Isaura Daniel
São Paulo – As conversas entre o Brasil e a Liga Árabe estão caminhando para que comércio e investimentos sejam os principais temas da reunião de Cúpula América do Sul- Países Árabes, prevista para ocorrer em dezembro, no Brasil. De acordo com informações do Ministério de Relações Exteriores, o objetivo é fazer com que, a partir da aproximação política, empresas árabes e sul-americanas se interessem em explorar economicamente a região parceira.
O chanceler Celso Amorim acertou, com o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, uma reunião ministerial preparatória à Cúpula para o mês de setembro, durante a Assembléia Geral das Nações Unidas. Eles se encontraram no último final de semana durante o Fórum Econômico Mundial, na Jordânia. De acordo com a assessoria do Itamaraty, todos os líderes árabes presentes no Fórum mostraram-se entusiasmados com a idéia da Cúpula.
O estreitamento das relações entre América do Sul e países árabes deve favorecer a diversificação das vendas das duas regiões, ainda muito voltadas para os países ricos.
O comércio entre o Brasil e as nações integrantes da Liga Árabe já vem apresentando um crescimento expressivo desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na região, no ano passado, e anunciou interesse de aproximação comercial. Nos primeiros quatro meses do ano, por exemplo, as exportações brasileiras para os árabes alcançaram um valor 60% superior ao mesmo período de 2003, com US$ 1,1 bilhão.
Os representantes diplomáticos da América do Sul e países árabes não discutiram ainda os detalhes dessa aproximação comercial que deve ocorrer a partir da Cúpula. Até dezembro, porém, já deve haver novidades na discussão sobre o comércio entre países em desenvolvimento. O ministro Celso Amorim anunciou, há cerca de dois meses, que o Sistema Global de Preferências Comerciais entre Países em Desenvolvimento (SGPC) será abordado durante a 11ª Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que ocorrerá entre os dias 13 e 18 de junho em São Paulo. O SGPC, instrumento criado pela Unctad, prevê trocas de concessões tarifárias entre os 135 países dos G-77, grupo formado por países em desenvolvimento.
De acordo com declarações dadas por Amorim no início do ano, as conversas podem ser um pontapé para um acordo de livre comércio entre os principais países em desenvolvimento.
Fórum na Jordânia
No Fórum Econômico Mundial, que terminou nesta segunda-feira (17), na Jordânia, os líderes dos países árabes reforçaram a sua intenção de reformar a Liga Árabe. Os governos do Egito, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos anunciaram os nomes dos ministros designados por seus países para estudar possíveis medidas. O objetivo é traçar um planejamento levando em conta os avanços que estão por vir até o ano de 2010 e garantir o espaço da região na economia global.
"Vamos trabalhar juntos para encontrar a melhor maneira de realizar nosso objetivo, que é tornar o mundo árabe mais competitivo", disse o presidente do Conselho de Negócios Árabes (ABC), braço executivo da Liga que será responsável por levar adiante o projeto de reforma da entidade.
Durante o Fórum Econômico, Jordânia e Israel também assinaram um pacto para facilitar a importação mútua de componentes para produtos exportados pelos dois países aos Estados Unidos. Artigos fabricados em zonas industriais especiais da Jordânia e Israel – pré-determinadas pelos governos locais – são exportados aos norte-americanos livres de taxas. A União Européia deve assinar o mesmo acordo dentro de alguns meses.
Além das conversas e ngociações paralelas entre os países participantes, o Fórum também teve suas conclusões oficiais. Uma delas foi a decisão da criar um novo espaço de debate, aos moldes do Fórum Econômico Mundial, voltado a jovens líderes globais, com idades entre 25 e 40 anos. Também ficou acertada a realização de uma série de reuniões para tentar aproximar líderes palestinos e israelenses.
A participação mundial na resolução dos conflitos do Oriente Médio foi o principal tema do Fórum. Ficou marcado ainda um novo Fórum Econômico Mundial na Jordânia, no Mar Morto, para janeiro do próximo ano.