São Paulo – O mundo que surge em decorrência da pandemia do coronavírus deverá ser cada vez mais conectado pela tecnologia e pelos relacionamentos, precisará ser cada vez mais sustentável e integrado, de acordo com as apresentações dos participantes do painel “O Futuro é Agora – perspectivas para o Brasil e os países árabes no novo cenário global”, apresentado nesta segunda-feira (19) pelo Fórum Econômico Brasil & Países Árabes organizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Mediadora do encontro, a professora especialista em Oriente Médio da Central Saint Martins University of the Arts London, Ghadah Alharthi, abriu o encontro com o desafio para os palestrantes convidados: “Trabalhar de forma isolada no mundo não é razoável do ponto de vista político e econômico e a crise de saúde nos mostra isso”, afirmou.
Diretor-presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, o embaixador Rubens Barbosa analisou o atual contexto geopolítico internacional e reconheceu que há uma escalada nas tensões entre Estados Unidos e China e observou que o mundo está diante de três grandes desafios que passam pelo comércio internacional: novas tendências do mercado internacional; as perspectivas para a Organização Mundial do Comércio (OMC); e as novas incertezas que vão afetar o desempenho do comércio internacional. “Deveremos ter tensões no agronegócio do lado da oferta e da demanda e o Brasil está atento às questões de segurança alimentar e sanitárias”, afirmou.
O secretário-geral adjunto para Assuntos Econômicos da Liga Árabe, observou que a nova ordem que começa a se estabelecer em decorrência da pandemia vai incentivar o intercâmbio de ideias e o surgimento de diversas oportunidades e trocas de experiência. Ele disse que, especificamente na relação do Brasil com países árabes, há oportunidades de se ampliar o comércio marítimo e aprofundar as trocas comerciais. “O comércio ainda é tímido e se concentra em fosfatos e petróleo (pelo lado das exportações árabes) e grãos, carnes e açúcar (pelo lado brasileiro) e o volume deste intercâmbio não representa o potencial das regiões. É preciso que se faça mais investimentos”, disse.
Sobre investimentos, a CEO da HBG Holding e Nobel da Paz de 2015, Ouided Bouchamaoui, chamou a atenção para a necessidade de se aproximar laços diplomáticos e comerciais e apresentou a Tunísia como um importante polo de aproximação entre os países: “A pandemia nos mostrou que precisamos de mais solidariedade e que as respostas não virão em nível individual. Temos de pensar juntos”, afirmou, observando que o objetivo comum agora precisa ser a geração de investimentos.
“Todo mundo sabe que o Brasil tem a maior economia da América do Sul e é uma das que mais cresce e com muitas oportunidades. É necessário que se faça investimentos não só no comércio, mas também na parceria, em joint ventures. A Tunísia tem acordos com países europeus e pode ser um hub para o mercado europeu. Queremos acentuar a parceria com empresas do Brasil, para que juntos possamos encontrar novas oportunidades e mercados”, disse Ouided, que também é presidente da Confederação Tunisiana da Indústria, Comércio e Artesanato (Utica).
De encontro à proposta de Ouided, a CEO da Siemens em Omã, Claudia Massei, observou que se a Tunísia pode ser um hub para empresas brasileiras acessarem o mercado da Europa e da África, Omã pode ser um hub para os mercados da Ásia, além do Oriente Médio. Ela observou, porém, que a parceria e a troca de conhecimento do Brasil com os países árabes deve ir muito além do comércio porque todos esses países estão diante da necessidade de se criar um mundo ambientalmente sustentável e esses países têm condições de liderar essa transformação.
“A troca de conhecimento pode ajudar. O petróleo não é mais tão importante. A fonte de energia irá para a energia solar, por exemplo, que é única no Brasil e países árabes, que guardam similaridades. Podem compartilhar conhecimento sobre turbinas eólicas, painéis solares e hidrogênio verde”, afirmou.
Além da sustentabilidade, outro tema em destaque no encontro foi a digitalização em suas mais diferentes plataformas: realização de reuniões, realizações de feiras e eventos e como meio de pagamentos. O economista-chefe e diretor de pesquisa e cooperação internacional do Afreximbank, Hippolyte Fofack, observou que ainda há no mundo dificuldades de se fazer pagamentos internacionais, remessas e transferências de recursos, mas que são desafios que podem ser atendidos a partir da digitalização. “Realizar mais 10% de investimentos em digitalização pode render um crescimento de 4% da economia mundial”, afirmou.
Ele também enxerga mudanças profundas na cadeia de suprimentos global, uma tendência à nacionalização da manufatura de alguns produtos, como respiradores e equipamentos de saúde, e observa que a relação de Brasil e países árabes ainda está aquém do seu potencial. “A covid-19 criou um caminho de mudanças tectônicas e o Brasil e os países árabes estão integrando essas alterações ao seu crescimento”, disse.
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Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA