São Paulo – Está em cartaz na Galeria Marilia Razuk, em São Paulo, a mais recente exposição do artista Hilal Sami Hilal. Brasileiro descendente de sírios, Hilal compõe suas obras com material que ele mesmo produz. Além de utilizar composições exclusivas, o artista tem como característica sempre retratar as relações afetivas nos seus trabalhos. Mesmo que esse sentimento seja mostrado de forma abstrata.
"Se você me dá um lençol, uma roupa velha rasgada que não terá mais nenhum uso, corto esse tecido de algodão em tiras finas, faço uma pasta de celulose com água e, depois que secar, faço meu trabalho sobre este papel. Essa obra terá o seu nome porque a sua atitude ficou na minha lembrança", exemplifica o artista.
Em sua exposição mais recente, "Território do possível", Hilal trabalha com a imagem do pai. Não só do seu pai, mas também de um pai menos "concreto", um pai que não cumpre com os conceitos "básicos" de proibição e proteção que um pai representa a seu filho.
"É sobre a ausência do pai na modernidade. A ciência tenta criar um caminho, mas não dá conta. A religião também não ocupa o lugar do pai e o governo também não. O que me sobra é a psicanálise, a filosofia e a arte. São segmentos que não criam dogmas absolutos", diz.
Hilal diz que a cultura árabe influenciou na poética do seu trabalho. "A questão do exílio, da falta de uma pátria, dos exilados ‘voluntários’ que vieram para o Brasil influenciam. Antigamente os imigrantes tinham problemas com a discriminação", recorda. "Para nós, descendentes de árabes, os núcleos familiares são fundamentais. A minha vida é a minha família. Hoje não consigo pensar que estou distante dos meus filhos, dos meus familiares."
Hilal reconhece que suas obras podem parecer tristes. Mas procura compensar a melancolia com o uso de uma cor frequente. "Acho que o azul é estimulante e o utilizo bastante", diz. Quanto aos materiais, papel e cobre são recorrentes nos seus projetos.
Com uma agulha, ele desenha e escreve sobre uma placa de parafina. Depois, coloca a massa de papel sobre a parafina e a tinta. Cerca de três dias depois, o papel e a tinta estão secos e são retirados da placa de parafina. Os desenhos feitos naquela placa e a tinta que invadiu os sulcos dela ganham relevo no papel. O uso da técnica não é ocasional. "Sempre gostei de trabalhar com aquarela e gravura, e essa impressão fica neste procedimento", diz Hilal.
Ele aprendeu a fazer a massa de papel em 1977 e aperfeiçoou seus conhecimentos em duas viagens ao Japão. "Lá, conheci oficinas com mais de 600 anos", recorda. Um pintor que usa tinta óleo em seu quadro compõe o que se chama de "óleo sobre tela". "Eu faço papel sobre parafina."
Já o uso de cobre é mais recente. Ele começou a usar o metal no ano 2000. Da mesma forma que desenha na placa de parafina, faz suas criações em uma fina folha de cobre. Depois, esta folha é imersa em uma solução de ácido. Após poucos segundos, retira a folha de cobre do ácido e coloca para secar. Todas as obras expostas na galeria Marilia Razuk são recentes. As mais antigas datam de 2007.
Escultores do século XVIII, por exemplo, utilizavam uma matéria-prima "pronta", o bronze, que seria esculpida. Hilal "cria" parte do material que usa em sua obra de arte, mas não abandona suas raízes árabes no tema do seu trabalho.
Serviço
A exposição "Território do possível", de Hilal Sami Hilal, fica em cartaz até 23 de abril na Galeria Marilia Razuk, na Rua Jerônimo da Veiga, 131B, no Jardim Europa. De 2ª a 6ª, das 10h30 às 19h e, aos sáb., das 11h às 15h. Informações pelo telefone 3079-0853. Entrada grátis.