Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br
São Paulo – A economia brasileira cresceu, em média, 4,5% nos últimos quatro anos. A renda per capita avançou 3,05%, as exportações aumentaram na casa dos 22%, a inflação se manteve controlada, com 3,9% no ano passado, e a taxa básica de juros caiu de 16,5% para 11,25%. Esses números chegaram ao exterior, trazendo mais investimentos e melhor imagem para o Brasil diante das agências de risco, mas chegaram também a um lugar bem longe do mercado financeiro: as casas dos brasileiros mais pobres. A melhora da economia ajudou a reduzir a pobreza e a desigualdade social, dizem os especialistas.
"A melhora da economia respondeu por metade da redução da pobreza", diz o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Mansur Levy, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2006), do instituto. A influência direta da economia se deu principalmente pelo avanço da taxa de emprego e rendimento médio da população, dizem os especialistas. Os demais indicadores, porém, também colaboram indiretamente. "É o que há por trás. Só é possível aumento de emprego e melhora de rendimentos num contexto de inflação sob controle", diz Levy.
Ele lembra que em 2006, a inflação foi baixa, de 3%, e os rendimentos médios cresceram em 4%. Já no ano passado, os rendimentos cresceram, mas em percentual menor, 3,2%, já que a taxa de inflação foi maior, na casa dos 4%. A economista chefe da consultoria Tendências, Ana Carla Abrão Costa, afirma que os programas sociais, a oferta de crédito e a bancarização das classes mais pobres ajudaram na redução da desigualdade social e da pobreza no Brasil, mas que ela também é conseqüência do crescimento econômico, principalmente de um mercado de trabalho mais ativo.
De acordo com a secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Arlete Sampaio, os fatores que mais colaboraram para a redução da pobreza no Brasil nos últimos anos foram a previdência social, o aumento real do salário mínimo, o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BCP). O Bolsa Família é o programa de transferência de renda do governo federal, destinada aos mais pobres, e o BCP é uma ajuda financeira para idosos com mais de 65 anos, com renda de até um quarto do salário mínimo.
A PNAD mostra que 38,1 milhões de brasileiros tinham renda domiciliar per capita igual ou abaixo de R$ 100 em 2001. Esse número se reduziu a 30,76 milhões de pessoas em 2005. Também houve redução na desigualdade social. O quinto mais pobre da população brasileira teve um ganho de renda domiciliar per capita de 26,6% entre 2001 e 2005, enquanto que o décimo mais rico da população teve queda de renda de 1,3%. O coeficiente Gini, que mede a desigualdade de renda, declinou 4,6% entre 2001 e 2005, passando de 0,593 em 2001 para 0,566 em 2005. "Em 2001, ele encontrava-se próximo à média dos últimos 30 anos; em 2005, chegou ao menor valor registrado no período", diz a pesquisa.
Segundo a pesquisa do Ipea, entre os 74 países nos quais o índice Gini é acompanhado desde a década de 90, menos de um quarto foi capaz de reduzi-lo a uma velocidade maior do que a do Brasil, o que indica, segundo o estudo, que o país tem um dos ritmos de queda da desigualdade social mais acelerados do mundo. Arlete, do MDS, afirma que tanto a economia colabora com a redução da pobreza no país, quanto os programas de transferência de renda ajudam na melhora da economia. Ou seja, com mais dinheiro no bolso, os mais pobres ajudam a impulsionar o consumo. De fato, o consumo, baseado nas vendas do varejo, cresceu 10% ao longo, por exemplo, do ano passado.
Economia maior
Os economistas afirmam que a melhora na economia brasileira é resultado de ações que vem sendo desenvolvidas ao longo dos últimos anos. "A economia brasileira vem melhorando em termos estruturais há uma década. Estamos colhendo os frutos de reformas dos anos 90 até agora", diz Ana Carla, da Tendências. "A política fiscal mais austera, o regime de câmbio cuja taxa reflete o livre mercado, a inflação controlada permitiram com que a economia melhorasse, houvesse expansão do emprego formal e informal, expansão do PIB, consumo maior, investimentos com mais de 1% do PIB. Tudo isso configura uma melhora real da economia brasileira", diz o pesquisador do Ipea.
Ana Carla, da Tendências, afirma que o Brasil está hoje em uma situação de menor vulnerabilidade externa, já que tem reservas para fazer frente a uma crise internacional. "O Brasil ficou mais resistente a crises externas como a atual (dos EUA). O Brasil vai sofrer sim, mas menos do que sofreria no passado", afirma. Ela diz que existe atualmente um cenário de uma inflação maior – pressionada pelo aumento do consumo – mas que as metas de inflação não estão ameaçadas. "O governo terá de fazer ajustes na política monetária, mas (a possibilidade de inflação maior) não tem o poder de fazer com que o Brasil pare de crescer", afirma Ana Carla.
Levy, do Ipea, tem pensamento semelhante. "Parte deste crescimento reflete as condições externas favoráveis. E para que ele possa ser sustentável é necessária alguma desaceleração no crescimento, ajustar a demanda à capacidade produtiva", diz o pesquisador. A maior solidez da economia brasileira, porém, já se reflete no mercado internacional. "A estabilidade gera maior confiança e incentiva os investimentos", diz Ana Carla. Levy lembra que houve uma melhora na percepção da condução da política econômica brasileira lá fora, tornando a economia mais atrativa.