Rurópolis, Pará – Ao longo da parte paraense da Transamazônica, vários marcos remetem ao período em que ela foi construída, no início dos anos 70, e a Emílio Garrastazu Médici, então presidente do Brasil. Em Altamira, há o toco da primeira árvore derrubada para a construção da rodovia, e o general assistiu ao corte; nas proximidades foi criado o município de Medicilândia, batizado em homenagem ao militar; e, em Rurópolis, existe o hotel Presidente Médice (sic), inaugurado em 1974, na mesma época da estrada.
Médici chegou a dormir uma noite no hotel quando da inauguração, segundo o gerente do estabelecimento, Pedro Buaz de Oliveira, e sua mulher, Eliete. Ela trabalhou no local na abertura e ele foi o administrador entre 1977 e 1982, quando o hotel pertencia ao Instituto Nacional da Reforma Agrária (Incra).
No início dos anos 70, segundo o gerente, Rurópolis tinha pouco mais de dois mil habitantes. Hoje tem mais de 36 mil. A cidade, como muitas outras da região, surgiu na época da construção da Transamazônica, como ponto de apoio aos colonos que se estabeleceram ao longo da rodovia e de suas vicinais.
Era o tempo do "Brasil Grande", idealizado pelos militares, que soçobrou com o primeiro choque do petróleo. Médici foi o terceiro presidente do regime, de um total de cinco. A ditadura durou de 1964 a 1985.
Posteriormente a propriedade foi cedida à Prefeitura de Rurópolis, que há cerca de 10 anos convidou Oliveira a novamente assumir sua gerência. "[O hotel] estava praticamente abandonado. Me perguntaram se eu tinha vontade de tocar, e eu disse: ‘Está bom’", afirmou.
Oliveira conta que, em seu período de glória, o hotel recebia gente do governo e turistas dos Estados Unidos, da Europa e até do Oriente Médio, em busca das belezas naturais da região, como a cachoeira do Grim, nas proximidades da cidade. Segundo ele, o estabelecimento tinha um acordo com o hotel Tropical de Santarém, que pertencia à companhia aérea Varig, que enviava hóspedes para Rurópolis.
"Tinha muita gente famosa, dos Estados Unidos", disse. Outro hospede ilustre, de acordo com Oliveira, foi o sucessor de Médici, Ernesto Geisel, que passou um dia no hotel, mas não chegou a dormir.
Hoje, diz o gerente, a clientela é diversificada, mas não há mais turistas. Boa parte dos ocupantes é gente hospedada pela própria Prefeitura ou funcionários de empresas que trabalham no asfaltamento da estrada que leva a Santarém, um trajeto de 220 quilômetros.
A reportagem da ANBA ficou hospedada uma noite em um dos 20 quartos do hotel, assim como os demais integrantes da Jornada E.torQ Amazônia, viagem de carro de São Paulo ao Pará patrocinada pela Fiat.
Fica claro que o hotel já viu dias melhores, mas ainda é o melhor de Rurópolis, apesar do barulho de morcegos no forro enquanto essa matéria era escrita.