São Paulo – Produtividade é a palavra mágica quando se fala do futuro da indústria, segundo analistas. Para se tornar mais competitivo, o Brasil precisa buscar maior produtividade, ou seja, produzir mais, com mais qualidade, custos menores e ainda assim gerar mais empregos.
Nessa seara, o governo tem uma responsabilidade enorme, principalmente no que diz respeito à redução de custos, pois dele dependem a diminuição da carga tributária, a taxa de juros, educação para formar mão de obra e boa parte dos investimentos em infraestrutura. Mas as empresas privadas têm também que fazer seu papel e estão fazendo pouco.
"Precisamos de produtividade, não só a indústria, mas nossa economia como um todo. Precisamos produzir mais, ganhar mais, ser mais dinâmicos”, destacou Julio Gomes de Almeida, do Iedi. "É dever do estado melhorar a infraestrutura, qualificar mão de obra, etc., mas o setor privado tem que investir mais, em tecnologia, máquinas novas, em eficiência", acrescentou.
Nesse sentido, a inovação é tida como essencial, mas no Brasil são baixos os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, estão na casa de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Há recursos para a área em agências de fomento como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mas eles são subutilizados.
Flávio Castelo Branco, da CNI, ressaltou que o investimento varia muito de setor a setor e de empresa a empresa, mas, em geral, as empresas grandes são "mais arrojadas" nesse quesito, enquanto que as médias e pequenas aplicam menos recursos em inovação, até por falta de informação sobre a existência das linhas de financiamento.
É o que diz também Clayton Campanhola, da ABDI. "Nenhum país chegou lá sem investimento em ciência e tecnologia", declarou. "Mas, ter recursos não quer dizer que o problema esteja resolvido", acrescentou.
Segundo ele, entre pequenas e médias companhias há até "desconhecimento dos processos" para conseguir crédito junto ao BNDES e Finep. Para tentar instruir as empresas, a agência vai lançar um guia eletrônico sobre os instrumentos existentes de financiamento. "Isso é um grande gargalo, a falta de informação", destacou. Para Evaldo Alves, da FGV, é preciso também "usar mais as universidades".
Gestão
Mas não é só na produção em si que a produtividade tem que avançar. Alves, da FGV, disse que isso inclui adotar novas formas de gestão nas empresas e qualificar toda a cadeia produtiva. "Às vezes a empresa pode estar perdendo espaço por questões não ligadas ao produto. Por exemplo: o cliente ser maltratado na loja de automóveis. Um vendedor pode estragar todo o esforço da cadeia", ressaltou.
Nessa linha, Castelo Branco destacou que companhias que oferecem algum diferencial em relação às concorrentes, seja em design, ou até em marketing, levam vantagem. "A Alpargatas, por exemplo, tem capacidade de inovar e diferenciar", afirmou, referindo-se à fabricante das sandálias Havaianas. "As pessoas aceitam pagar mais por elas do que por um produto semelhante [de outra marca]", acrescentou.
Para ele, as empresas mais bem sucedidas têm trabalhado com essa “mistura de design focado no cliente e estratégia de marketing”. “Esse é um fenômeno menos setorial e mais de estratégia da cada empresa”, declarou. Ou seja, independentemente do quadro econômico, o modelo de negócios faz a diferença.
Além da inovação e da gestão, outro diferencial competitivo é a própria área de atuação. A escolha de uma atividade em que o País por si só tem vantagens comparativas, seja pela disponibilidade de matérias primas, características do mercado ou outros fatores, é um bom começo.
Entre esses segmentos, segundo os analistas, estão os de fármacos, alimentos e bebidas, de bens de consumo duráveis – inclusive áreas que hoje estão em baixa, como as de têxteis e confecções e a de móveis -, de tecidos “inteligentes”, automação bancária, biotecnologia, biocombustíveis, produtos para petróleo e gás, energia e mineração, alcoolquímicos e nanotecnologias, como, por exemplo, as já usadas no ramo de cosméticos. “É apostar onde o País pode ser liderança”, disse Campanhola.
Leia sobre áreas que crescem no link "O destaque é o mercado interno".