Dubai – Viajar para Dubai pode ser mais que uma oportunidade para fazer compras ou conhecer os arranha-céus da mais famosa cidade dos Emirados Árabes Unidos. Representa também uma chance para conhecer melhor a cultura árabe e muçulmana. É com esse objetivo que o Centro Xeque Mohammed para o Entendimento Cultural atua desde 2002 e chega a receber até 400 turistas por dia em diferentes atividades.
Com o lema “Portas Abertas, Mentes Abertas”, o centro realiza cafés da manhã, almoços, lanches, visitas a mesquita, aulas de árabe e passeios culturais. Em todas as atividades, os voluntários que as acompanham falam sobre a história do país, da cultura árabe, do islã e estão abertos para responder a qualquer tipo de pergunta sobre estes temas.
E quais são as principais perguntas que os estrangeiros fazem sobre os árabes e os muçulmanos? “O Islã é uma religião perigosa? O Islã é opressivo para as mulheres? Porque vocês ainda se vestem de forma tão tradicional? Algum dia vocês vão vestir calças como nós?”, contou Nasif Kayed, diretor-gerente do centro, à reportagem da ANBA.
“Eu respondo: Jesus se vestia assim. Essa roupa é prática, nos protege do sol, da areia, dos mosquitos, do frio. Se cobrir é melhor. Hoje, nós nos descobrimos [das roupas], mas nos cobrimos com óculos escuros, protetor solar e repelente, ou usamos guarda-chuva, chapéus, bonés. Tecnicamente é o mesmo”, explicou.
“Por outro lado, do ponto de vista religioso, tem a modéstia. Ninguém é melhor que ninguém. Se você olhar para o meu traje hoje, que chamamos de “candora”, não tem nada de Versace, nada de Armani, nada de Calvin Klein por trás. Então, sua alteza o xeque Mohamed [Bin Rashid Al Maktoum, emir de Dubai], eu e a pessoa que cuida da minha casa, nos vestimos do mesmo jeito. Ninguém se veste melhor que ninguém em público. Explicamos estes elementos, e as pessoas dizem: ‘Oh, agora isso faz sentido para mim’”, disse Kayed.
A iniciativa surgiu de um grupo de voluntários que em 1998 decidiu mostrar a identidade do povo dos Emirados aos turistas que iam ao Dubai Shopping Festival, temporada de liquidações que atrai visitantes de diversos países.
Com o tempo, as ações foram crescendo e os voluntários, que convidavam as pessoas para suas casas, passaram a não dar conta de atender tanta gente. Para incentivar o projeto, Maktoum doou uma casa recém-reformada para receber os turistas. Hoje, o centro está inserido em um complexo de 56 casas, que abriga também restaurantes, museus e galerias.
“Portas Aberta, Mentes Abertas. Nós abrimos as portas da nossa casa e te tratamos do modo tradicional, sentamos no chão do pátio e deixamos você fazer qualquer pergunta que você queira. Então, as pessoas vêm e nos fazem perguntas e passamos a entender melhor uns aos outros. Você está em Dubai e passa a entender melhor quem são os árabes e quem são os muçulmanos”, destacou o diretor.
No ano passado, disse Kayed, o centro recebeu de 8,5 mil a 9 mil pessoas. Já passaram por lá visitantes de 180 nacionalidades.
E qual a mensagem que a instituição deixa para eles? “Que somos pessoas normais, não somos estranhos, não somos preconceituosos, não acreditamos em uma religião violenta. O Islã tem a ver com a paz. Seu Deus é o mesmo que o nosso Deus. Há uma grande diferença na política e o problema é com a política. O ser humano tem uma escolha, de entender, de aprender. É seu direito encontrar a verdade em vez de alguém lhe dizer qual é a verdade”, afirmou o diretor.
“Há um entendimento errado sobre nós que vivemos no mundo árabe, sobre a religião islâmica e sobre quem verdadeiramente são os árabes. Há algumas pessoas que fizeram coisas erradas e acabaram se tornando um mal entendido sobre todo o mundo árabe e muçulmano. E todos pensam em nós, por causa das ações desta minoria de pessoas, que somos todos assim, e isso não é justo, não é certo”, avaliou.
Para Kayed, o entendimento cultural mútuo é um “elemento chave para começarmos a nos tornar uma raça realmente civilizada”. “Somos diferentes, mas isso não significa que há um errado e um certo. Isso não significa um mal e um bom. Somos diferentes, isso é bonito. Por que não podemos respeitar a religião do outro e entende-la em vez de odiá-la?”, completou.
Mais informações sobre as atividades do Centro Xeque Mohammed para o Entendimento Cultural estão disponíveis no site www.cultures.ae.