Trípoli – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (30) que o Brasil está disposto a firmar parcerias para investir na África. Lula será o convidado de honra da sessão de abertura da assembléia de chefes de estado da União Africana (UA), que vai ocorrer quarta-feira em Sirte, na Líbia. “O Brasil está disposto a construir parcerias para investir na Líbia, seja com a União Européia, seja com os Estados Unidos”, disse o presidente em entrevista coletiva no hotel Corinthia Bab Africa em Trípoli, realizada poucas horas depois dele aterrissar na capital do país árabe.
Para o Lula, mais do que dinheiro, os países africanos necessitam de projetos que garantam seu desenvolvimento. Nesse sentido, o governo brasileiro vai assinar três acordos de cooperação com a UA: um para estender para outras nações a iniciativa de uma fazenda modelo de algodão no Mali, que hoje beneficia também o Benim, Burkina Faso, Chade e Mali; outro sobre desenvolvimento social; e o último sobre cooperação na área agrícola com especial ênfase em capacitação de pequenos agricultores, técnicas de comercialização e acesso a mercados.
O tema central da reunião da UA será: “Investindo na agricultura para o crescimento econômico e a segurança alimentar”, área na qual o governo acredita que o Brasil pode contribuir muito. O convite a Lula foi feito pelo presidente da Comissão da UA, cargo equivalente ao de secretário-geral, Jean Ping, do Gabão. Para a diplomacia brasileira trata-se do reconhecimento dos esforços do país para o fortalecimento das relações com o continente. “É um sinal para o mundo inteiro de que o Brasil é visto como um ator importante na África”, ressaltou o embaixador brasileiro em Trípoli, Luciano Ozório Rosa.
Nessa linha, o presidente citou uma série de projetos que já foram iniciados com transferência de know-how e investimentos, como a instalação de uma fábrica de medicamentos em Moçambique, a fazenda modelo no Mali e um programa de formação de professores em países africanos de língua portuguesa. “Temos uma política forte de cooperação com a África”, afirmou. “E possibilidade de fortalecê-la ainda mais”, acrescentou.
Ele destacou que as iniciativas do Brasil em relação ao continente são uma via de duas mãos. Além de auxiliar no desenvolvimento africano, o país, segundo ele, ganha com isso. Como exemplo, o presidente citou o aumento do comércio do Brasil com África, que saiu de cerca de US$ 5 bilhões no início do seu primeiro mandato, em 2003, para US$ 25 bilhões no ano passado; e com as nações árabes, que passou de US$ 4,9 bilhões para mais de US$ 20 bilhões no mesmo período. Todos os países árabes da África, com exceção do Marrocos, fazem parte da UA. A organização tem 53 membros.
Lula voltou a dizer que tanto o Brasil, como os Estados Unidos e a Europa têm uma dívida histórica “impagável do ponto de vista financeiro” com a África, os dois primeiros pela escravização de negros africanos até a segunda metade do século 19, e a última por causa da colonização. Nessa seara, ele afirmou que o Brasil tem tecnologia para oferecer para auxiliar no desenvolvimento, especialmente na área agrícola, até porque partes do continente têm clima semelhante a áreas do país onde o setor é bastante desenvolvido.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já tem um escritório na África, localizado em Gana. Segundo o chanceler Celso Amorim, que acompanha o presidente, o Brasil tem um diferencial que é o de oferecer capacitação às populações africanas sem exigir contrapartidas. Hoje países desenvolvidos e outros emergentes, como China e Índia, têm grandes interesses comerciais no continente. De acordo com o embaixador Luciano Rosa, o Brasil não avança na África com enorme apetite por seus recursos naturais e é visto com menos desconfiança.
“O mundo desenvolvido também pode fazer parcerias com empresas africanas para desenvolver o continente”, declarou Lula. Ele citou o ramo dos biocombustíveis, no qual nações africanas podem atuar para abastecer outros mercados de forma mais barata do que na Europa e nos Estados Unidos, onde o etanol, por exemplo, é fabricado a partir da beterraba e do milho, respectivamente.
Convidados
O chefe do Departamento das Américas no Ministério das Relações Exteriores da Líbia, Mohamed Matri, ex-embaixador da Líbia no Brasil, destacou que durante a reunião da UA serão discutidos outros temas de interesse regional e internacional.
Devem participar do encontro, que vai até sexta-feira (03) chefes de estado e de governo de mais de 40 nações africanas, além do secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon. O líder líbio, Muammar Kadafi, convidou também o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que têm presença confirmada.
No caso da Itália, o embaixador Rosa lembrou que o país europeu e a Líbia colocaram uma pá de cal na animosidade que ainda existia por conta da colonização italiana e assinaram acordos que prevêem, do lado líbio, ajuda contra a imigração ilegal na Europa e, da parte italiana, investimentos de US$ 1 bilhão por ano durante cinco anos na Líbia, inclusive com a construção de uma rodovia para ligar a fronteira do país com o Egito com a fronteira com a Tunísia.