São Paulo – O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse hoje (12), em entrevista a correspondentes estrangeiros, em São Paulo, que acredita numa solução negociada para a disputa comercial entre o Brasil e os Estados Unidos sobre os subsídios norte-americanos aos produtores de algodão.
“Minha previsão é favorável, vamos resolver com negociação”, afirmou. O Brasil ganhou processo sobre o fim dos subsídios na Organização Mundial do Comércio (OMC). Como os EUA não cumpriram a decisão, a OMC autorizou o governo brasileiro a retaliar comercialmente em até US$ 829 milhões.
No início da semana, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) divulgou a lista de produtos americanos que terão alíquota de imposto de importação ampliada, que inclui, entre outros itens, trigo e automóveis. O Brasil promete ainda retaliação nas áreas de propriedade intelectual e serviços.
“O Brasil não está fazendo nenhuma retaliação absurda, vingativa, está cumprindo a autorização da OMC. Temos um direito legítimo”, declarou Marco Aurélio. Ele destacou, no entanto, que “o conflito não interessa a ninguém”. As medidas anunciadas pelo governo brasileiro têm prazo de 30 dias para entrar em vigor, prazo tido como suficiente para chegar a um acordo com os norte-americanos.
Marco Aurélio não disse, porém, qual solução seria aceitável para o Brasil fechar um acordo. Segundo ele, a tarefa de encontrar uma proposta que atende aos interesses das duas partes será dos negociadores da área comercial. “Não nos interessa bravatas”, afirmou, acrescentando que a política externa brasileira é “menos declarativa” e busca resultados.
Ver e ouvir
Ele falou também sobre a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a Israel, Palestina e Jordânia na próxima semana. Segundo o assessor, Lula “quer ouvir muito” e ver “in loco e com clareza qual é a distância que separa” os interesses de israelenses e palestinos. “Para construir uma ponte é preciso saber a exata largura do rio”, disse.
Marco Aurélio afirmou, no entanto, que o presidente “não é marinheiro de primeira viagem”, que tem “boa familiaridade” com o tema e não pode ser acusado de ingenuidade nas suas opiniões sobre o conflito. Ele acrescentou que o Brasil quer “ajudar a construir” a ponte, “mas não ser o empreiteiro”.
“Acho mais ingênuo, ou maligno, acreditar que seguir nos caminhos atuais vai resolver [o problema]”, afirmou, destacando que Lula vai dizer isso aos líderes do Oriente Médio em sua viagem à região.