São Paulo – A Tunísia foi eleita como o “país do ano” pela revista semanal britânica The Economist, uma das mais influentes publicações do mundo. A transição democrática na nação árabe motivou a escolha.
“O idealismo engendrado pela Primavera Árabe afundou majoritariamente em derramamento de sangue e extremismo, com uma exceção brilhante: a Tunísia, que em 2014 adotou uma nova e esclarecida constituição, e promoveu eleições parlamentares e presidenciais”, destaca a revista. O pleito presidencial terá um segundo turno em 21 de dezembro.
“Sua economia batalha [para melhorar] e seu sistema político é frágil, mas o pragmatismo e a moderação da Tunísia têm nutrido a esperança numa região conturbada e num mundo problemático”, ressalta a publicação. “Mabruk, Tunísia!”, acrescenta o texto. “Mabruk” significa “parabéns” em árabe.
No ano passado, o escolhido foi o Uruguai, pela adoção de medidas liberais em relação às drogas e o casamento gay. Em 2013, o país anunciou a legalização da maconha e aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A revista afirma que o Uruguai teve um bom ano novamente em 2014 ao realizar uma eleição presidencial “modelo”, registrar um crescimento impressionante e receber seis ex-prisioneiros de Guantânamo, região em Cuba onde os Estados Unidos mantêm uma base militar e uma prisão para pessoas capturadas na chamada “Guerra do Terror” promovida pelo governo do ex-presidente George W. Bush na década passada.
A disputa pelo título de “país do ano” ficou, porém, entre a Tunísia e a Indonésia. Segundo a The Economist, na nação asiática que tem a maior população muçulmana do mundo, “um político moderno venceu o velho regime militarista numa votação limpa, mesmo que rancorosa”. “O novo presidente, o reformista Joko Widodo, está começando a empurrar seu país para além da encruzilhada e rumo à prosperidade”, diz a publicação.
Ao optar pela Tunísia, a revista observa que a nação do Norte da África é muito menor do que a Indonésia, “mas nós acreditamos que o simbolismo importa mais do que o tamanho”.
A Tunísia é o país onde a Primavera Árabe eclodiu. Em janeiro de 2011, uma série de protestos populares resultou na deposição do então presidente Zine El Abdine Ben Ali, que estava há mais de 20 anos no poder. A primeira eleição realizada após a revolução teve como vencedor o partido islamista Ennahdah (“Renascença”). Seguiu-se um período conturbado politicamente, com episódios violentos, até que no início deste ano o partido cedeu o poder para um gabinete formado por tecnocratas com mandato até a eleição de novas lideranças.
O pleito parlamentar foi vencido pelo partido Nidaa Tounes (“Chamado da Tunísia”), que tem o direito de comandar a formação de um novo governo. Por enquanto, o primeiro-ministro interino Mehdi Jomâa segue no cargo. O regime político da Tunísia é o parlamentarismo. A eleição presidencial será decidida entre Béji Caid Essebsi, líder do Nidaa Tounes, e Mohamed Moncef Marzouki, que é o atual presidente.
A revista ainda citou outros países que foram palco de fatos relevantes em 2014. “O pequeno Líbano merece uma menção por ter absorvido centenas de milhares de refugiados sírios, mais as maquinações de forasteiros malignos, e a ainda assim continuou a funcionar, embora por pouco”, diz o texto.
Para a The Economist, se o processo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc for bem sucedido, o país será um bom candidato ao título. Provavelmente a publicação já estava fechada nesta terça-feira (17), quando os Estados Unidos e Cuba anunciaram a retomada de relações diplomáticas.
Apocalipse
No mais, a publicação faz uma análise baixo astral do ano que termina, e cita uma séria de fatos negativos como os ataques do autointitulado Estado Islâmico na Síria e no Iraque, “o desmembramento da Ucrânia por forças russas”, a violência do Boko Haram na Nigéria e do Shabab no Chifre da África, e guerra civil no recém-criado Sudão do Sul.
“Entre a guerra, a doença e a insurreição, os últimos 12 meses pareceram frequente uma corrida de revezamento entre os quatro cavaleiros do apocalipse”, afirma o texto.