São Paulo – Enquanto a pauta de exportação do Brasil para os países árabes é dominada por açúcar, carne de frango, minério e milho, nas vendas do estado do Pará para a região predominam gado vivo, minério de ferro, milho e soja. O estado também tem como principais destinos dos seus produtos, no mundo árabe, Omã, Iraque, Egito e Líbano, enquanto os embarques do País como um todo vão prioritariamente para os mercados dos Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita e Argélia.
Com essa face diversa do Pará os embaixadores árabes se depararam durante visita realizada ao estado entre o último domingo (15) e esta quarta-feira (18). Promovida pelo Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, com organização da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a missão levou representantes da Palestina, Jordânia, Síria, Líbia, Tunísia, Argélia, Sudão, Mauritânia, Iraque e Líbano para agenda com os setores público e privado do estado.
O Pará é o estado que mais produz açaí no Brasil e tem atividade econômica ampla que vai do fornecimento de cosméticos feitos com insumos da Amazônia até de carne bovina e de peixes, entre outros produtos e setores. Somado a isso, o estado vai receber neste ano o mais importante evento climático mundial, a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30), com lideranças do mundo todo.
“É um estado que produz insumos um pouco diferentes daqueles que estamos habituados a exportar para os países árabes”, afirmou para a ANBA, após participar da missão, o vice-presidente de Relações Internacionais e secretário-geral da Câmara Árabe, Mohamad Mourad, destacando que o Líbano, país que não está entre os principais destinos da exportação brasileira ao mercado árabe, por exemplo, aparece como quarto maior comprador árabe do Pará. “O Pará é um estado que tem outro perfil e tem muitas oportunidades de exportação ainda de outros produtos”, disse Mourad.
A ampla face econômica do estado do Pará e da cidade de Belém foi apresentada aos diplomatas árabes em encontros com o governador Helder Barbalho (MDB) e com o prefeito Igor Normando (MDB). Em seminário na Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), os embaixadores também puderam conhecer os setores produtivos do estado por meio de entidades e sindicatos. “Tivemos encontro com setores importantes com os quais vislumbramos possibilidades de intercâmbio”, disse para a reportagem da ANBA o decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben.
Na reunião dos embaixadores com Normando esteve em pauta também o nome da capital do Pará, uma referência a Belém da Palestina. Na reunião com Normando, Alzeben se mostrou feliz pela conexão e se falou da possibilidade de que Belém do Pará faça acordos de cidade-irmã com municípios árabes.
Um lugar para a COP30
Além das possibilidades de intercâmbio econômico com o estado, também estiveram no centro dos assuntos da missão a realização da COP30 em Belém. A conferência foi tema de conversas dos embaixadores com interlocutores locais, entre eles representantes do Comitê da COP30. Os diplomatas também puderam conhecer in loco os preparativos da conferência visitando o Parque da Cidade, onde será realizado o evento em novembro. “É uma obra gigantesca que está sendo feita dia e noite para garantir o sucesso da COP30”, relatou o decano e embaixador Alzeben para a ANBA.
Alzeben faz questão de destacar que a realização da COP30 é importante não apenas para o Pará. “O sucesso de vocês é o nosso sucesso, é pelo bem e o futuro da humanidade em geral”, disse o diplomata no encontro com o governador Barbalho. “Nós agradecemos também o governo do Brasil, agradecemos ao presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), que, com uma visão do futuro, encaminhou os esforços para que Belém fosse sede desse encontro internacional. É uma visão que tem a ver não somente com o progresso de Belém e do Brasil, mas da humanidade inteira”, disse Alzeben para a ANBA.
