São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (15), na abertura do Fórum Econômico Mundial (FEM) na América Latina, no Rio de Janeiro, que o Brasil será uma das primeiras e mais resistentes economias a sair da recessão mundial. Para os participantes do primeiro dia do encontro, segundo a Agência Brasil, a atual crise é diferente das vivenciadas em décadas anteriores pela região e a América Latina precisa encontrar as próprias respostas.
“Eu passei 20 anos da minha vida carregando uma faixa e gritando na rua, nas portas de fábrica, nos palanques: ‘Fora FMI’. E nesses dias chamei o meu ministro da Fazenda e disse para ele: ‘Nós vamos emprestar dinheiro para o FMI.’ Nós agora não somos mais devedores, nós agora queremos ser credores e queremos emprestar dinheiro para o FMI, sob a condição de que esse dinheiro emprestado possa servir para ajudar a economia dos países mais pobres e dos países em desenvolvimento”, afirmou o presidente brasileiro.
Segundo a Agência Brasil, Lula acrescentou que o Brasil tem tomado medidas consistentes contra a crise financeira mundial e que o impacto da turbulência econômica não significará um período de recessão no país como já ocorreu no passado. "Faremos qualquer coisa para evitar que o país volte à estagnação da década de 1980, da década 1990", disse.
De acordo com a Agência Brasil, o presidente declarou que o país adotou medidas para conter a contração, estimulando o crédito, o consumo por meio da redução de impostos e a produção. Para ele, o Brasil "foi o último a entrar na crise" e com essas medidas "será o primeiro a sair".
Ele manifestou preocupação com os impactos da crise sobre os mais pobres, principalmente sobre o emprego. Para o presidente, a miséria no mundo só terá fim quando a distribuição de renda crescer paralelamente ao desenvolvimento econômico. Lula voltou a defender mudanças no sistema financeiro internacional.
“No encontro de hoje e de amanhã com a comunidade empresarial, essas preocupações devem estar no centro de nossos debates. A iniciativa privada é parceira fundamental para desenhar um novo modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável”, destacou Lula.
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, acrescentou, também no Fórum, que o comando de Lula na área econômica ajudou o Brasil e serve de exemplo para outros países da região. De acordo com material publicado no site do FEM, ele declarou que seu país também fez grandes esforços para ganhar a confiança de seus próprios cidadãos e dos investidores internacionais. Para Uribe, a confiança será um ingrediente vital quando a crise passar. “Quando a crise acabar, os investimentos serão feitos naqueles países onde há maior confiança”, destacou, segundo o site do evento.
“O Brasil e a América Latina não são um problema, mas uma solução para os desafios do mundo. Considerando os recursos naturais, as instituições maduras e a mão-de-obra qualificada, nós estamos prontos para receber investimentos e para atender às necessidades do mercado”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Sadia e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ainda de acordo com o site.
A vice-presidente para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, Pamela Cox, destacou que a região tem o duplo desafio de enfrentar a pobreza e as desigualdades, mas hoje "está melhor equipada para enfrentá-las".
Consenso
Para o ex-presidente do Banco Central do Brasil Armínio Fraga, a América Latina não pode ir atrás das mesmas soluções adotadas pelo G-7 (grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo). “Não é como as que estamos acostumados, não é uma crise política, de balança de pagamentos, de inadimplência ou de inflação. Também não temos o tipo de bolha de alavancagem que vemos noutras regiões e, por isso, não podemos buscar as mesmas soluções adotadas pelo G-7”, disse ele, segundo a Agência Brasil, ao debater sobre o cenário econômico regional para 2009.
No entender de Ricardo Marino, diretor do Itaú/Unibanco, não é uma questão de crise estrutural na região, mas uma “contração cíclica exportada de fora”. Para Marino, a América Latina está menos vulnerável devido aos ajustes macroeconômicos da década passada. Mas, nem por isso, não corre riscos. Entre os temores manifestados no encontro está o crescimento do desemprego.
“Estamos vendo ou veremos logo taxas de desemprego de dois dígitos”, alertou Felipe Lorrain Bascuñán, professor de Economia da Universidade Católica do Chile. Ele destacou o papel do Estado não apenas na criação de novas vagas, mas também na capacitação dos trabalhadores para preservação do emprego. Ele defendeu a importância de subsídios para a criação de novas vagas de trabalho, ainda de acordo com a Agência Brasil.
O diretor da Iniciativa para a América Latina do Brooking Institute, dos Estados Unidos, Mauricio Cárdenas, disse que os incentivos públicos são bem vindos, mas que é preciso tomar cuidado com as políticas de subsídios a determinados grupos ou setores. “Temos que tomar cuidado para que, em um segundo momento, estes setores ou grupos possam se manter com suas próprias pernas”, alertou.
Já Alícia Bárcena Ibarra, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), considerou importante a proteção aos investimentos na região. “Apesar de estamos perdendo um pouco de receita, temos que proteger os investimentos.” Ela defendeu também maior diálogo entre governo e iniciativa privada. “É muito importante a coordenação entre o que os governos pretendem fazer, o setor produtivo e o privado. Estamos vendo governos anunciando medidas sem ouvir o setor privado”, disse, segundo a Agência Brasil.