Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (22), durante almoço com o presidente libanês, Michel Sleiman, no Itamaraty, em Brasília, que “o Brasil quer ver o Líbano recuperar seu lugar como porta privilegiada de acesso aos investimentos e ao comércio no mundo árabe”. “Queremos consolidar o papel de Beirute como plataforma para os negócios brasileiros”, declarou.
Nesse sentido, segundo informou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, será criado um Conselho Empresarial Brasil-Líbano para explorar as oportunidades de negócios. Um dos objetivos é buscar um maior equilíbrio na balança comercial, bastante superavitária para o lado brasileiro.
"Desde o início de meu governo, nosso comércio triplicou, chegando a US$ 300 milhões", afirmou Lula. “Temos agora o desafio de equilibrá-lo. Parte da resposta está na diversificação da pauta de exportações libanesas”, acrescentou. “A balança é muito favorável ao Brasil, precisamos comprar mais”, disse o presidente mais tarde, em entrevista coletiva.
Miguel Jorge esteve em Beirute na semana passada, à frente de uma missão empresarial, e assinou um memorando de entendimentos com o governo libanês sobre comércio e investimentos que, de acordo com Lula, “vai multiplicar os resultados que já estamos colhendo”. Jorge citou azeite e frutas secas como exemplos de produtos que os libaneses podem vender mais ao Brasil.
Sleiman, por sua vez, disse que a relação econômica do Líbano com o Brasil é “avançada” e “fortalecida pelos acordos que foram assinados nos últimos anos”. Hoje foram assinados acordos de cooperação nas áreas de esporte e políticas sociais. Ele declarou, porém, que, apesar dos avanços, as relações econômicas “não se comparam nem de perto com as relações políticas e humanas”.
O presidente brasileiro destacou também o papel de seu colega libanês na busca de soluções para os conflitos no Oriente Médio. “Sua liderança se inspira na trajetória do saudoso companheiro Rafik Hariri, que sacrificou sua vida à causa que estava mais próxima do seu coração: fazer do Líbano um exemplo de tolerância e prosperidade para todo o Oriente Médio”, ressaltou.
Lula destacou a visita que Sleiman fez a Damasco, na Síria, como parte dessa busca. As relações entre a Síria e o Líbano são delicadas. "Essa é a agenda de paz e reconciliação que nossos países estão levando ao Conselho de Segurança", afirmou o presidente brasileiro, referindo-se ao fato de que Brasil e Líbano são atualmente membros temporários do Conselho de Segurança da ONU.
De acordo com Lula, "não haverá reconciliação na região sem um Líbano vivendo em harmonia com seus vizinhos" e "nem haverá conforto para o sofrido povo libanês enquanto perdurar o conflito árabe-israelense, a questão dos refugiados palestinos e as indefinições sobre o programa nuclear iraniano".
"Estou convencido de que a paz está ao nosso alcance. É com a mesma confiança no diálogo que irei em maio para Teerã", afirmou Lula. O governo brasileiro busca ter uma maior participação nas negociações dos conflitos no Oriente Médio.
Sleiman acrescentou que os dois países devem trabalhar juntos no Conselho de Segurança para promover o entendimento e as soluções negociadas para os conflitos internacionais.
Ele declarou que seu país continua a necessitar do apoio do Brasil e da comunidade internacional para enfrentar desafios ainda existentes, como o receio de novos ataques israelenses, a recuperação de territórios libaneses ainda ocupados por Israel e o terrorismo.
Sleiman disse que a ONU deveria ter um papel "mais eficaz" na negociação de conflitos, defendeu mudanças no Conselho de Segurança para lhe dar maior representatividade e elogiou a busca do Brasil por um assento permanente no órgão.
O presidente do país árabe destacou também que os libaneses que imigraram ao Brasil e seus descendentes "fortalecem e complementam" a ligação entre os dois países e criam perspectivas de futuras parcerias em diferentes setores. A imigração libanesa no Brasil está completando 130 anos e Lula ressaltou que os descendentes destacam-se no Brasil como políticos, médicos, arquitetos, engenheiros, artistas e cientistas. Miguel Jorge brincou que o futuro Conselho Empresarial Brasil-Líbano vai ser formado por libaneses dos dois lados, dado o tamanho da comunidade de origem libanesa que vive no Brasil.
Muitos representantes da comunidade de origem árabe estavam no almoço, como o próprio Jorge e o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin. A visita de Sleiman segue amanhã, em São Paulo.