Amã – Antes mesmo de terminar sua viagem de cinco dias ao Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, em Amã, capital jordaniana, que o chanceler Celso Amorim fosse hoje (18) mesmo à Síria para discutir o processo de paz na região com autoridades locais. A busca da retomada do diálogo e de uma maior participação do Brasil nas negociações entre israelenses e palestinos deu o tom da viagem de Lula por Israel, Cisjordânia e Jordânia.
“A Síria é peça importante tanto no conflito como na solução de paz no Oriente Médio”, disse o presidente, em entrevista coletiva, pouco antes de deixar o hotel Four Seasons para o aeroporto e pegar o voo de volta ao Brasil. “Se os países ricos, ou os países da Europa e os Estados Unidos, não estão conversando com a Síria, o Brasil tem boas relações e vai conversar com os sírios”, declarou. “Se for preciso conversar com o Irã, vamos conversar com o Irã”, acrescentou.
Lula afirmou que “nós precisamos aproximar os interlocutores que podem achar a solução e que não acham porque estão distantes uns dos outros”. “Quando eu fazia uma greve em São Bernardo do Campo, o pior erro que a gente cometia era dizer que não ia conversar com os empresários. Olha, se você faz uma greve para negociar e toma a decisão de não conversar, significa que não tem negociação”, ressaltou, referindo-se ao seu passado como líder sindical no ABC Paulista.
“Então, tem muita gente que é parte da solução do conflito de Israel e da Palestina, dos conflitos do Oriente Médio, e que estão distantes. Sabe, um país não conversa com o outro, o outro não participa da reunião, é uma coisa que parece que tem dono e que ninguém resolve”, comparou.
Lula tem defendido o diálogo entre todas as partes envolvidas direta ou indiretamente no conflito. As Colinas do Golã, tomadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, fazem parte da Síria, país que até hoje tem uma relação beligerante com Israel, embora não haja guerra na prática.
Além disso, como disse Amorim, também em coletiva antes de deixar Amã, “a Síria obviamente exerce influência sobre o Hamas”, movimento palestino que controla a Faixa de Gaza e é contrário às negociações com Israel. Ele ressaltou, porém, que não estava indo para Damasco para ter conversas com esse objetivo, mas destacou que uma solução para a paz só poderá ser encontrada se a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que governa a Cisjordânia, tiver força para negociar em nome de todo o povo palestino.
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Apesar de o Brasil buscar maior participação no processo de paz e de tentar trazer novos interlocutores para a mesa de negociação, tanto Lula quanto Amorim destacaram que os Estados Unidos continuam a ser o intermediário mais importante entre israelenses e palestinos. Sob esse ponto de vista, o presidente reiterou que a reação irritada do governo norte-americano sobre a decisão de Israel construir 1,6 mil novas casas em Jerusalém Oriental, considerada pelos palestinos território ocupado, foi importante porque “mostra que os Estados Unidos não concordam com tudo o que Israel faz”.
Lula reiterou também que tanto os palestinos como os israelenses querem a paz, mas existem outros interesses em jogo que impedem o avanço do processo. “A grande descoberta é saber quem não quer a paz”, declarou. “Quando eu descobrir os que não querem eu vou falar para a imprensa. Temos que conversar exatamente com os que não querem”, acrescentou.
Ele ressaltou, porém, que pretende tratar do tema com “muito cuidado”, porque “tem muitos interesses, muita gente achando que é dona da situação”. “A negociação tem que envolver todos os atores, dos mais radicais aos menos radicais, ou seja, você tem que juntar todos para estabelecer uma regra, porque isso pressupõe compromissos e todos precisam aceitar”, ressaltou. “Se a mesa de negociação voltar a ser a mesmice que sempre foi, o resultado vai ser a mesmice”, destacou.
O presidente conversou sobre o assunto ontem com o rei jordaniano, Abdullah II, com quem teve reunião à tarde e jantar à noite. Segundo Amorim, a Jordânia tem uma posição importante no processo, uma vez que é um dos dois países árabes que têm relações diplomáticas com Israel – o outro é o Egito -, ao mesmo tempo que a maior parte de sua população tem origem palestina.
“Isso dá ao país uma sensibilidade especial para essas questões”, disse o chanceler. “Aqui também escutamos dos vários interlocutores muito incentivo a que o Brasil possa contribuir. E não só o Brasil, é uma questão de dar um pouco mais de visão nova a esses grupos tradicionais, que continuarão a existir, e a quem ninguém pretende substituir, mas a quem seja útil receber algum apoio”, afirmou.
Ele afirmou que em breve haverá uma reunião do chamado “Quarteto para o Oriente Médio”, formado pela ONU, Estados Unidos, União Européia e Rússia, em Moscou. Amorim acha que há espaço para a participação brasileira em futuras discussões, como ocorreu em Annapolis, nos Estados Unidos, em 2007. “Eu acho que essas ideias foram bem recebidas e houve muito incentivo, eu diria até que espontâneo, da parte jordaniana para esse interesse do Brasil na região”, disse.
Lula e Amorim acreditam que o Brasil não tem a mesma bagagem de ressentimentos e disputas históricas que há entre os atuais envolvidos, o que daria ao país a oportunidade de falar sobre questões críticas sem causar grandes indignações.