São Paulo – As exportações seguirão trazendo receitas para o Brasil em 2018, mas o ano vai ser marcado pelo crescimento das importações. Especialistas ouvidos pela ANBA esperam um avanço pequeno nas vendas externas do País, com possibilidade até de estabilidade ou queda, enquanto que as importações devem ser impulsionadas pela retomada do consumo interno, com compras maiores tanto de máquinas quanto de bens de consumo do exterior.
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A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê aumento 11% nas importações e de 1,1% na exportação no ano que vem sobre 2017. Se a estimativa se confirmar, o Brasil gastará valor 14,8% maior com compras de bens de capital do mercado internacional, 7,1% maior com bens intermediários e 22% maior com bens de consumo. Estes últimos são aqueles que chegam de outros países prontos para a compra do consumidor, como carros ou eletrodomésticos.
Na cesta de importações em avanço estão produtos que o Brasil compra do mundo árabe, como derivados de petróleo e fertilizantes. “Vamos continuar aumentando as importações de fertilizantes para atender novas fronteiras agrícolas e a demanda maior”, afirmou o presidente da AEB, José Augusto de Castro. No caso de combustíveis e lubrificantes, a AEB estima um crescimento de 19,6% na importação brasileira no próximo ano.
O ano de 2017 deve terminar com saldo recorde na balança comercial brasileira. A Tendências Consultoria Integrada estima superávit de US$ 66 bilhões para o comércio exterior neste ano, valor que deverá diminuir para US$ 58 bilhões em 2018. Segundo o economista sênior da Tendências, Silvio Campos Neto, a diminuição está ligada principalmente ao fato de a economia brasileira estar reagindo, o que estimulará as importações.
A AEB espera aumento de 41,6% nas importações brasileiras de bens de consumo duráveis, categoria de produtos onde estão os automóveis. O bom momento da economia argentina promete impulsionar as exportações de carros do Brasil para o país, o que acaba fomentando também as importações brasileiras do mesmo produto da Argentina, lembra o presidente da AEB. Os países têm acordo que prevê que a cada US$ 1,00 que o Brasil importar em automóveis argentinos, poderá exportar até US$ 1,50 em carros para lá com isenção de impostos.
E a exportação?
Para as exportações brasileiras as previsões feitas pelos especialistas ouvidos pela ANBA são variáveis, mas ninguém acredita em avanço próximo ao patamar deste ano, de quase 20%. A AEB prevê avanço de 1,1% para as vendas externas do País em 2018, a Tendências estima crescimento de 4% e o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), André Leone Mitidieri, afirma que o aumento não deve passar dos 1%.
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A Tendências prevê exportações de US$ 216 bilhões para o Brasil em 2017 e Silvio Campos Neto afirma que é normal haver certa acomodação quando o patamar de comparação é alto. O economista acredita que o ano será bom para exportações de básicos como açúcar, grãos, café, minério, e também para manufaturados, já que as previsões para a economia da Argentina e Estados Unidos, que compram esses produtos do Brasil, são positivas. O crescimento chinês deve desacelerar no ano que vem sobre este ano, mas ainda assim ficará em 6,3%.
Ao estimar um avanço pequeno para as exportações brasileiras, Mitidieri, da Funcex, cita os preços das commodities, que deverão ficar iguais a 2017 ou até recuar. Apesar da previsão de 1,1% da AEB para o aumento das vendas externas, José Augusto de Castro acredita que esse percentual pode ser um pouco maior ou até ser negativo. Para a exportação de produtos básicos, que respondem por quase metade dos embarques do País, a AEB estima queda de 1,5% em 2018, por causa principalmente de soja e milho, que terão produções menores.
E os árabes?
Os especialistas têm a opinião de que as exportações brasileiras para os países árabes devem seguir em ritmo de crescimento. Nos onze primeiros meses deste ano elas avançaram 21,6%, para US$ 12,5 bilhões. A região respondeu por 6,2% das vendas externas brasileiras no período. O Brasil exporta para o mercado árabe principalmente carnes, minério e açúcar, e as perspectivas para os embarques destes produtos em 2018 não são ruins.
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De acordo com a AEB, os preços do minério de ferro devem ser 4% maiores em 2018, os das carnes bovina e de frango 1,7% e 1% mais altos, respectivamente, e as cotações do açúcar bruto devem recuar 10%. As quantidades exportadas de açúcar, porém, devem se manter. “Não há fator para vender menos para eles (os árabes)”, afirma o presidente da AEB. O economista sênior da Tendências diz que o comércio do Brasil com o mercado árabe já é consolidado e vem ganhando destaque, com o Brasil se esforçando para atender as exigências deles, como no setor de carnes.
De acordo com André Mitidieri, há expectativa de que as importações gerais dos países árabes aumentem no ano que vem, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). A recente melhora dos preços do petróleo – as cotações devem se manter estáveis em 2018 – fará com que eles exportem e também importem mais, segundo o economista.
E os riscos?
O dólar fechou em R$ 3,29 nesta quarta-feira (20). A AEB estima que a moeda norte-americana se mantenha entre US$ 3,10 e US$ 3,35 no ano que vem. Um dólar valorizado costuma favorecer as exportações e dificultar importações, enquanto que a valorização do real provoca o inverso. O câmbio é afetado por fatores internos e externos, e o Brasil terá neste ano questões importantes a enfrentar, como as eleições presidenciais e a votação de reformas no Congresso Nacional.
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Apesar de entender que as exportações dependem mais do panorama global, Neto, da Tendências, afirma que o processo eleitoral pode trazer alguma incerteza. Ele acredita, porém, que se afetar o câmbio, será com valorização do dólar, o que não é ruim para os exportadores. Apesar disso, ele lembra que muita volatilidade não é boa. No front externo, Neto vê como risco a possibilidade de aumento de juros pelos EUA caso a economia de lá cresça muito, o que costuma gerar um dólar mais alto e mexer com os mercados internacionais.
Miditieri, da Funcex, não acredita em uma valorização do dólar no ano que vem. O economista lembra que para exportação de commodities o câmbio não é um problema, mas uma desvalorização do real afetaria a indústria pois aumenta seus custos. Apesar de o dólar valorizado favorecer a venda externa, ele acredita que a questão dos custos é mais complicada.