São Paulo – Após uma quarta rodada de negociações realizada na semana passada, em Buenos Aires, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Egito está mais próximo de ser assinado. "Temos uma negociação bastante avançada, já intercambiamos as ofertas iniciais de redução de tarifas", disse à ANBA o embaixador Evandro Didonet, chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty.
Segundo ele, as listas de produtos que foram trocadas indicam que a cobertura do tratado deverá ser “muito robusta, acima de 90%”. Se isso for confirmado, o acordo será realmente de livre comércio, e não de preferências tarifárias fixas, que engloba um número menor de itens, como se imaginou no início do processo, em 2004.
O diplomata destacou que as negociações ganharam novo fôlego em novembro do ano passado, após encontro do chanceler brasileiro, Celso Amorim, com o ministro egípcio da Indústria e Comércio, Rachid Mohamed Rachid, em reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra. “Houve uma clara manifestação de disposição política para que o acordo fosse concluído com rapidez”, disse Didonet.
Desde então, tanto Amorim, como Rachid, além do ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, já declararam que esperam ver o tratado assinado em julho, de preferência na próxima cúpula do Mercosul, que vai ocorrer nos dias 15 e 16 do mês que vem, na Argentina.
Para tanto, de acordo com o embaixador, será realizada de 12 a 14 de julho uma quinta rodada de negociações. "E esperamos que seja a última", afirmou ele, acrescentando que “a expectativa é positiva”, mas em se tratando de negociações comerciais a certeza só vem no último instante.
O negociador brasileiro afirmou que ainda resta algum trabalho para melhorar as ofertas das duas partes, mas não são esperadas grandes resistências de setores considerados sensíveis, como ocorreu na negociação do Mercosul com o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), que está paralisada porque a indústria petroquímica brasileira é refratária à redução de tarifas de produtos do ramo importados do bloco árabe. O GCC é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã.
Além do aprofundamento da discussão sobre os produtos que serão desonerados, ainda falta acertar algumas regras do acordo, sobretudo no que diz respeito a salvaguardas e regras de origem.
Se o tratado for efetivamente assinado, será o segundo que o Mercosul fecha com um país de fora da América Latina. O primeiro foi com Israel. Didonet destacou que o acordo é “da maior importância”, uma vez que o Egito é um dos países com mais peso no mundo árabe. Em sua avaliação, ele vai dar “grande visibilidade” ao bloco sul-americano e abrir uma “porta de entrada” ao Oriente Médio e Norte da África.
O Egito é um dos principais parceiros do Brasil no mundo árabe. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações brasileiras ao país árabe renderam US$ 185,5 milhões em maio, um aumento de quase 100% em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, o valor dos embarques chegou a US$ 535 milhões.
A balança comercial, no entanto, é bastante superavitária para o Brasil. Os governos dos dois países acreditam que o acordo vai ajudar a equilibrá-la, dando maior sustentabilidade ao comércio.