Cláudia Abreu
São Paulo – São 10 da manhã. Aldemir Abdala corre de um lado para o outro. Percorre as quatro bancas que tem no Mercado Municipal Paulistano em minutos, sempre atento ao movimento de clientes. Atravessa a rua da Cantareira, onde funciona o seu depósito. Vai checar os lotes dos produtos que acabaram de chegar. Volta ao mercado, fala com o gerente de um banco, resolve problemas burocráticos, atende o telefone que toca incessantemente e ainda tem tempo para sorrir aos clientes que passam em frente ao estabelecimento. Entre idas e vindas, cheiros e sabores, conta sua história.
Abdala começou a trabalhar cedo, aos seis anos de idade. Vem de uma família libanesa que, segundo ele, tem dom para o comércio. A Banca do Ramon é dos Abdala desde 1933. "Minha escola, minha faculdade foi no comércio", orgulha-se ele. Os ensinamentos dos antepassados, no entanto, foram aprimorados por Abdala. "Vi que a banca poderia crescer e fiz investimentos sérios", afirma. O pequeno negócio de frutas dos anos 30 virou um grande empório. Hoje Abdala trabalha com mais de 4.000 itens.
A mudança foi feita em menos de dez anos, com audácia e, ao mesmo tempo, planejamento. Primeiro o empresário mudou o design do box, colocou mais produtos, depois contratou novos funcionários – hoje são 69 – e, aos poucos, foi adquirindo outros espaços no Mercadão. Também implantou um sistema de entrega em domicílio que, aliás, vai bem longe. Os produtos da Banca do Ramon viajam o Brasil inteiro. Os pedidos são feitos por telefone e a entrega fica por conta de companhias aéreas ou ônibus. "Sempre procurando o que é melhor para o cliente", diz o empresário.
Tudo foi conseguido com muito esforço e sem horário para parar de trabalhar. As quatro bancas abrem às 5h da manhã e não têm muita hora de fechar, segundo Abdala. É comum o empresário sair do Mercadão depois das 19h. "Quando termina o movimento de clientes – o que acontece por volta de 18h – , a gente começa outra jornada", afirma. Ele e o cunhado Adonis, de ascendência grega, preparam os pedidos dos restaurantes de São Paulo, que serão entregues no dia seguinte, e também os do resto do país.
Os pedidos, pasmem, são feitos sem um único computador. "A Banca do Ramon é um armazém à moda antiga", brinca Abdala. Lá, as invenções de Bill Gates e companhia não entram, pelo menos por enquanto. Tudo é feito na base do "olhômetro", e Abdala tem um bom olho. Sabe, exatamente, o que está faltando na prateleira, que precisa ser reposto. "Supervisiono tudo o que entra na banca", explica. Tem muito trabalho. Entre os 4.000 itens há guloseimas dos quatro cantos do mundo. Tem caviar, tinta de lula, salame de javali, azeites trufados, trufas italianas e muito mais.
Cozinheiro
Abdala também tem um bom paladar e corre o boato no Mercadão que o empresário é um ótimo cozinheiro. Ele confirma: não faz feio não. Cozinha paella, pratos italianos e, claro, bacalhau – que vende aos montes na Banca do Ramon. "Gosto de cozinhar e isso ajuda na hora de conversar com o consumidor", diz. Facilita tanto que é comum Abdala receber telefonemas de clientes pedindo receitas, buscando idéias para um jantar especial. Ele ensina com prazer.
A simpatia, aliás, é um dos segredos de Abdala. Para ele, quem está no comércio, tem de ser sempre atencioso com o cliente. Também é preciso ser versátil: manter a tradição, mas inovar quando for preciso. A Banca do Ramon é um exemplo do bom uso de ferramentas modernas – como a entrega em domicílio – em parceria com o comércio à moda antiga, que preza uma boa conversa com o cliente e que os produtos têm a garantia do dono do negócio.