Isaura Daniel*
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São Paulo – Um mercado que cresce 11,6% anualmente, que tem previsão de investimentos de US$ 1 trilhão e que é altamente importador. Os dados se referem ao setor de construção nos países do Golfo Arábico e dá uma idéia do cenário com o qual vai se deparar a missão empresarial brasileira da área que começa hoje (19) pelo Kuwait. A delegação, integrada por 20 empresas e entidades setoriais do país, vai ficar no Golfo até o dia 30 e visitar, além do Kuwait, também Catar e Emirados Árabes Unidos. Entre os dias 25 e 29, parte das empresas da delegação e mais outras 21 companhias brasileiras participam também da Big 5 Show, mostra do setor em Dubai.
Organizada pela Agência de Promoção das Exportações e Investimentos do Brasil (Apex-Brasil) e Câmara de Comércio Árabe Brasileira, a missão pretende ampliar as vendas do setor de construção civil à região, que somaram, segundo levantamento do Departamento de Desenvolvimento de Mercados da Câmara Árabe, US$ 30 milhões no ano passado. "O mercado de lá é muito grande e o Brasil está começando a ter uma participação", diz o presidente da Câmara Árabe, Antonio Sarkis Jr. Ele acredita que as vendas devem aumentar nos próximos anos. Da mesma opinião compartilha o coordenador da Unidade de Imagem e Acesso a Mercados da Apex, Juarez Leal. "O Brasil pode ampliar a sua participação", diz Leal.
As exportações brasileiras do segmento de construção para os países do Golfo Arábico já estão crescendo. Entre setembro e janeiro deste ano, por exemplo, ultrapassaram o total vendido em 2006 e chegaram a US$ 32 milhões. O valor, porém, ainda é pequeno diante das exportações totais do segmento, cerca de US$ 3 bilhões por ano. O mercado de construção Golfo é atualmente um dos mais promissores do mundo em função do aumento dos preços do petróleo, que geraram aumento de renda na região. As empresas brasileiras terão, na viagem, seminários e encontros de negócios, organizados em conjuntos com as câmaras de comércio e indústria locais, visitarão projetos de construção, o varejo local da área e construtoras.
O presidente da Câmara Árabe lembra que a missão deve render para as empresas brasileiras contatos com possíveis distribuidores e parceiros árabes. De acordo com Leal, da Apex, a missão terá como objetivo a prospecção de mercados, principalmente nos países não tão conhecidos do Brasil como Kuwait e Catar, e a consolidação da posição brasileira nos mercados locais, através da participação na Big 5 Show. A viagem também servirá, segundo o executivo da Apex, para trabalhar novas linhas de atuação, verificar o que é possível fazer no futuro.
Sarkis afirma que, em função das missões e participações em feiras já feitas para o Golfo nos últimos anos, hoje tanto os empresários brasileiros viajam com um maior conhecimento do que vão encontrar no mercado árabe quanto os players locais conhecem melhor o que está vindo do Brasil. De acordo com Sarkis, a Câmara Árabe vai procurar sempre organizar missões para países próximos quando houver um grande evento, como uma mostra, em alguma nação árabe. Esta missão, segundo ele, foi programada a partir da percepção de que havia demanda por parte das empresas e interesse da Apex.
Empresas
As empresas e entidades brasileiras participantes da missão serão a Braseco Comercial Exportadora, a Eurobras Construções Metálicas Moduladas, a Gabriela Revestimentos Cerâmicos, a Global Gate Comércio Exterior, a Gravia Indústria de Perfilados de Aço, a Itu Mármores e Granitos, a Palácio dos Mármores – SP Stone, a Starrett Indústria e Comércio, Minexco Importação e Exportação, a Usmatic Indústria e Comércio de Equipamentos de Irrigação, a Vitrolar Metalúrgica, a Induscabos Condutores Elétricos, a Docol Metais Sanitários, a Brazilian Gypsum, a Araupel, a Revestir Comércio e Exportadora de Pedras, a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas), o Sindicato das Indústrias de Gesso do Estado de Pernambuco (Sindusgesso), a Metro Engenharia e Empreendimentos e a Studium KI.
