Eldorado (MS) e Santo Antônio do Aracanguá (SP) – O vice-primeiro-ministro da Líbia, Imbarek Ashamikh, conheceu ontem (17) dois projetos de ponta do agronegócio brasileiro: uma usina de açúcar e álcool em Eldorado, no Mato Grosso do Sul, e uma fazenda de gado nelore em Santo Antônio do Aracanguá, município próximo a Araçatuba, no interior de São Paulo. O governo líbio busca oportunidades de investimentos no Brasil e o ramo agropecuário é um dos focos de interesse.
Pela manhã, Ashamikh e representantes de outras áreas do seu governo saíram da capital paulista e foram em vôo fretado para as instalações da ETH Bioenergia, em Eldorado. A empresa é controlada pelo grupo Odebrecht, que tem 67% de participação. Os outros 33% pertencem à trading japonesa Sojitz. Lá, além de visitar a fábrica, a delegação líbia assistiu a uma apresentação sobre o projeto e sobre o mercado de açúcar e álcool feita pelo presidente de ETH, José Carlos Grubisish.
De acordo com ele, a meta da Odebrecht, desde que entrou no ramo sucroalcooleiro em 2007, é se tornar uma das líderes do mercado mundial de bioenergia. O grupo já tem presença forte nas áreas de construção pesada e petroquímica. Até julho deste ano, segundo o executivo, a companhia terá cinco usinas em operação.
A empresa aposta que a demanda por etanol brasileiro vai aumentar dos atuais 24 bilhões de litros anuais para quase 57 bilhões em 2015. Além do mercado interno, que aumenta graças à popularização dos carros bicombustíveis, a ETH acredita no crescimento da procura pelo álcool por outros países. Grubisish disse que até 2015 o mercado mundial deverá mais do que dobrar, com mais 69 bilhões de litros sendo adicionados aos 66 bilhões de litros anuais consumidos hoje.
“Por isso a Odebrecht decidiu entrar no negócio e tornar-se líder”, afirmou o executivo. Além do potencial do etanol como combustível, a companhia vai buscar “novos mercados”, ou outras indústrias que podem utilizar o produto como matéria-prima, como a química, a de aditivos para a gasolina e a de plásticos “verdes”. A Braskem, maior petroquímica do Brasil, controlada pela Odebrecht, já desenvolveu plásticos a partir do álcool.
Como complemento do negócio, a empresa pretende vender a energia elétrica gerada na queima do bagaço da cana-de-açúcar, matéria-prima do álcool produzido no Brasil, e comercializar açúcar. O projeto completo prevê 10 usinas com capacidade para processar cerca de 30 milhões de toneladas de cana por ano. Atualmente a companhia emprega 5 mil pessoas.
O investimento total, segundo o CEO da filial da Odebrecht na Líbia, Daniel Villar, que acompanha o grupo, é de US$ 3,5 bilhões, sendo 40% de recursos próprios dos acionistas e o restante financiado por entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Japan Bank for International Cooperation (JBIC). Pelo plano de negócios, de acordo com Grubisish, entre 2012 e 2013 a ETH terá condições de abrir o capital e lançar ações em bolsa.
Genética
À tarde, os integrantes do governo líbio conheceram a fazenda Guadalupe, em Santo Antônio do Aracanguá, na região oeste de São Paulo, às margens do Rio Tietê. A propriedade é especializada em reprodução e melhoramento genético da raça nelore, gado de corte largamente difundido no Brasil. Entre os animais da fazenda estão campeões e campeãs de exposições nacionais, como a Expozebu, de Uberaba, em Minas Gerais.
Lá o vice-premiê ouviu explicações sobre a produção de carne no Brasil, que é o maior exportador mundial do produto, e sobre as técnicas de melhoramento genético e de manejo que contribuem para ampliar em muito a produtividade.
“Estamos estudando, olhando para o que há de melhor em valor econômico na indústria e na agricultura. Por isso estamos aqui”, disse Ashamikh após as visitas. Hoje a delegação líbia passa o dia em Brasília.