São Paulo – As cotações do barril de petróleo chegaram nesta semana aos valores mais baixos dos últimos dois anos devido à oferta elevada e à baixa demanda. A expectativa do setor é que os preços fiquem em torno de US$ 85 por barril do tipo Brent (negociado na bolsa de valores de Londres) pelos próximos meses. Se a tendência se confirmar, as grandes empresas petrolíferas terão de refazer seus planos de investimento e de endividamento. Até os países que são grandes produtores e exportadores mundiais terão que reduzir seus gastos.
De acordo com o diretor global de notícias da consultoria de commodities Platts, com sede em Nova York, John Kingston, os preços da commodity estão baixos porque a economia mundial está em uma “grande encrenca” e apresenta um ritmo lento de recuperação. Por outro lado, a produção e o abastecimento estão crescendo.
“Há uma baixa demanda e um crescimento muito lento no mundo todo, que ainda continua a depender da recuperação da economia dos Estados Unidos”, afirmou Kingston à ANBA.
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires também afirma que a recuperação da economia mundial está muito fraca. Ele observa que os conflitos recentes em países do Oriente Médio, como Palestina e Síria, além da crise na Ucrânia, haviam adiado a queda dos preços. Além disso, a produção está elevada nos Estados Unidos e projetos de investimento feitos nos últimos anos começam a gerar resultados e a ampliar a exploração de petróleo.
Pires observa, porém, que o preço da commodity tem altos e baixos. Teve picos em 1973 e em 1989, e quedas em 1986 e na década de 1990. Em 2008, contudo, chegou a US$ 140. Em 15 de outubro de 2012, o barril do tipo Brent era cotado a US$ 115,07. Um ano depois, estava em US$ 110,86. Nesta quinta-feira (16), fechou em US$ 86,12.
Os preços poderão continuar a cair, mas não a patamares muito baixos. A expectativa de Pires é que se mantenham em torno de US$ 80. Poderão até subir um pouco nos dias anteriores à reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), prevista para o fim de novembro. Países como a Venezuela e a Líbia querem que a produção seja reduzida para que os preços subam e aumentem suas receitas. Kuwait e Arábia Saudita, por outro lado, preferem esperar mais antes de reduzir a produção.
Com altos e baixos, os efeitos deverão ter menos impactos nos Estados Unidos. O país está produzindo petróleo a partir da extração de gás não convencional em seu próprio território, o que reduz a dependência e a influência das importações. A extração desse tipo de gás e petróleo é mais cara, porém, Kingston afirma que há produtores que podem “suportar” o petróleo cotado até a US$ 70. “Depende da tecnologia empregada na extração e a produtividade que ela gera”, diz.
Os efeitos no Brasil
Os preços baixos poderão influenciar decisões do governo e da Petrobras no curto, médio e no longo prazos. Segundo Pires, a queda do preço do barril reduz a pressão para que o governo reajuste o preço dos combustíveis, que foram mantidos abaixo do necessário para conter o aumento da inflação.
Por um lado, os preços menores também reduzirão os custos para a Petrobras. Mas, por outro lado, eles irão influenciar as receitas da estatal. “Esses preços diminuem as perdas da Petrobras, mas ameaçam os investimentos da empresa, que trabalha com uma estimativa de barril cotado a US$ 100 até 2018 e, a partir daí, estima o barril cotado a US$ 95. Se isso se mantiver, a Petrobras e as outras empresas do setor terão que rever suas estratégias de investimento”, afirma.