O grupo terá atividades no Kuwait entre os dias 19 e 20, no Catar entre 21 e 22 e a partir do dia 23 nos Emirados Árabes Unidos. A Big 5 Show, em Dubai, deve render para as empresas brasileiras, segundo projeções da Apex, negócios imediatos de US$ 8 milhões e mais US$ 25 milhões nos doze meses seguintes. A participação brasileira na mostra, em 2006, que teve 26 empresas, gerou negócios de US$ 17 milhões. A agência vai colocar em prática, na feira, a campanha "Brazil The New Alternative", que mostra o Brasil como uma nova opção para importadores e compradores da região, mostrando o diferencial competitivo da indústria brasileira e a sua forma de conduzir a realização de negócios.
Kuwait
O Kuwait, primeiro país que será visitado pela missão brasileira, é um dos grandes investidores do setor de construção no Golfo. O país, como grande produtor de petróleo e detentor de 10% das reservas mundiais da commodity, vive um acréscimo de renda. O petróleo, cujo barril vem sendo negociado no mercado mundial por mais de US$ 90, responde por quase 50% do produto interno bruto (PIB) do Kuwait. O país vive um acúmulo de poupança e economiza cerca de 28% do seu PIB, com uma poupança externa de quase US$ 200 mil per capital. Isto deixa o país em primeiro lugar em poupança, no Oriente Médio, segundo dados a empresa de pesquisas Euromonitor.
O Kuwait tem um PIB anual de cerca de US$ 100 bilhões, renda per capita de US$ 32 mil e crescimento real anual da economia de 12,7%. A população local é de 3,2 milhões de pessoas. O país exportou, no ano passado, US$ 53 bilhões, principalmente em petróleo. O Kuwait está se esforçando por diversificar sua economia, mas ainda é bastante dependente de importações. Os principais fornecedores de produtos do país são Estados Unidos, Japão, Alemanha e Arábia Saudita. Os investimentos em construção estão sendo feitos pelo governo, que aplica em infra-estrutura, e também há projetos de empresas privadas.
Catar
O Catar, segundo país que será visitado pela missão, vem se beneficiando da exploração de gás. O país árabe fez várias descobertas de gás nos últimos anos e investiu em novas tecnologias para produção da commodity. Junto com o petróleo, o gás responde por 60% do PIB, que está em cerca de US$ 60 bilhões. O Catar tem recebido vários investimentos externos e tem buscado ampliar a participação de estrangeiros na sua economia. As exportações do país ficaram em US$ 30 bilhões no ano passado e as importações em US$ 12,3 bilhões. A renda per capita do país é uma das mais altas do mundo, com US$ 62 mil em 2006. No Catar vivem 900 mil pessoas.
Uma das atrações para empresas fornecedoras do setor de construção, no país, é a lei que isenta de tarifas de importação os materiais de construção básicos, como cimento, aço e cascalho. Implantada em janeiro deste ano, a legislação vai vigorar por três anos. Ela se aplica somente a materiais importados de países não-membros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), que inclui o Bahrein, Kuwait, Catar, Omã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A escassez dos produtos que foram isentos de tarifas vinha gerando preços recordes e atrasando a execução de projetos.
Emirados
Os Emirados Árabes, terceiro país que será visitado pela delegação empresarial brasileira e no qual ocorrerá a Big 5 Show, é o grande centro comercial do mundo árabe, principalmente do Golfo Arábico. O país tem em execução atualmente projetos bilionários no setor de construção e também vem atraindo cada vez mais turistas internacionais. Enquanto que o emirado de Abu Dhabi concentra a produção de petróleo, Dubai destaca-se como centro de comércio e serviços. Em Dubai fica o centro de distribuição da Apex, criado pelo governo brasileiro, e que serve como base para empresas do Brasil distribuírem as suas mercadorias na região.
Os Emirados também atuam como intermediários na venda de produtos estrangeiros. O país é um forte reexportador. O PIB dos Emirados alcançou US$ 163 bilhões em 2006 e a renda per capita local é de US$ 35 mil. O país exportou, no ano passado, US$ 137 bilhões, principalmente em petróleo e gás, e importou US$ 81 bilhões. Os maiores fornecedores de produtos para os Emirados são Estados Unidos, China, Índia e Alemanha. Os Emirados concentram algumas das mais importantes feiras setoriais e multissetoriais da região, nas quais as empresas brasileiras têm como tradição participar.
*Colaborou Omar Nasser, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep)