Geovana Pagel
São Paulo – "O Brasil é o espaço, é o país, é o povo, é o conjunto civilizatório mais engajado no diálogo internacional pela paz", disse o ministro da Cultura, Gilberto Gil. Em entrevista exclusiva à ANBA, Gil falou da possibilidade de o Brasil se tornar sede do Programa Mundial de Diálogo entre as Civilizações, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU), e um dos principais articuladores do entendimento entre os povos árabes e as nações ocidentais.
"A gente percebe que, hoje em dia, um dos grandes gargalos deste diálogo, um dos grandes nós na garganta deste diálogo é exatamente a conversa entre as civilizações árabes e as outras nações do mundo, especialmente a civilização ocidental", disse Gil.
Segundo o ministro da Cultura, o Brasil tem condições de assumir esse papel porque o país abriga representantes de todos esses grupos, convivendo em paz. "O país representa uma interlocução qualificada nessa conversa franca, aberta e intercultural profunda entre os vários povos, entre os vários conjuntos civilizacionais", disse.
Amanhã, o ministro brasileiro vai cantar no show pacifista em Nova Iorque em homenagem ao embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que ocupava o cargo de representante especial da ONU naquele país, morto há um mês num atentado a bomba em Bagdá. "Eu estou indo com muita honra e com muito gosto", disse.
Ele contou que recebeu, na semana passada, a visita da diplomata Annick Thebia-Melsan, coordenadora do Programa Mundial de Diálogo entre as Civilizações, desenvolvido pela ONU e instalado a partir dos acontecimentos do 11 de setembro, nos Estados Unidos. De acordo com Gil, a idéia da coordenadora é que a sede do programa seja no Brasil. "Como Melsan e outras representações entendem, na ONU e no mundo inteiro, hoje o Brasil é o espaço mais engajado neste diálogo pela paz mundial".
"O Brasil tem as grandes civilizações indígenas pré-modernas, as civilizações africanas pré-modernas, a civilização européia antiga e moderna, as civilizações ocidentais modernas industriais, todas ligadas a ele", explicou. "Portanto, o Brasil tem ligações com este mundo todo e é um espaço privilegiado para o desenvolvimento deste diálogo."
Países árabes
Recentemente, Gil esteve em Marrocos e na Tunísia e ficou impressionado com o que encontrou nos dois países árabes. "São países muito interessantes, primeiro por causa do traço distintivo dos seus povos. São povos muito próprios, são africanos do Norte, do ponto de vista étnico racial. Eles são uma intermediação entre a África profunda e a Europa, são povos morenos, negros. Morenos com várias tonalidades que vão do claro até o mais escuro", descreveu.
De acordo com o ministro, do ponto de vista cultural, a civilização árabe é importante para todo o mundo, apresentando uma grande influência na Europa, na Ásia e em todas as Américas "São povos com uma cultura riquíssima e exuberante em vários sentidos, dos quais muitos dos valores da nossa civilização se originaram, como a matemática e a astronomia", exemplificou.
"Têm uma arte extraordinária, tanto a arte pictórica, quanto as artes cênicas, artes plásticas, danças, música e escultura. A arquitetura, em especial, exerce uma influência mundial importante. Na Índia, por exemplo, o Taj Mahal é uma construção arquitetônica de referência árabe."
Troca cultural
Sobre a importância do intercâmbio cultural na aproximação entre o Brasil e os países árabes, o ministro garantiu que não há intercâmbio comercial, nem técnico, nem científico, nem de nenhuma outra ordem sem o cultural.
"O primeiro é o cultural, que é o contato, a fala." Segundo ele, quando dois povos diferentes se encontram eles têm de se comunicar. E ao se comunicarem estão estabelecendo contextos de relação cultural imediatamente. "O aprofundamento do relacionamento cultural desemboca em mais possibilidades de intercâmbio comercial, científico e educacional", destacou.
Em relação à viagem agendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para países árabes do Oriente Médio e Norte da África em dezembro, com o objetivo de estreitar relações comerciais, o ministro disse que como os árabes valorizam muito este contato pessoal, este será um ponto muito favorável na iniciativa do governo federal. Já o papel do Ministério da Cultura será incentivar sempre possíveis intercâmbios culturais que possam ser estabelecidos com os países árabes.