Dubai/São Paulo – Nos últimos anos o emirado de Dubai vinha passando por um boom econômico que qualquer turista podia notar. Bilhões de dólares eram investidos em arranha céus, shoppings e mega projetos de luxo. Com a crise mundial, o emirado de Dubai também foi afetado e caminha agora a passos menores e mais lentos. Em 2006, por exemplo, era possível sair à noite e ver gruas, caminhões e funcionários trabalhando a todo vapor. Agora, no começo deste ano, ao andar pela avenida Sheik Zayeed Road, uma das principais vias do emirado, nenhuma obra em construção brilhava entre as imensas torres já construídas.
Dubai não parou, mas desacelerou. Até o trânsito, que era insuportável, está mais ameno. Taxistas dizem que nessa época do ano, que costumava atrair muitos turistas por causa do clima, com temperaturas que variam de 20 a 30 graus Celsius, o movimento diminui bem. Um dos motoristas chegou a comentar que em anos anteriores a fila de táxis nos shoppings rodava a cada 15 minutos e agora, chega a levar uma hora até a chegada do próximo passageiro. A maioria dos motoristas, que são de origem indiana e paquistanesa, não quis se identificar, pois eles têm medo de sofrer retaliações do governo por falarem mal do país que os acolheram.
Não é só nos shoppings que as filas para pegar um táxi diminuíram. De acordo com a gerente de marketing da Câmara de Comércio Árabe Brasileira , Andréa Monteiro Uhlmann, que nos últimos sete anos viajou a trabalho para Dubai oito vezes, nas feiras comercias também estava mais fácil para conseguir um carro. “Ainda não é fácil, mas é possível conseguir pegar um carro na rua”, afirmou.
O próprio diretor-geral da Câmara de Comércio e Indústria de Dubai, Hamad Buamim, afirmou durante um almoço para empresários da Gulfood, feira do setor de alimentos, que acontece em fevereiro no emirado, que o trânsito estava melhor. “O trânsito diminuiu, mas os negócios ainda continuam”, disse.
Uma das explicações para a queda no número de veículos que circulam pelo emirado é o fato de muitos estrangeiros terem deixado o país. Com uma população de cerca de 1,5 milhão de habitantes, sendo 90% de imigrantes, Dubai deixou de ser tão atraente e passou a ser um problema para muitos trabalhadores, que com a falta de crédito, principalmente no mercado imobiliário, tiveram que deixar o país. “Todas as pessoas que deixaram o país eram trabalhadores. Isto é uma crise mundial”, afirmou Buamim.
Com medo de falar sobre a crise em Dubai, um motorista indiano, que trabalha há 18 anos no emirado, justificou a diminuição do trânsito ao aumento das pistas nas avenidas, que estavam em obras até o final do ano passado. Porém, ele mesmo afirmou que a situação atual está bem difícil. “Vim para cá e comecei pequeno. Meu negócio cresceu e ganhei muito dinheiro, mas agora está difícil”, afirmou ele que tem uma empresa de prestação de serviços de motoristas.
De acordo com o indiano, em janeiro, a situação estava pior ainda. “As pessoas estavam com medo de gastar e muitas perderam o emprego por aqui”, disse. Outro fato que preocupa o motorista é o aumento dos preços dos aluguéis dos imóveis em Dubai. “Não sei como as coisas vão ficar”, acrescentou ele, que divide uma casa com um amigo e viaja para Índia uma vez por ano para ver a esposa e os filhos.
Segundo dados do Departamento de Turismo e Marketing Comercial de Dubai, divulgados pela Reuters, a taxa de ocupação hoteleira em Dubai caiu 14% no terceiro trimestre de 2008. A imprensa local também já divulgou sobre a preocupação do governo do emirado em relação ao turismo. Segundo matéria publicada pelo site do jornal árabe Gulf News, o diretor de desenvolvimento de negócios em hospitalidade e consultoria em lazer da empresa Roya International, Elie Armaly, nesse primeiro semestre do ano o setor vai enfrentar um desafio.
Para conseguir recuperar os turistas, o setor hoteleiro de Dubai já está trabalhando com uma redução nos preços das tarifas, segundo informa o diretor de vendas e marketing da Alpha Tours, Samir Hamadeh, ao jornal árabe.
A vantagem de ir para Dubai agora é que o turista pode conhecer os shoppings, restaurantes e lugares para ouvir uma música fumando um narguile (ou uma shisha, como é chamado no Oriente Médio) sem enfrentar horas de fila para conseguir um lugar.
Mais competição
Com a crise, o secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, que esteve em Dubai no mês passado, notou que uma das maiores preocupações do emirado é nas inúmeras obras financiadas. “Senti que há um receio muito forte do ponto de vista dos investimentos, principalmente em obras, que foram financiadas”, afirmou.
Apesar disso, Alaby acredita que este é o momento de investir nos Emirados Árabes mais agressivamente no marketing, participações em feiras e missões comerciais. “A concorrência que o Brasil sofre na área de manufaturados vai aumentar, pois a crise é mundial e os nossos principais concorrentes estão mais agressivos mercadologicamente”, afirmou.