São Paulo – Diplomatas, representantes de órgãos públicos e técnicos de países árabes e sul-americanos se reuniram na semana passada, em Recife, para preparar o encontro de ministros das áreas de ciência, tecnologia e recursos hídricos das duas regiões que vai ocorrer nos dias 16 e 17 de novembro em Riad, capital da Arábia Saudita, como parte do diálogo América do Sul-Países Árabes (Aspa).
Um dos temas discutidos foi a promoção de investimentos bi-regionais na área agrícola baseados nas vantagens competitivas de cada país. De acordo com a declaração final do encontro, o incentivo aos investimentos em agricultura, agroindústria e no comércio de bens agrícolas, calcados na competitividade de cada nação nesse setor, pode ajudar na economia de água onde ela é escassa e garantir a segurança alimentar.
Segundo informações do Itamaraty, a proposta foi feita por representantes da Arábia Saudita. O país árabe, de clima árido, adotou uma estratégia de reduzir suas plantações com vistas a preservar seus recursos hídricos para consumo humano.
Por outro lado, os sauditas têm anunciado investimentos em agricultura em outros países como forma de garantir o abastecimento do seu mercado. Outros países árabes, como os Emirados Árabes Unidos, estão lançando mão dessa prática também.
A idéia é usar o capital de onde ele é abundante – por exemplo, nos países do Golfo Arábico – para o desenvolvimento de projetos agrícolas onde existam tecnologia, terras disponíveis a abundância de água, como no Brasil e outras nações da América do Sul.
Esse foco de cooperação, segundo o Itamaraty, vai ser tratado em duas frentes. Do ponto de vista da gestão dos recursos hídricos ele será debatido pelo Comitê de Ciência e Tecnologia, uma das comissões criadas a partir da 1ª Cúpula Aspa, ocorrida em 2005, e de outros encontros bi-regionais que se seguiram. Já o tema dos investimentos propriamente ditos ficará a cargo do Comitê de Cooperação Econômica.
Água e deserto
Participaram da reunião na capital pernambucana, de acordo com o Itamaraty, representantes da Argélia, Arábia Saudita, Marrocos, Iêmen, Sudão, Iraque, Catar, da Liga dos Estados Árabes e do Brasil. Argentina e Venezuela enviaram propostas ao encontro.
As discussões se concentraram nas formas de cooperação em gestão de recursos hídricos e contenção do avanço da desertificação, que serão os principais temas também da reunião ministerial em Riad. Entre os destaques da declaração final está um projeto apresentado pela Liga Árabe batizado de “Monitoramento e Avaliação da Degradação do Solo no Mundo Árabe e na América do Sul” (Lamaarsa, na sigla em inglês).
Nessa seara, a delegação brasileira ofereceu cooperação em quatro áreas: o monitoramento ambiental via satélite no mundo árabe, uma vez que o país dispõe de tecnologia e equipamentos para tanto; a criação de um sistema para prevenção de secas; pesquisas sobre áreas secas e semi-áridas; e desenvolvimento de tecnologia de dessalinização.
Os delegados discutiram ainda outros assuntos correlatos, como temas sócio-ambientais; capacitação profissional; articulação entre os governos nessa área; redução da pobreza; reabilitação de áreas degradadas; uso de reservatórios de água subterrâneos para a agricultura; gerenciamentos de bacias hidrográficas; bancos de sementes; gerenciamento agroecológico; policulturas; gerenciamento de resíduos; troca de informações; irrigação; utilização de água de reuso; transferência de tecnologias; assinatura de acordos internacionais no setor; organização de fóruns internacionais; criação de um site na internet; entre outros.