São Paulo – Os 53 países da África crescem anualmente mais do que a média mundial e vão precisar de investimentos e tecnologia estrangeira nos próximos anos. Serão necessários investimentos no setor bancário, em telecomunicações, infraestrutura, serviços, agricultura e energia. Essas são algumas das oportunidades para o Brasil apresentadas durante o “Encontro com empresários brasileiros sobre investimentos na África”, promovido pelo Instituto Lula, Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta quarta-feira (16), em São Paulo.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que a instituição empresta dinheiro para cinco bancos africanos e lembrou que é uma determinação da presidente da República, Dilma Rousseff, financiar projetos brasileiros destinados a países africanos. Coutinho disse, contudo, que o Brasil ainda precisa explorar oportunidades no continente diferentes daqueles setores em que já atua.
“Há setores inexplorados pelas empresas brasileiras, como o de serviços bancários, telecomunicações, varejo e atacado, turismo, cosméticos, medicamentos e farmoquímicos”, afirmou Coutinho.
Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) do continente cresceu em média 6,8% ao ano até 2008, quando estourou a crise internacional. Essa taxa de crescimento caiu para 2,7% em 2009, atingiu 5,4% em 2010, deverá fechar o ano com média de 5,2% e chegar aos 5,8% em 2012.
“Há países africanos que crescem até 15% ao ano. O PIB do continente é de US$ 1,7 trilhão e deverá atingir US$ 2,7 trilhões em dez anos”, disse Coutinho ao citar as oportunidades de investimento na África.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que os países africanos oferecem oportunidades também para os empresários interessados em investir em indústrias manufatureiras. Diretor de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca disse, porém, que o Brasil precisa negociar antigas dívidas dos países africanos para que o BNDES possa financiar novos projetos.
“Há pequenas dívidas não pagas por causa de empréstimos contraídos nos anos 1980, 1990. São dívidas de US$ 10 milhões, US$ 15 milhões que impedem que o Brasil empreste centenas [de milhões de dólares] para um país. Além de resolver isso, também é preciso obter boas garantias de que o [novo] empréstimo será pago”, afirmou.
A corrente comercial entre Brasil e países africanos somou US$ 20,5 bilhões em 2010. O Brasil importou US$ 11,2 bilhões e exportou US$ 9,2 bilhões. Skaf prevê que o volume de comércio entre os brasileiros e africanos deverá dobrar em três anos e atingir US$ 60 bilhões em sete nos. “A África tem um crescimento esperado de 5,8% em 2012, enquanto Europa e Japão estão em dificuldades. Quando o PIB de um país cresce, o comércio dele cresce múltiplas vezes. Em 2018, a corrente de comércio [entre Brasil e África] pode chegar a US$ 60 bilhões.”
O presidente da organização Global Alliance for Improved Nutrition (Aliança Global para Melhoria da Nutrição), Jay Naidoo, afirmou que o Brasil é visto com um exemplo porque desenvolveu tecnologia avançada na agricultura. Ele afirmou que o continente precisa de parcerias e quer atrair empresários brasileiros. “Atualmente temos terras sendo ocupadas por gente de fora, de outros países. Tudo bem. No entanto, queremos que nos ajudem a ser autossuficientes [na lavoura] e que respeitem o nosso povo”, disse.
O embaixador do Sudão em Brasília, Abd Elghani Elnaim Awad Elkarim, que participou da reunião, contou exemplos bem sucedidos de empresas brasileiras, como o da indústria Dedini, que forneceu máquinas e equipamentos para a primeira usina sudanesa de etanol, e do grupo Pinesso, que produz commodities agrícolas no país. “Isso mostra a confiança que os sudaneses têm nas empresas brasileiras”, declarou o diplomata à ANBA, em visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, após o encontro na Fiesp.
Elkarim ressaltou a “liderança” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criador do instituto que leva seu nome, na promoção das relações entre Brasil e África. “E estamos felizes que a presidente Dilma tenha continuado no mesmo caminho”, afirmou. “O Brasil parece determinado a continuar a manter relações fortes com a África”, acrescentou.
Vice-presidente para infraestrutura do Banco Africano de Desenvolvimento, Bobby Pittman afirmou que os empresários que quiserem lucrar na África devem se estruturar para desfrutar do crescimento dos países do continente, desenvolver ações de governança corporativa e enxergar as oportunidades que a crise apresenta. “Quem investiu na China, nos Estados Unidos e no Brasil achava que tinha investimentos diversificados, mas, em 2009, a bolsa de Nairóbi, no Quênia, se saiu bem durante a crise”, disse, comparando o desempenho entre as bolsas destes países.
*Colaborou Alexandre Rocha