São Paulo – As exportações do Brasil para os países árabes somaram US$ 1,1 bilhão em julho, um aumento de 14,37% sobre o mesmo mês do ano passado. De janeiro a julho, os embarques renderam US$ 7,16 bilhões, um crescimento de 15,35% em relação aos sete primeiros meses de 2017. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Em julho isoladamente o grande destaque foi o Egito, para onde as exportações chegaram a US$ 295 milhões, um acréscimo de 110% sobre o mesmo mês do ano passado. O país ficou na primeira colocação entre os mercados árabes, à frente da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que tradicionalmente figuram na primeira e na segunda posições, respectivamente.
O desempenho do país africano foi influenciado principalmente pelo avanço das vendas de açúcar, carne de frango e milho, e em menor parte pelo aumento dos embarques de carne bovina, minério de ferro, soja e feijão.
“O Egito vem mesmo num caminho de retomada das importações”, disse o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun. O governo egípcio tem comprado alimentos do Brasil, especialmente carnes, por meio do Ministério da Defesa. Os produtos, no entanto, são vendidos para o consumidor final. “A tendência é que se mantenham estas exportações para o Ministério da Defesa”, comentou o diretor-geral da entidade, Michel Alaby.
Outros fatores explicam o crescimento das compras egípcias também. Até o final do ano passado, o país enfrentava uma forte escassez de divisas com a redução do fluxo de turistas estrangeiros, o fraco desempenho do comércio internacional com impacto nas receitas do Canal de Suez, baixo fluxo de investimentos estrangeiros diretos e uma taxa de câmbio controlada que mantinha a libra egípcia artificialmente valorizada frente ao dólar.
Após chegar a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um empréstimo de US$ 12 bilhões, em novembro de 2016 o Banco Central do Egito adotou um regime de câmbio flutuante, a libra desvalorizou e o país voltou a atrair recursos estrangeiros. No início deste mês, o banco anunciou que as reservas internacionais ultrapassaram US$ 36 bilhões, superando o patamar anterior à Primavera Árabe, em 2011, quando um levante popular pôs fim ao regime do então presidente Hosni Mubarak. Ou seja, aumentou a disponibilidade de moeda forte para bancar importações.
Alaby acrescentou que outra razão para o aumento das exportações, não só para o Egito, mas para os países árabes em geral, é a proximidade do Hajj e do Eid Al Adha, que este ano vão ocorrer entre o final de agosto e o começo de setembro. O Hajj é grande peregrinação anual dos muçulmanos a Meca, na Arábia Saudita, e o Eid Al Adha é a “Festa do Sacrifício”, feriado religioso em memória de Abraão, que ia sacrificar seu filho a Deus, mas provada a devoção do profeta, Deus providencia um cordeiro para ser sacrificado no lugar. As celebrações provocam aumento da demanda por alimentos.
Outros destaques de julho foram o aumento de 131,5% nas exportações para o Iraque, que chegaram a US$ 86,65 milhões; para Omã, que avançaram 35%, para US$ 47,51 milhões; e para a Tunísia, que cresceram 318%, para US$ 45 milhões.
Acumulado
No acumulado do ano, a Arábia Saudita figura como maior destino dos produtos brasileiros, com US$ 1,54 bilhão exportados, um acréscimo de 6,84% sobre os sete primeiros meses de 2016. Os Emirados estão em segundo lugar, com US$ 1,27 bilhão, um aumento de 15,6% na mesma comparação.
O Egito está na terceira posição, com importações de US$ 947,62 milhões, um recuo de 6,51% em relação ao período de janeiro a julho do ano passado. Ou seja, o forte desempenho de julho ainda não foi suficiente para reverter a queda registrada no primeiro semestre.
Em termos de crescimento das exportações, os principais destaques no acumulado de janeiro a julho foram o Djibuti, com avanço de 317,5%, em função principalmente das vendas de açúcar, niveladores de solo e frango; o Bahrein (81,8%), por causa de minério de ferro, produtos químicos inorgânicos e niveladores de solo; o Catar (70,6%), em função de veículos, produtos químicos inorgânicos e material de defesa; o Iraque (60%), em razão dos embarques de açúcar, carnes de frango e bovina, e gado vivo; e Omã (54,5%), com influência das vendas de minério de ferro, frango, sinalizadores e material de defesa.
O açúcar e as carnes bovina e de frango foram os principais itens exportados pelo Brasil ao mundo árabe de janeiro a julho, com minério de ferro na terceira colocação. O aumento das vendas de veículos é outro destaque deste ano.
Segundo análise do Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe, os números mostram que o embargo imposto por outros países árabes ao Catar não tiveram impacto nos negócios do Brasil com aquele país, e que as exportações de carnes ao Oriente Médio e Norte da África voltaram a crescer, após alguma redução no primeiro semestre como reflexo da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que investigou suspeitas de irregularidades em frigoríficos e na atuação de fiscais do Ministério da Agricultura.
“O crescimento de 15% [nas exportações de janeiro a julho] está dentro do que previmos”, observou Rubens Hannun. “As previsões estão se mantendo”, acrescentou Alaby.
Importações
Na outra mão, o Brasil importou o equivalente a US$ 3,88 bilhões dos países árabes nos sete primeiros meses de 2017, um aumento de 19,2% sobre o mesmo período do ano passado. Destaque para o aumento das importações de produtos da Argélia, Arábia Saudita, Marrocos e Egito, entre os principais fornecedores.
No caso do Egito, o crescimento registrado foi de 200%, impulsionado por fertilizantes, combustíveis e azeitonas em conserva. “Importamos muito mais, do Egito principalmente, isso é ótimo, é a contrapartida [do aumento das exportações brasileiras]”, observou Hannun.
De forma geral, as importações de fertilizantes de países árabes aumentaram 52% de janeiro a julho deste ano em relação ao mesmo período de 2016. Esse foi o fator que mais influenciou o desempenho como um todo. Este grupo de produtos, mais petróleo, gás e derivados, respondem por 90% de tudo o que o Brasil compra da região.