São Paulo – As economias das regiões brasileiras produtoras de grãos estão aquecidas em função dos altos preços da soja e do milho. A soja vai trazer receita de R$ 67 bilhões para o Brasil em 2012, R$ 10 bilhões a mais do que no ano passado, e o milho gerará renda de R$ 34 bilhões, R$ 8 bilhões adicionais. A injeção de capital é percebida principalmente no Centro e no Sul do Brasil, onde estão os maiores produtores destas commodities, e beneficia a indústria de máquinas, fertilizantes, além do comércio e a construção civil dos municípios produtores.
Entre os estados, o Mato Grosso é um dos mais favorecidos, pois o Sul do Brasil enfrentou estiagem no começo deste ano e por isso não teve tanta disponibilidade de grãos. “Os preços foram para patamares inimaginados, o que tem trazido ânimo para o setor e o estado”, diz o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk. Segundo ele, há mais negócios no comércio, construção civil e em alguns setores da indústria, como o de transportes.
“Existe um aquecimento natural, principalmente no interior”, afirma Tomczyk. Ele lembra que o estado tem 70% do seu Produto Interno Bruto (PIB) atrelado ao agronegócio e como boa parte dos empregos está na agricultura, a melhora se reflete no varejo. Os produtores, diz o vice-presidente, também estão investindo mais em máquinas, fertilização das lavouras e compras de novas áreas. O aumento de área na próxima safra de soja do estado deverá ser de 10%, com ocupação de alguns espaços do algodão e de campos de pecuária degradados.
Os produtores de máquinas e equipamentos agrícolas estão sentindo os efeitos da renda que soja e milho estão trazendo aos agricultores. Até o final do ano, o setor espera crescimento de 15% no faturamento, impulsionado principalmente pelas duas culturas, segundo o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Celso Casale. No acumulado do ano até julho, o faturamento nominal do segmento está em R$ 6,5 bilhões.
Casale conta que a maior renda se reflete em compra de produtos como plantadeiras e colheitadeiras, mas as aquisições não são voltadas apenas para as culturas de soja e de milho. Como os agricultores normalmente plantam também algodão, sorgo ou mesmo mantém a pecuária, acabam investindo também nestes outros setores. Apesar de ter mais dinheiro na mão, no entanto, o produtor continua optando pelo financiamento em vez de comprar com recursos próprios. Segundo Casale, o agricultor precisa de capital de giro para aumentar a produção e opta pelo financiamento para bens de capital.
Um trio caro
O trigo também está com preços elevados, mas o produto não é tão representativo no agronegócio brasileiro. A soja e o milho representam 85% da produção de grãos do Brasil, lembra o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Antonio Pinazza. “A cadeia de soja está em um momento espetacular por causa da seca nos Estados Unidos”, afirma o diretor. Os EUA começam agora a colher a soja e o milho plantados entre maio e junho e tiveram uma grande quebra de safra, elevando os preços mundiais das commodities.
Também a América do Sul teve quebra de safra de soja e milho no período 2011/2012, lembra o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eugênio Stefanelo. Somado ao trigo, que teve problemas no Leste Europeu e Austrália, são 210 milhões de toneladas de grãos a menos no mundo em função dos problemas climáticos, diz o economista, que também é técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Serão 40 milhões de toneladas de quebra de safra para a soja, 140 milhões de toneladas de perdas de milho e 30 milhões de toneladas a menos de trigo.
Stefanelo diz que mesmo com o consumo crescendo em ritmo mais lento, a redução desta oferta mundial afetou as cotações destes produtos. A soja atingiu, há cerca de duas semanas, o valor de US$ 17,95 por bushel na Bolsa de Chicago. Pinazza lembra que a exportação brasileira da commodity deve atingir neste ano US$ 30 bilhões. “Mais uma vez quem vai ser responsável por 100% do saldo da balança comercial do Brasil é o agronegócio”, diz Stefanelo.
Futuro
O professor da UFPR acredita que soja e milho se mantêm com preços elevados até o final deste ano. “Eu diria que até o final de 2012 a soja continua superior a US$ 15,50 o bushel em Chicago”, diz Stefanelo. No ano que vem as cotações devem estar mais baixas. “Se a América do Sul colher 150 a 154 milhões de toneladas no ano que vem e Estados Unidos plantar uma maior área de soja, o preço da soja deve ficar entre US$ 12 e US$ 15 o bushel”, afirma. A soja da América do Sul, plantada nos próximos meses, é colhida a partir de fevereiro.
Já o milho deve ter plantio menor ano que vem em função da soja, que se mostra mais atrativa para os produtores, mas pode ter aumento de área na safrinha, período em que o espaço da lavoura não concorre com a soja. Se Estados Unidos aumentarem o plantio de milho e tiverem uma safra normal, os preços do milho devem cair paulatinamente no ano que vem.
Problemas climáticos para safras de milho, trigo ou soja no ano que vem, no entanto, alerta Stefanelo, podem ser catastróficos para o abastecimento mundial, se refletindo nas cadeias de carne, leite e impossibilitando países mais pobres de manter suas produções de animais.