Isaura Daniel
São Paulo – Os produtores brasileiros de calçados exportaram produtos de maior valor agregado no ano passado. O preço médio do calçado nacional enviado ao exterior passou de US$ 9,98 entre janeiro e novembro de 2005 para US$ 10,32 nos mesmos meses de 2006. O esforço das fábricas de calçados para vender um produto de maior qualidade foi elogiado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, na abertura da Couromoda, feira do setor que começou ontem (15), no Parque Anhembi, em São Paulo. "É impressionante a melhoria na qualidade, design e posicionamento (de marca) conseguido pelo setor calçadista nos últimos quatro anos", afirmou Furlan.
Entrar em nichos mais exigentes e sofisticados foi a solução encontrada pelos produtores de calçados para fugir das dificuldades geradas pelo câmbio brasileiro, desfavorável para as exportações. De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, parte do aumento do preço médio foi reajuste, em função do câmbio, e parte foi qualificação do produto exportado. "Muitas empresas brasileiras, para continuar crescendo, resolveram agregar valor ao produto exportado, agir de forma mais direta nas vendas e exportar com marca própria", afirma o diretor-executivo. Um melhor design e matérias-primas mais qualificadas são características destes calçados agora mais exportados.
Klein lembra, por exemplo, que mercados mais receptivos ao calçado de maior qualidade, como Europa e Oriente Médio, tiveram um melhor desempenho em 2006 do que mercados do calçado tradicional, como Estados Unidos. Com o real valorizado, os fabricantes precisaram fugir de mercados onde o preço baixo é fator decisivo. E de fato, enquanto o faturamento das exportações de calçados caiu 1% entre janeiro e novembro do ano passado em relação ao mesmo período do ano anterior, o volume das vendas internacionais caiu 4%. O Brasil exportou 164,9 milhões de pares de calçados nos onze primeiros meses de 2006, o que gerou US$ 1,7 bilhão. O presidente da Couromoda, Francisco Santos, afirmou que o Brasil deve continuar crescendo na exportação de calçados de maior valor agregado.
"O setor está andando para frente, ocupando espaços no mundo inteiro, e não esperando apenas medidas do governo", elogiou Furlan. O governador do estado de São Paulo, José Serra, que também esteve presente na abertura da mostra, afirmou que foi o setor de calçados um dos primeiros nos quais o Brasil se afirmou no exterior como produtor de qualidade. "A exportação de calçados voltou no ano passado aos níveis de 2002 e 2003, que foram anos muito bons, graças à criatividade do setor e ao seu espírito de luta", afirmou Serra. O presidente da Abicalçados, Elcio Jacometti, lembrou que o desempenho do setor é também resultado do trabalho de promoção comercial. As empresas de calçados brasileiras participaram de 22 feiras no mercado internacional no ano passado.
A cadeia do calçado, que engloba desde a produção de matéria-prima até as lojas do setor, movimenta R$ 42 bilhões por ano. A Couromoda é responsável por 25% da comercialização de calçados no Brasil. É nela que as indústrias de calçados e artefatos apresentam as suas coleções outono-inverno. A mostra deste ano deve receber 60 mil visitantes, entre os quais quatro mil estrangeiros de 65 países. Um total de 1,2 mil expositores estão mostrando três mil marcas na Couromoda. Entre os estados brasileiros, 20 estão representados.
Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul, estado que responde por 70% da produção nacional de calçados, esteve na abertura da mostra. Também o prefeito de São Paulo, Gilberto, Kassab, e o presidente da Agência de Promoção das Exportações e Investimentos do Brasil (Apex), Juan Quirós, entre outras autoridades regionais e nacionais, participaram da abertura da feira.