São Paulo – A crise financeira internacional abre uma janela de oportunidades para a América Latina e, de forma especial, para o Brasil. A afirmação foi feita ontem (08) pelo diretor do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, Emilio Lozoya Austin. Cerca de 500 representantes de governos, universidades e empresários de 35 países discutirão saídas para crise financeira e oportunidades de negócios durante o encontro que será realizado no Rio de Janeiro, de 14 a 16 de abril, e contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Austin afirmou que muitos fatores vão determinar que o Brasil saia da crise mais fortalecido. “O Brasil está em melhor situação do que nas últimas décadas para enfrentar a crise”, disse. Para ele, a estabilidade e o fortalecimento da economia são uma oportunidade para o crescimento das empresas brasileiras dentro e fora do país.
O diretor destacou ainda a necessidade de aproveitar a crise para não ter um retrocesso nos indicadores sociais que o Brasil conseguiu fortalecer.
Para o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira, o Brasil tem condições de emergir da crise internacional com uma postura mais forte. “Politicamente mais qualificado. Hoje não se imagina uma nova ordem mundial, uma nova estrutura da economia mundial, onde o Brasil não esteja. Esse é o primeiro ganho real e político da inclusão do Brasil nesse cenário”, afirmou.
Na área econômica, Teixeira disse que o Brasil tem a possibilidade de sair fortalecido da crise para ganhar mais rapidamente novos mercados internacionais. Isso se deve, em grande parte, à estrutura de crédito brasileira, ao sistema bancário e ao sistema de financiamento público, além das políticas macro-econômicas e fiscais implementadas pelo governo.
"Acho realmente que o Brasil fez o dever de casa”, enfatizou Teixeira. Ele disse que o presidente Lula iniciou o governo com menos de 30% da população brasileira na classe média e esse percentual já atinge hoje quase 50%. “Essa inclusão e a construção desse mercado de consumo são fundamentais para atenuar os efeitos da crise no Brasil e, principalmente, de recuperação no exterior”, destacou.
De acordo com Teixeira, participando do fórum os empresários poderão conferir o cenário para investimentos na região, em especial no Brasil. “Hoje o país está entre os cinco mais atrativos para investimentos internacionais, principalmente pelo mercado interno e por sermos plataforma de exportação."
América Latina
De acordo com o diretor do fórum, a reunião é realizada em um momento importante para América Latina, de forte crescimento do mercado interno. “Em geral, a América Latina tem uma população jovem, é interessante para empresas por conta do padrão de consumo em ascensão, com relativa facilidade de crédito e infraestrutura”, afirmou.
Além de buscar soluções para crise econômica, os participantes vão focar outras implicações do problema como a pobreza e o desenvolvimento sem sustentabilidade na região, segundo o gerente da América Latina para o Fórum, Arturo Franco. De acordo com ele, por conta do novo cenário econômico, com demissões, por exemplo, a região corre o risco de retroceder em áreas importantes.
“Há preocupações com cerca de 13 milhões de pessoas que, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), poderiam cair na pobreza. São pessoas que saíram da pobreza nos últimos seis anos e que vamos tratar para não haver retrocesso”, explicou Franco.
Durante o evento, estão previstos debates com o escritor Frei Betto (representante da luta pelos direitos humanos) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que falará sobre o combate às drogas, ao lado do ex-presidente da Colômbia César Gaviria. Outro tema em destaque é meio ambiente.
O presidente da Apex destacou que países como Colômbia, Peru, Chile e o México também apresentam condições de superação da crise. De acordo com Teixeira, apesar da desigualdade social – problema que merece atenção diante do avanço da crise –, a América Latina é uma das regiões com maior rentabilidade no mundo. “É muito difícil ter alguma empresa multinacional instalada na região que não tenha um retorno dos investimentos maiores do que tem em outras partes do mundo”, destaca.
O fórum econômico antecede a 5ª Cúpula das Américas, da qual participarão líderes de países da região, em Trinidad Tobago, entre os dias 17 e 19 deste mês. A expectativa é de que as conclusões do encontro no Brasil sejam levadas para lá.