São Paulo – O Sultanato de Omã quer ampliar o comércio e os investimentos recíprocos com o Brasil. O ministro da Indústria e Comércio da nação do Golfo, Ali Al Sunaidy, disse nesta quarta-feira (03), em São Paulo, que seu país pretende desenvolver cinco setores considerados prioritários nos próximos cinco anos, e para tanto precisa garantir o abastecimento de sua cadeia produtiva e colocar seus produtos no mercado internacional.
“Temos, por exemplo, déficit de carne, principalmente carne branca, e queremos ver se podemos investir nesta área”, disse ele na abertura de uma rodada de negócios entre companhias brasileiras e omanitas na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Sunaidy está no Brasil acompanhado de uma delegação de empresários e de representantes de órgãos do governo do país árabe.
Os cinco setores prioritários são os de processamento de produtos primários ou semimanufaturados – com destaque para a indústria de alimentos; turismo, mineração, logística, e pesca e aquicultura.
No caso da carne de frango, Sunaidy contou que Omã produz apenas 25% do que consome, mas quer aumentar esse percentual para 70% no futuro, portanto o país deseja atrair empresas brasileiras para se estabelecer lá e processar ou distribuir os alimentos. “Mas nunca seremos autossuficientes”, destacou Sunaidy em entrevista à ANBA, deixando claro que o país sempre terá mercado para produtos importados.
O exemplo do frango vale para o setor alimentício em geral. Os omanitas têm interesse também em investir na produção brasileira, ampliar as importações e conhecer a tecnologia nacional na área. “Temos poucos recursos hídricos”, afirmou o ministro em entrevista à ANBA. Nesse sentido, há preocupação em garantir a segurança alimentar da população. Outros produtos que Omã tem necessidade de importar em quantidade, e pretende negociar no Brasil, são milho, soja, trigo, cevada e ração para animais.
Investimentos
Na seara dos investimentos, Brasil e Omã não são desconhecidos um do outro. A mineradora brasileira Vale tem um usina de pelotização de minério de ferro no Porto de Sohar, no país do Golfo, e o Fundo Geral de Reserva do Estado (SGRF, na sigla em inglês), o fundo soberano de Omã, tem investimentos “indiretos” em fundos imobiliários e de infraestrutura do Brasil, de acordo com seu diretor de Investimentos, Mulham Al Jarf, que integra a delegação.
“O fundo tem US$ 25 bilhões em ativos em diversos países, e está tentando fazer investimentos aqui”, declarou o ministro. Segundo ele, além das participações que já tem em fundos no Brasil, o SGRF negocia um investimento no setor portuário nacional em parceria com o Porto de Roterdã, da Holanda.
A promoção de investimentos será inclusive um dos temas da primeira reunião da Comissão Mista Bilateral Brasil-Omã, que será realizada nesta quinta-feira (04) no Itamaraty, em Brasília, com a participação de Sunaidy e sua comitiva. De acordo com o diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Itamaraty, Rodrigo Azeredo, que esteve no evento na Câmara Árabe, está prevista a assinatura de um memorando de promoção de investimentos entre os dois governos, que prevê a formação de um grupo de trabalho com representantes dos setores público e privado dos dois países.
“Este grupo vai identificar oportunidades concretas de investimentos de lado a lado, opções de financiamentos, ou seja, questões operacionais”, declarou Azeredo. Paralelamente a este trabalho, os dois países vão negociar um acordo de cooperação e facilitação de investimentos (ACI). O Brasil já enviou uma minuta de tratado ao governo de Omã, e os omanitas deverão apresentar sua contraproposta na Comissão Mista. Esse modelo de acordo foi lançado pelo governo brasileiro e, segundo Azeredo, é “mais flexível” do que os tratados tradicionais de proteção e promoção de investimentos.
Os omanitas têm interesse também em negociar um acordo para evitar a bitributação do imposto de renda. Azeredo explicou que este tipo de tratado é avaliado “caso a caso” pelo Ministério da Fazenda e pela Receita Federal.
Fazem parte da delegação omanita representantes dos portos de Sohar, Salalah e Duqm, e de empresas dos ramos de alimentos, energia e mármores. Cada um destes portos tem uma vocação, a de Sohar é a indústria alimentícia, a de Duqm é o setor petroquímico, e a de Salalah são os contêineres.
Além do abastecimento do mercado doméstico, os omanitas apostam na localização de seu país para atrair a atenção de empresas estrangeiras, oferecendo incentivos para que lá sejam estabelecidos projetos industriais e centros de distribuição destinados a atender as demais nações do Golfo e países da Ásia. Um dos chamarizes agora é o Irã, que teve sanções levantadas após ter assinado tratado sobre seu programa nuclear com potências internacionais.
Do lado brasileiro, estiveram no evento representantes de pelo menos 33 empresas e entidades setoriais. O presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, citou o nome de todas. “São companhias interessadas no comércio de duas mãos”, destacou. Ou seja, interessadas em exportar e em importar.