São Paulo – Depois de um ano de alta, o preço do petróleo deve cair ou pelo menos ficar estável neste ano, trazendo incerteza sobre o aumento de receitas nos países árabes produtores da commodity. O cenário é projetado por analistas brasileiros, baseados no atual panorama internacional e também nas estimativas feitas por organismos e agências do setor. Elas reviram suas previsões em função da desaceleração do crescimento econômico mundial, ocasionado principalmente pela crise dos países desenvolvidos.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), por exemplo, reduziu, em dezembro, a sua previsão de aumento da demanda para o petróleo em 2012, de 1,1 milhão de barris por dia para um milhão de barris. A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê um consumo de 90,3 milhões de barris ao dia para este ano, com queda de 200 mil barris em relação à estimativa feita anteriormente. O Departamento de Energia dos Estados Unidos também já fez suas revisões de consumo para baixo.
O CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, acredita que a estabilidade ou uma pequena queda nas cotações, porém, não deve trazer grandes problemas para as economias árabes produtoras de petróleo e nem interferir nos projetos em andamento por lá.
"Com os preços altos que o petróleo manteve nos últimos tempos, os países acumularam reservas (financeiras)", afirma Alaby. Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria Econômica, que trabalha com cenário de estabilidade para preços do petróleo, acredita que no máximo devem ser feitas revisões dos orçamentos pelas economias árabes. "Os patamares de preços estão elevados", afirma.
O consultor e professor de Economia e Política das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Eduardo Stempniewski, acredita, no entanto, que o recuo pode interferir nas questões sociais do mundo árabe, trazendo mais protestos. "Eles têm um problema sério, que é a taxa de desemprego muito alta", afirma o professor. Menor receita vinda do petróleo deve também prejudicar a criação de projetos para geração de emprego, lembra Stempniewski, referindo-se principalmente a grandes produtores de petróleo como Bahrein e Arábia Saudita. Ele afirma que Dubai, por exemplo, que já teve problemas financeiros anteriores, pode ter que renegociar suas dívidas.
Stempniewski acredita num cenário de queda de preços do petróleo de 10% a 15%, como preveem vários analistas. A Tendências Consultoria Econômico projeta para o petróleo Brent preço de US$ 107 o barril, com queda de 3,8% sobre 2011, o que é considerado estabilidade, e de US$ 102,8 para o WTI, com crescimento de 8%. O WTI, porém, cujos contratos são comercializados na Bolsa de Nova York, teve preço menor em 2011 por causa de problemas de logística nos Estados Unidos e por isso deve ocorrer o aumento.
O analista Vitto justifica a projeção de estabilidade da Tendências. Segundo ele, os países onde o consumo é mais maduro, como os europeus, não contribuíam mais tanto com o aumento na demanda. Nos países em desenvolvimento, que já pesavam com crescimento de consumo, deve continuar havendo maior procura. "A demanda por petróleo ainda é crescente, embora em menor ritmo", diz Vitto. Na oferta haverá crescimento entre os produtores que não integram a Opep, que são países como o Brasil, Estados Unidos e Canadá. Mas o volume de oferta, segundo o analista, é muito difícil de projetar, pois está sujeita a vários fatores, alguns técnicos.
No Brasil
Há risco até de aumento de preços do petróleo, caso haja problemas com países produtores, como Arábia Saudita ou Irã. As interferências que a Líbia sofreu nos seus campos de petróleo durante seu conflito civil, por exemplo, seriam de consequências muito maiores para o mundo caso ocorressem na Arábia Saudita, lembra Stempniewski. A Líbia responde apenas por 1,5% do abastecimento de petróleo no mundo, enquanto a Arábia Saudita é o maior produtor global.
O professor das Faculdades Integradas Rio Branco lembra que, apesar da queda na receita que possa trazer para a Petrobras, companhia petrolífera brasileira, a redução de preços do petróleo seria benéfica para a economia brasileira. A commodity tem impacto direto na inflação, em função do seu alto peso em setores como transporte, interferindo assim no custo dos alimentos, entre outros produtos de consumo.