São Paulo – O escritor curitibano Gilberto Abrão lança hoje (22), em São Paulo, o livro “Mohamed, o Latoeiro”, que conta à história de um imigrante sírio que chegou ao Brasil no início do século 20. Ele próprio de origem árabe, Abrão usou em seu romance de estréia muitas das histórias que viveu e ouviu ao longo da vida. “Há muito da minha infância, da minha família, até mesmo alguns nomes, mas o livro é 90% ficção”, disse o autor à ANBA.
Filho de pai sírio muçulmano alauíta e mãe filha de sírios cristãos ortodoxos, Abrão nasceu em 1943 na capital paranaense. Conta que durante a infância o contato com as histórias da terra dos antepassados era constante, pois todos os finais de semana o pai reunia os patrícios em casa, assavam carneiro ou cabrito, cantavam e dançavam. “Eles celebravam o passado, era uma sessão de nostalgia”, afirmou.
Na infância o autor buscou inspiração também para a profissão de seu personagem. O latoeiro, de acordo com ele, passava pelas ruas batendo em uma frigideira, sinal para que as donas de casa levassem suas panelas para consertar. O profissional desamassava, colocava cabos novos e fabricava canecas a partir de latas de óleo. Na vizinhança onde morava, havia até um que se chamava Mohamed.
Aos 10 anos, Abrão fez o caminho contrário do pai e dos avós e foi morar na casa de uma tia no Líbano. O pai queria que ele aprendesse mais sobre a cultura, a língua árabe e a religião muçulmana. Ao retornar ao Brasil, com 14 anos, ele manteve o costume de ler livros em árabe, idioma que fala fluentemente até hoje.
Ele voltou a visitar a região diversas vezes e, na primeira metade dos anos 60, chegou a servir como voluntário na missão das Nações Unidas responsável por vigiar a fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, então sob controle do Egito.
“Foi uma experiência muito boa. Como brasileiro, conheci efetivamente o problema palestino, tomei contato, senti na pele. Embora eu seja filho de árabes, antes esse era um problema distante”, afirmou. Abrão permaneceu um ano e quatro meses a serviço da ONU, primeiro como guarda na fronteira e depois como intérprete, já que fala fluentemente o inglês e o árabe.
Quando voltou ao Brasil, em 1965, passou a dar aulas de inglês e hoje é dono de uma escola que ensina o idioma. Abrão ingressou no mundo da literatura nos anos 70, quando começou a escrever contos e crônicas para um suplemento do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, voltado para a região do Vale dos Sinos, onde fica Novo Hamburgo, cidade onde mora.
A idéia de escrever um livro, porém, surgiu recentemente por influência da amiga Juracy Saraiva, professora de literatura. “Ela sempre me estimulava a escrever, até que, em 2007, eu fiz uma cirurgia no joelho, comprei um laptop e comecei o livro”. A obra, de acordo com ele, demorou um ano e meio até ficar pronta.
No momento em que lança seu primeiro livro, Abrão já terminou o segundo, cujo título é “O Mártir”. Ele dá uma prévia: “É uma história de amor, de uma brasileira judia com um brasileiro filho de palestinos que se encontram em Israel. Polêmico, né?”
Serviço
Lançamento do livro “Mohamed, o Latoeiro”, de Gilberto Abrão
Hoje (22) no Museu de Arte Moderna (MAM), Parque do Ibirapuera, portão 03, às 19h30
Editora: Primavera Editorial
432 páginas
Preço sugerido: R$ 47,80