientes nacionais é, inclusive, um dos pilares da marca. Todos os fornecedores de cacau da Mission são brasileiros, e vêm principalmente da Bahia e do Pará.
Esse foi um dos motivos pelos quais a especialista, natural de Los Angeles, nos Estados Unidos, está há sete anos baseada no Brasil. “Mudamos para cá com a ideia de explorar o mundo do cacau porque o Brasil é o único país do mundo que produz bastante, mas consome tudo que produz. É preciso até importar cacau porque o brasileiro gosta muito e criou um mercado forte o suficiente”, revela a especialista, que tem no movimento bean-to-bar um dos pilares de sua marca. O bean-to-bar defende a compra de cacau diretamente de produtores, sem intermediários.
Além da avelã
A vinda para o Brasil, onde a marca tem uma indústria, possibilitou que a fundadora trabalhasse próxima da produção de cacau e encontrasse no País mesmo o público para suas iguarias. “Queria fazer chocolate com uma história, e não só uma barra com avelã porque isso o mundo inteiro já faz. No Brasil tem tantas castanhas e frutas que não seria legal usar avelã se o brasileiro ainda nem tinha provado o que há aqui”, revela Gallardo.
Assim, a chocolatier se dedicou à missão de criar produtos totalmente novos. E de preferência, com ingredientes nativos. “Comecei com a linha ‘Biomas Brasileiros’. Barras com umbu e baru foram alguns dos primeiros e achei maravilhosa a combinação com chocolate. Tudo colhido por famílias, em plantas crescendo selvagens e organicamente. Pensei, meu Deus, isso tem uma história muito mais legal do que a de uma avelã”, disse ela sobre as edições que lançou de chocolate com fruta da Caatinga e castanha do Cerrado, respectivamente.
A criação de uma receita pode levar até um ano, entre escolha de ingredientes, provas e produção final. “Hoje, há produtores no Brasil que conseguem fazer a separação de lotes de cacau e, com isso, eu posso pedir um cacau com acidez alta, ou só com doçura, e escolher entre variedades diferentes”, revela Gallardo sobre a evolução na cadeia produtiva do cacau brasileiro, que ganhou corpo nos últimos cinco anos.
Outra criação da empreendedora são as barras com sobremesas brasileiras. Entre os quitutes estão creme de mamão, arroz doce, pão de mel, doce de leite e paçoca. “Achei maravilhoso converter esses sabores em uma barra, enviar para fora e os americanos e europeus me perguntarem ‘O que é rapadura? O que é paçoca?'”, orgulha-se.
A especialista também viaja o mundo aprendendo e ensinando sobre chocolate. Entre os 23 países que passou, foi no Marrocos que ela teve contato com a criação de camelos. Já nas comunidades indígenas que visitou, a americana ensinou receitas para agregar valor ao produto que as mulheres ali já produziam, mas procurando manter as ferramentas e tradições locais.
Gallardo explica que foi no México que primeiro se produziu o chocolate em si, apesar da planta ser de origem amazônica. “Talvez porque os indígenas mais ao sul já tivessem descoberto o guaraná e o mate. E para as populações do México o chocolate foi o primeiro estimulante [energético]. Assim, enquanto lá eles criaram o chocolate, os povos originários na Amazônia produzem mais bebidas à base de cacau. Tem muitas receitas e cada família tem seu método de fazer. É muito aprendizado e quero fazer [essa troca] em todos os países que puder”, conta a especialista.
Serviço
Chocolate ao leite de camela 61% | DARK CAMEL 60G
Preço: R$ 30,00
Onde comprar: https://www.missionchocolate.com.br/