São Paulo – O Marrocos está realizando uma campanha global de atração de investimentos para seu setor industrial com o objetivo de atrair companhias para produzir e exportar a partir do território marroquino. O Brasil é um dos alvos e como parte desta campanha, a Agência Marroquina de Desenvolvimento de Investimentos (Invest in Morocco) e o jornal britânico Financial Times promoveram o jantar executivo Morocco Unlocked – Estratégia, negócios e inteligência regulatória para novos investidores, na noite de terça-feira (24), em São Paulo. O evento contou com o apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
No evento, aberto apenas para a participação de altos executivos, Adil Chikhi, diretor de Desenvolvimento e Marketing Estratégico da Invest in Morocco, Marcelo Sallum, presidente da Câmara Árabe, Larbi Moukhariq, embaixador do Marrocos em Brasília, e Fabio Ermírio de Moraes, conselheiro do Grupo Votorantim, analisaram as principais vantagens para a realização de investimentos no Marrocos.
Chikhi destacou que o Brasil foi escolhido como um dos destinos da campanha pelo tamanho de sua economia e porque, assim como o Marrocos, pode ganhar nesta parceria. “Os investimentos vindos do Brasil para o Marrocos podem nos ajudar a desenvolver nosso setor industrial, a criar empregos e riqueza para o Marrocos, com transferência de tecnologia para nosso país”, afirmou.
“Para as empresas brasileiras que estão produzindo no Brasil e estão vendendo para a região da América Latina ou na América do Sul, o que eu quero dizer é: aqui está o Marrocos, onde você pode produzir e ter novos mercados para vender. Para as empresas que já estão vendendo na Europa ou na África, estamos dizendo que, se produzirem no Marrocos, poderão vender a um preço muito mais competitivo e poderão melhorar suas margens de lucro”, explicou o executivo.
Chikhi lembrou que o Marrocos tem uma série de acordos de livre comércio com países da África, Europa, Oriente Médio e Estados Unidos que podem beneficiar as empresas que se instalarem no país.
“Nós acreditamos muito nesse tipo de encontro, no qual o representante do país vem e apresenta as oportunidades, esclarece as dúvidas, fontes de financiamento, oportunidades de negócios, e nós, como Câmara de Comércio, temos que estar próximos para fazer essa união entre o empresário árabe e o empresário brasileiro”, destacou Marcelo Sallum, sobre a realização do evento. Em sua apresentação, ele ressaltou que, atualmente, os números da balança comercial entre os dois países são favoráveis ao Marrocos.
“Para se ter uma ideia, no ano passado o Brasil exportou US$ 872 milhões para o Marrocos e importou US$ 1,281 bilhão de lá. Temos muito o que melhorar nesta relação”, avaliou o executivo. Sallum também apontou a necessidade de colocar em prática os diversos acordos de cooperação já assinados entre as duas nações e ressaltou a importância da retomada dos voos diretos entre Brasil e Marrocos.
“Eu acho que uma sinalização muito importante foi a retomada dos voos da Royal Air Maroc de São Paulo para Casablanca. Eu acho que isso demonstra claramente o interesse do Marrocos nessa aproximação com o Brasil”, afirmou. A companhia aérea marroquina voou para o Brasil até 1992 e irá retomar suas atividades no país a partir do dia 09 de dezembro.
Segundo Chikhi, as empresas brasileiras não devem pensar no Marrocos apenas como um novo destino de investimento, mas como uma oportunidade para o seu próprio desenvolvimento. “No final das contas, não se trata do Marrocos, mas da própria empresa brasileira que vai crescer. Se hoje a empresa vende só para o Brasil ou Argentina, imagine começar a vender para Europa, África ou para o Oriente Médio”. De acordo com o executivo, o Marrocos tem interesse em atrair indústrias dos setores eletrônico, aeroespacial, automotivo e de agronegócios, que já estão prontas para o processo de internacionalização.
O diretor da Invest in Morocco informou ainda que seu país oferece subsídios que vão de 5% a 15% (para investimentos como compra do terreno e equipamentos) dependendo do setor, importação de máquinário sem taxa e incentivos financeiros também para a capacitação de profissionais. “O treinamento pode ser no Marrocos, na França, no Brasil, onde o conhecimento estiver”, disse.
Clima de estabilidade
O embaixador Moukhariq destacou que o Marrocos tem como vantagem competitiva sua estabilidade política, que se manteve mesmo com os protestos da Primavera Árabe que atingiram a região. “O Marrocos, muito cedo, tomou as medidas necessárias. A monarquia entende as aspirações do povo marroquino”, afirmou.
“As pessoas saíram às ruas, reclamaram por reformas e o rei (Mohammed VI) respondeu com a modificação na constituição e a organização de eleições, das quais vieram um novo governo”, explicou o diplomata, ressaltando que foram as reformas realizadas pela monarquia que mantiveram o Marrocos fora dos grandes distúrbios do movimento popular.
Uma das empresas que está se beneficiando deste bom ambiente de investimentos é o Grupo Votorantim. Atuando há dois anos no Marrocos, por meio da aquisição da empresa de cimentos Asment Temara, o grupo já investiu US$ 250 milhões e planeja dobrar este valor.
“Temos um projeto para a implantação de uma fábrica nova que deve duplicar a nossa posição naquele país. É um projeto ao redor de US$ 250 milhões. Então, entre o ativo que nós já temos e o ativo novo, nós vamos fazer investimentos na casa dos US$ 500 milhões no Marrocos”, revelou Fabio de Moraes.
Atualmente, o Grupo Votorantim está produzindo 1,4 milhão de toneladas de cimento no Marrocos. “O que vimos no último ano é um ambiente de investimentos de avanço rápido. O Marrocos é uma economia muito dinâmica”, avaliou.