São Paulo – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu a continuidade da política externa do governo brasileiro, independentemente de quem seja o vencedor da eleição para presidente em outubro. “Minha convicção é que a política externa não vai se alterar”, afirmou o chanceler, na noite desta sexta-feira (13), antes de jantar em sua homenagem oferecido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
“Mesmo aquelas pessoas com menor sensibilidade do ponto de vista político e cultural, ou que não têm interesse na paz mundial, que acham que a gente não deveria se envolver, não vão poder abandonar [a política externa]”, declarou Amorim.
Para ele, os benefícios da aproximação promovida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com outros países em desenvolvimento, especialmente do Oriente Médio e África, “são tão óbvios”. Como exemplo, ele citou o aumento do comércio do Brasil com o mundo árabe, que saiu de pouco menos de US$ 5 bilhões em 2003, primeiro ano do primeiro mandato de Lula, para mais de US$ 20 bilhões em 2008.
“Os aspectos materiais são muito fortes”, disse. Ele ressaltou que, além da exportação de alimentos, empresas brasileiras vendem produtos de alto valor agregado, como aviões e veículos terrestres, além de realizarem investimentos industriais na região. O Brasil tem também atraído investimentos árabes. “Acho que a política será mantida, seria muito pouco sensato abandoná-la”, acrescentou.
A política externa do governo tem sido criticada pelo principal candidato da oposição à Presidência, José Serra (PSDB), ex-governador de São Paulo. Ele e a candidata da situação, Dilma Roussef (PT), ex-ministra da Casa Civil de Lula, são os dois candidatos mais bem avaliados nas pesquisas de opinião.
Questionado se permanecerá no ministério caso Dilma vença, Amorim afirmou que “isso não é importante”, mas sim que o governo tenha a cara do governante e que a área internacional “é a cara do governo fora do país”. “Acho que ela (Dilma) tem que ter total liberdade para escolher seus assessores”, afirmou. “O que é importante é que a linha [política] permaneça, e acho que ela vai permanecer”, destacou.
Mais acordos
Enquanto o governo Lula não acaba, Amorim disse que é possível fazer ainda mais na seara das relações com os países árabes. Atualmente o Brasil está na presidência rotativa do Mercosul e Amorim acredita, por exemplo, que a negociação de livre comércio com a Jordânia “pode avançar e até ser concluída”. Na semana passada, o bloco sul-americano firmou um tratado do gênero com o Egito, o primeiro com um país árabe.
O chanceler acredita também que um acordo quadro para iniciar uma negociação semelhante com a Síria pode ser assinado até o final do ano.
Sobre outras tratativas do gênero já iniciadas, como com o Marrocos e o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), Amorim não fez previsões, mas disse que espera que o Brasil possa contribuir para que eles avancem. O GCC é composto por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar, Kuwait e Omã.
No caso dos países do Golfo, o acordo emperrou por causa da resistência da indústria petroquímica do próprio Brasil em aceitar a redução de tarifas para importação de petroquímicos da região. Amorim afirmou que há também resistência no lado árabe no ramo de alimentos, especialmente dos produtores de carne de aves.
Ele ressaltou, porém, que em um caso como este “é preciso um pouco de audácia”, e citou o exemplo da negociação com o Egito, que foi facilitada pelo empenho pessoal do ministro da Indústria e Comércio do país árabe, Rachid Mohamed Rachid.
O chanceler destacou, por exemplo, que, se o acordo com o GCC não caminha na área de bens, pode-se avançar nas áreas de serviços e investimentos. Para ele, negociações assim são como uma “pescaria”, algumas vezes o retorno é fácil, mas em outras é preciso jogar a rede novamente. “É algo que exige tempo”, concluiu. (Veja abaixo vídeo com trechos da entrevista e imagens do evento)