Alzeben destaca os esforços que estão sendo feitos pelos governos do estado e federal pela COP30 e disse que não duvida do sucesso da conferência, que abrigará dezenas de chefes de estado e centenas de delegações. Depois de conhecer a estrutura do parque, saber da iniciativa de construção de um hotel para receber as autoridades, de transatlânticos que vão hospedar participantes da conferência, de que haverá feriado escolar na cidade e que o aeroporto está sendo renovado, entre outras informações, Alzeben diz que a conferência está em boas mãos. “Nossas autoridades e delegados serão bem acomodados para poder cumprir com o objetivo central desta conferência”, falou.
Os embaixadores também tiveram encontro com representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) durante a viagem ao Pará e conheceram a estrutura que a instituição de pesquisa está preparando para a COP30. A Embrapa terá papel importante na conferência, onde vai apresentar a sustentabilidade e resiliência da agricultura brasileira, por meio de laboratórios e fazendas experimentais, entre outras estruturas que poderão ser visitadas pelos delegados da conferência.
Mais Pará para os árabes
Nos encontros dos embaixadores no Pará também foram abordados outros assuntos, como o mercado de produtos halal, que são aqueles feitos segundo as regras do Islã, a realização do Global Halal Business Forum pela Câmara Árabe e a Fambras Halal em outubro deste ano e as atividades que a Câmara Árabe vai promover neste ano como missões e feiras nas quais os empresários paraenses podem se encaixar. “Também os convidamos para organizar uma missão conjunta para os países árabes”, disse Mourad.
Os diplomatas foram recebidos ainda pela colônia árabe local no Clube Monte Líbano de Belém. Essa comunidade soma 400 mil pessoas no Pará, entre imigrantes e descendentes, de acordo com informações dadas pelo prefeito. Os embaixadores também estiveram no Parque Estadual do Utinga, participaram de almoço e jantar oferecidos pela Câmara Árabe, conheceram a orla de Belém e visitaram o Mercado Ver o Peso, um dos maiores mercados a céu aberto do mundo, entre outros locais.
Mourad afirma que visita foi muito importante para que os embaixadores pudessem conhecer mais realidades do Brasil. “O Brasil tem 27 países dentro de um só”, disse, lembrando que a missão foi um esforço para ir além do eixo Sul-Sudeste. “Existe um Brasil imenso, com vários setores desenvolvidos e eficientes o suficiente para exportar para os países árabes, tanto no Norte como Nordeste e Centro-Oeste ”, afirma ele. Mourad acredita que a aproximação dos embaixadores com federações de indústrias serve também para que cada país entenda como vender seus produtos para esses estados. “A economia de um país não vive só de exportação, precisa da importação também”, afirma.
A delegação
Falando para a ANBA, Alzeben destacou os esforços da Câmara Árabe pela missão, com a equipe liderada por Mourad e composta pela diretora de Relações Institucionais, Fernanda Baltazar, a coordenadora de Serviços Corporativos e Institucionais, Ana Cristina Oliveira, e o tradutor Saleh Hassan. “Trabalharam incansavelmente para o sucesso dessa missão”, disse. Ele frisou ainda o trabalho do Itamaraty, do governo do estado do Pará e dos diplomatas árabes participantes pela realização e sucesso da missão.
Participaram da delegação, além de Alzeben, Mourad; Maen Masadeh, embaixador da Jordânia; Rania Alhaj Ali, embaixadora da Síria; Osama Sawan, embaixador da Líbia; Nabil Lakhal, embaixador da Tunísia; Abdelaziz Cherif, embaixador da Argélia; Ahmad Swar, embaixador do Sudão; Ahmed Bouceïf, embaixador da Mauritânia; Firas Al Hammadany, encarregado de Negócios do Iraque; e Makram Douraid Said, cônsul-honorário do Líbano em Belém. Também acompanharam o grupo o subchefe da Divisão de Países do Golfo do Itamaraty, Bruno D’Abreu e Souza, e o coordenador de Relações Internacionais da Representação do Governo do Pará em Brasília, o diplomata Unaldo Eugenio Vieira de Sousa. Alguns dos embaixadores árabes participaram da missão juntamente com familiares.
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