São Paulo – Até o final do ano, o porto de Pecém, no Ceará, será o primeiro do país a produzir energia elétrica a partir da água do mar. Trata-se da instalação do primeiro protótipo nacional para a produção de eletricidade com base na pressão das ondas marítimas. O projeto pertence ao Instituto Alberto Luiz Coimbra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) e também realiza a dessalinização da água do mar.
Paulo Roberto da Costa, autor do conceito, diz que pesquisou projetos de geração de energia a partir do mar utilizados pelo mundo para poder criar o seu próprio modelo. Ele conta que o equipamento opera a partir da pressão das ondas marítimas, o que torna o projeto brasileiro diferenciado dos já existentes. "Ele opera em altíssima pressão. Você não precisa de tanta água para ter potência".
Para deixar o conceito mais claro, Costa, que é mestre em engenharia oceânica, explica que a pressão gerada pelo equipamento equivaleria a uma queda d’água de 500 metros. "A vantagem é que não precisa construir um reservatório. O reservatório é o próprio mar".
Os recursos para o desenvolvimento do projeto vieram da geradora de energia Tractebel, que opera no Brasil desde 1998 e pertence ao grupo francês GDF Suez. O investimento foi de R$ 12 milhões.
O protótipo que está sendo instalado no Ceará é composto por dois módulos. Juntos, eles devem gerar 100 kilowatts de eletricidade, o suficiente para abastecer 200 casas fora do horário de pico. O equipamento onshore funciona com a base instalada na costa e braços que se estendem para o fundo do mar para captar a pressão das ondas. No caso de Pecém, no entanto, o equipamento está fixado dois quilômetros mar adentro, no quebra mar do porto.
Em relação à dessalinização, ela é realizada pelo mesmo equipamento e, segundo Costa, os dois processos (geração de energia e dessalinização) podem ser realizados em momentos alternados, de acordo com as necessidades do local em que estiver instalado.
Para o processo de separação entre água e sal, cada módulo tem capacidade para processar 250 mil litros de água em 24 horas. A purificação torna a água própria tanto para consumo humano quanto para irrigação.
O protótipo do Ceará é o primeiro desenvolvido pela Coppe-UFRJ, mas o instituto também trabalha no desenvolvimento de projetos para geração de energia a partir da água marítima realizada em alto-mar. Este projeto já chamou a atenção, por exemplo, de empresas como a Petrobras, que tem interesse na geração de eletricidade para abastecimento de suas plataformas de petróleo. Segundo Costa, a companhia já realizou testes para estes projetos.
Ainda deve levar um tempo para que os módulos entrem em fase de
comercialização, pois após os testes iniciais, o protótipo passará por um período de seis meses de monitoramento. Entretanto, os projetos já estão sendo oferecidos às geradoras de energia. "A tecnologia vem sendo apresentada há uns três anos para as empresas de energia, que têm realizado testes nos produtos para o desenvolvimento de novos protótipos", conta Costa.
Para ele, os países árabes são um mercado em potencial para a tecnologia brasileira. "Temos a patente que se estende por diversos países no mundo. Temos interesse em desenvolver esse assunto e gerar novos negócios". De acordo com o engenheiro, para a geração a partir das plataformas em alto-mar, os custos da eletricidade devem girar em torno de R$ 0,25 Kilowatt/hora.