Belém – Além de buscar maior participação no processo de paz entre israelenses e palestinos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (16) em Belém, na Cisjordânia, que o Brasil está pronto para dar mais apoio econômico à Palestina. “Estamos prontos para apoiar as iniciativas do Plano Fayyad”, disse Lula, referindo-se ao projeto de desenvolvimento econômico elaborado pelo primeiro-ministro do país, Salam Fayyad.
O plano inclui 201 projetos, especialmente na área de infraestrutura, no valor de US$ 5,5 bilhões. No encerramento do seminário empresarial Brasil-Palestina, organizado pelos governos dos dois países com apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Lula afirmou que parte desse apoio se dará por meio da identificação de oportunidades de exportação de produtos palestinos e de investimentos.
“Queremos colaborar com o plano do governo Fayyad para modernizar a infraestrutura e diminuir a dependência internacional da Palestina”, destacou Lula, acrescentando que, por esse motivo, os governos do Brasil, da Espanha e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) vão promover uma conferência sobre investimentos nos territórios ocupados por Israel, em São Paulo, no segundo semestre. “O desafio está em atrair para a Palestina tecnologia e capitais brasileiros”, afirmou.
O presidente da Câmara Árabe, que participa da organização da conferência, Salim Taufic Schahin, disse que o evento terá como objetivo “divulgar perante a diáspora palestina na América do Sul, e ao setor empresarial em geral, as oportunidades de negócios na Palestina”. “Setores já identificados como sendo de maior potencial imediato são: granitos e mármores, turismo religioso, produtos das oliveiras e artesanato”, declarou Schahin.
“Os serviços de construção e infraestrutura, inclusive no âmbito do Plano Fayyad, constituem todo um capítulo de oportunidades às quais as empresas brasileiras do setor encontram-se prontas a cooperar”, acrescentou Schahin. “Quero dar um agradecimento especial à Câmara Árabe, parceira do governo na organização deste evento”, destacou Lula.
Para o presidente, o primeiro desafio que precisa ser enfrentado ao desenvolvimento econômico palestino é “romper o bloqueio” israelense. A Cisjordânia hoje é cercada por um muro de concreto, com postos de controle, que dificulta a circulação dos palestinos, e a Faixa de Gaza está sob cerco militar. “A asfixia imposta à Cisjordânia e Gaza impede o acesso ao fluxo de comércio internacional”, declarou.
Segundo Lula, a “derrubada do muro será só o primeiro passo para a reconstrução após anos de sofrimento e destruição”. O presidente reiterou o apoio brasileiro à criação do Estado Palestino com condições de desenvolvimento econômico.
O primeiro-ministro, Salam Fayyad, disse que a economia palestina melhorou nos últimos dois anos, muito graças aos países doadores de recursos financeiros, como o Brasil. Ele ressaltou, porém, que a ocupação mantém a performance econômica aquém do potencial e o desenvolvimento sustentável só poderá ocorrer com a desocupação. “Essa ocupação vai acabar, dizer que isso vai ocorrer não é o problema, o problema é saber quando”, declarou.
As negociações de paz entre Israel e ANP sofreram novo revés na semana passada, quando o governo israelense anunciou a construção de novos assentamentos em Jerusalém Oriental, considerado território palestino ocupado.
Antes de falar no encerramento do seminário, Lula se reuniu com o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, com quem vai se encontrar novamente amanhã. Segundo o chanceler Celso Amorim, o líder palestino pareceu continuar empenhado nas negociações, paralisadas faz tempo, apesar da nova crise diplomática.
De acordo com ele, para a retomada do processo, é necessária alguma ação “prática” de Israel, um “fato novo”, para que haja um mínimo de confiança entre as partes envolvidas. A decisão israelense irritou também o governo norte-americano. Amorim acrescentou que Abbas “pediu que o Brasil continue a se interessar muito” nas negociações.
No seminário, Lula disse que “a ausência de diálogo” faz com que “as coisas demorem mais a acontecer”. O presidente arrancou risos e aplausos da platéia diversas vezes, como quando disse que a solução de dois estados, um israelense e outro palestino, é consenso, “mas falta descobrir por que não aconteceu até agora”; e quando falou que quando conversa com os dois lados dizem que “está tudo andando bem”. “Mas eu acho que algo acontece que não está bem.”
Ele disse que, quem sabe, esse ano ainda algum resultado possa ser alcançado e ressaltou que o Brasil sempre teve interesse no processo de paz, “mas nunca como agora [esteve engajado] em ajudar a encontrar a solução”. “Imagino estar vivo ainda para vir à região e descer num aeroporto dentro do território palestino”, declarou, referindo-se ao fato que todos os acessos, por ar ou terra, hoje passam por Israel.