Isaura Daniel
São Paulo – Os frigoríficos brasileiros devem começar a fazer as primeiras exportações de carne bovina para a Tunísia, nação árabe do Norte da África, ainda no mês de fevereiro. O Brasil fez um acordo sanitário que permite vender carne bovina desossada, boi vivo, produtos de pescado, ovos férteis e pintos de um dia para o país. "Os primeiros embarques de carne desossada poderão ocorrer já em fevereiro", diz o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli.
O Brasil ainda não exporta esses produtos para a Tunísia. Os produtos do agronegócio que o país vende para os tunisianos são açúcar, café e óleo de soja, de acordo com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). "Agora que ficaram estabelecidas as regras, pode haver um desenvolvimento maior nessa área", diz o diretor substituto do Departamento de Saúde Animal (DSA), do Mapa, Jamil Gomes de Souza.
Com o acordo, ficaram acertadas as condições sanitárias nas quais os produtos serão vendidos. As negociações foram feitas entre técnicos dos ministérios da Agricultura dos dois países entre os dias 16 e 20 de janeiro, quando o ministro de Assuntos Estrangeiros da Tunísia, Abdelwahab Abdallah, esteve no Brasil. Também um representante do setor privado tunisiano, o presidente da Associação dos Importadores de Carne da Tunísia, Slaheddine Ferchiou, integrou o grupo. Além das negociações com o governo, o grupo visitou frigoríficos e esteve reunido com representantes da Abiec.
De acordo com Souza, foram mantidos diversos contatos durante o ano passado e, em função do interesse do setor privado, foi estabelecido o acordo. "Já fazia tempo que havia esse movimento de aproximação com a Tunísia e foi bom o governo ter feito o acerto neste momento", diz Camardelli, referindo-se ao fato de que o acordo foi realizado mesmo quando o Brasil enfrenta restrições de fornecimento para alguns mercados mundiais em função dos focos de febre aftosa descobertos no Mato Grosso do Sul no ano passado.
A Tunísia vai comprar carne bovina do Brasil, exceto produtos oriundos do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. "Eles seguem a União Européia", diz Camardelli. A União Européia está com as importações de carne fechadas para estes três estados brasileiros em função da aftosa. O diretor-executivo da Abiec acredita que o acerto com os tunisianos pode abrir outros mercados próximos do país, já que os seus consumidores poderão ter contato com a carne brasileira na Tunísia.
"A Tunísia é um mercado de 9,9 milhões de pessoas, o Brasil tem condições de suprir este mercado", diz Souza. O vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, lembra de países como o Egito e a Rússia, que passaram a ter uma importância expressiva como consumidores da carne bovina brasileira. "Eram países que tinham pouca importância como compradores e passaram a ter uma importância grande. É fundamental para o Brasil abrir novos mercados de carne bovina porque estamos aumentando nossa produção de carnes", afirma.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e exporta para 152 países. Ou seja, 80% dos países consomem a carne produzida no Brasil. No ano passado, as vendas de carnes geraram receita de US$ 3,1 bilhões para os frigoríficos nacionais, com crescimento de 22,4% sobre o ano anterior. Em volume, as vendas também cresceram 18%, de 2 milhões de toneladas em 2004 para 2,3 milhões em 2005. A Rússia foi o principal destino da carne in natura, com compras de US$ 525 milhões, seguida do Egito, com US$ 252 milhões.