São Paulo – O chefe do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Henrique Sardinha Pinto, vai ser o novo embaixador do Brasil na Argélia, em substituição a Sérgio Danese. Ele segue para Argel no final de agosto e terá como um de seus principais desafios buscar maio equilíbrio na balança comercial bilateral, tradicionalmente superavitária para o país do Norte da África por causa das importações brasileiras de petróleo e nafta.
“Estando à frente do Departamento de Promoção Comercial, tenho consciência da relevância das relações comerciais entre o Brasil e a Argélia. O déficit acumulado pelo Brasil nos últimos 10 anos é de US$ 14 bilhões, muito em função de comprarmos petróleo e nafta”, disse o diplomata à ANBA durante visita na quarta-feira (08) à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, onde foi recebido pelo presidente da entidade, Salim Taufic Schahin, o secretário-geral, Michel Alaby, e outros diretores.
Segundo ele, a embaixada brasileira em Argel já faz esforços para ampliar as exportações, que estão crescendo. “A embaixada atua de maneira proativa com as autoridades locais e as empresas brasileiras e é preciso dar continuidade a isso. As exportações têm crescido, mas ainda não como gostaríamos”, declarou Sardinha.
As vendas do Brasil para a Argélia renderam US$ 267 milhões de janeiro a maio deste ano, um aumento de 29,5% em comparação com o mesmo período de 2008, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os principais itens embarcados foram açúcar, carne bovina, óleo de soja, milho, tubos de aço para gasodutos e leite em pó.
As importações de produtos brasileiros, por sua vez, somaram US$ 339 milhões nos primeiros cinco meses de 2009, uma redução 67% na mesma comparação. O valor das compras foi fortemente afetado pela queda do preço do petróleo a partir de julho do ano passado. Houve também aumento da produção da Petrobras no Brasil e, portanto, menor necessidade de importar.
No ano passado inteiro, as exportações brasileiras à Argélia renderam US$ 632,5 milhões, e as importações somaram quase US$ 2,5 bilhões, resultando em um déficit de US$ 1,865 bilhão.
Para Sardinha, é preciso mudar o paradigma das exportações à Argélia, muito concentradas em produtos básicos, e passar a vender mercadorias de maior valor agregado. Como exemplo ele citou os aviões da Embraer, que voam em vários países árabes e da África, mas não na Argélia, embora o país tenha um mercado importante para a aviação regional e compre jatos de concorrentes da empresa brasileira; e o ramo de construção civil, já que o governo argelino tem um grande programa de renovação e construção na área de infraestrutura.
A Andrade Gutierrrez é a construtora brasileira com maior presença na Argélia atualmente. Segundo o diplomata, o aumento dos negócios nessa área pode compensar, em parte, o déficit comercial e há necessidade de trabalhar junto com o governo argelino para atingir esse objetivo, uma vez que ele é o principal contratante.
Ele pretende trabalhar também para a abertura do mercado argelino para o frango brasileiro. Embora os países árabes sejam os principais importadores do setor, os exportadores do Brasil ainda não conseguiram introduzir seus produtos na Argélia, que já é grande comparadora de carne bovina, leite em pó e produtos agrícolas brasileiros. “Temos todas as condições de qualidade e preço para entrar, mas não temos conseguido”, declarou.
O embaixador pretende usar sua experiência de três anos à frente ao Departamento de Promoção Comercial para incentivar as exportações brasileiras. “Ocupar espaço na Argélia tem sido um desafio para as empresas brasileiras, e o governo também toma para si a responsabilidade de promover as exportações e liderar a abertura de mercados”, afirmou.
Niemeyer
Sardinha quer ainda promover o intercâmbio na área cultural. Ele lembrou, por exemplo, que arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer projetou obras no país, como a Universidade de Constantine, e também vai assinar o projeto da futura Biblioteca América do Sul-Países Árabes, que será construída em Argel. Antes de vir a São Paulo, o embaixador esteve no escritório de Niemeyer no Rio de Janeiro.
Na seara política, o embaixador disse que as relações entre os dois países são extremamente positivas e refletem o relacionamento pessoal entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Abdelaziz Bouteflika, que juntos presidiram a 1ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), realizada em Brasília em 2005.
Sardinha afirmou que têm ocorrido diversas visitas de ministros de um país ao outro, sendo que a última foi a do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, a Argel em janeiro deste ano. O embaixador estava na delegação.
Ele acrescentou que os dois países costumam ter atuação sincronizada nos organismos internacionais que integram e já viu exemplos disso na ONU e na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). “Isso facilita nosso trabalho lá”, disse.
Sardinha, de 53 anos, é casado, tem três filhos já adultos e duas netas. Ele é formado em Direito e já ocupou cargos diplomáticos em Roma, na Itália, La Paz, na Bolívia, Manágua, na Nicarágua, Nova York, nos Estados Unidos, e Ottawa, no Canadá.