São Paulo – A gaúcha Ladimari Toledo Hoeppler acaba de publicar o livro infantil “Meu nome é Ali. Qual o seu nome?” durante a Feira Internacional do Livro de Sharjah, neste mês. O título original em inglês é “My name is Ali. What is your name?”. O personagem principal é um menino de dez anos com Síndrome de Down.
“Ali é um menino de dez anos. Ele é muito alegre e adora dividir as coisas que ele faz ao longo do dia. Ele vai contando sobre sua família, seus irmãos, as coisas que gosta de fazer, de uma forma muito especial e interativa, prendendo a atenção desses pequenos leitores, e o que eu acho muito legal é que sempre depois que ele conta alguma coisa dele, ele pergunta algo sobre a criança”, contou Ladimari em entrevista à ANBA.
Segundo a autora, Ali conta no livro, por exemplo, que gosta de sorvete, e pergunta se a criança que está lendo também gosta. Diz que adora jogar videogame, e pergunta se a criança também gosta, e por aí vai. “E ao final da história ele lembra que tem Síndrome de Down e pergunta se a criança sabe o que é, e explica em informações básicas, em um nível que as crianças possam entender, o que é a síndrome. É um livro muito legal, vale conferir”, disse Ladimari.
O objetivo do livro, para a autora, é que haja uma troca de percepção de qualquer tipo de limitação ou necessidade especial entre essa nova geração de crianças. “Acho que somos participantes do meio social e precisamos integrar, fazer parte da vida das pessoas de uma forma ou de outra, e mostrar para essa nova geração que vale a pena oferecer o apoio, o auxílio, ajudar, e por outro lado as crianças especiais vão receber esse carinho e apoio, eles podem, basta olhá-los de uma forma diferente, acreditando neles, e dando oportunidade para que possam desenvolver todas as habilidades que eles podem desabrochar”, disse.
Desde muito jovem, Ladimari se deu conta e se incomodou com o preconceito sofrido por pessoas com necessidades especiais. Quando chegou o momento de fazer faculdade, ela optou pela graduação em Educação Especial e começou a trabalhar com crianças com necessidades especiais. Hoje é mestre e doutora na área. “As pessoas com necessidades especiais têm habilidades e se for dada a elas a oportunidade de desenvolver essas habilidades, elas podem se sobressair”, disse.
No seu período de graduação, uma amiga teve uma filha com Síndrome de Down. “Hoje, a Vitória tem mais de 20 anos. Eu, essa minha amiga e mais uma mãe criamos juntas uma Associação de Síndrome de Down em Santa Maria (RS). A ideia era auxiliar as famílias com informações para os pais e atividades para as crianças”, contou.
Depois do doutorado, onde conheceu seu marido, ela foi morar no Canadá e nos Estados Unidos. Ladimar se mudou para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2017. Lá atuou como professora particular de um menino de 11 anos com Síndrome de Down, quando ela percebeu uma lacuna no ensino tradicional das escolas.
“Me dei conta que a inclusão propriamente dita na escola do meu aluno não estava acontecendo, os professores nunca explicaram para as outras crianças o que era a Síndrome de Down, as características, o comportamento. E aí fui ver o trabalho de outras escolas e percebi que o trabalho era muito limitado, que não tinham as pessoas certas para dar as respostas, tinha uma lacuna, um problema ali”, contou.
Com isso, a doutora conversou com a família da criança e explicou que quem tem Síndrome de Down precisa de uma vida social intensa, da repetição, de uma forma diferenciada de ensino.
“Chegamos à conclusão que essa criança não estava recebendo um ensino, um trabalho acadêmico adequado para o que ele necessitava naquele momento. Ele estava estudando com crianças menores que ele e o nível de aprendizagem dele estava muito abaixo naquele ambiente”, disse.
Foi em 2018, com o apoio da família desse aluno, que Ladimari criou o Dubai Down Sindrome Centre (Centro de Síndrome de Down de Dubai), uma escola voltada para crianças com Síndrome de Down com currículo integral e meio período para crianças com outras necessidades especiais.
Ladimari criou e desenvolveu todo o currículo do centro, que oferece atividades das 9 horas às 17 horas para crianças e adolescentes de 5 a 18 anos com fisioterapia, fonoaudióloga, arte, leitura, escrita, música e educação física, entre outras atividades. “É um currículo extremamente completo para o desenvolvimento deles. A forma de ensiná-los tem que ser muito visual e com muita repetição, então o centro oferece todo esse aparato, novas tecnologias, estratégias diferentes”, disse.
No turno da tarde, das 14 horas às 17 horas, o centro é aberto para crianças com outras necessidades especiais e também oferece fonoaudiologia, fisioterapia, leitura, escrita, entre outras atividades.
O centro teve de fechar em março temporariamente em função da pandemia de covid-19. “A ideia é que em janeiro de 2021 a gente reabra. As pessoas com Síndrome de Down apresentam um alto nível de problemas respiratórios, então precisam estar resguardadas para não se afetarem pela covid-19”, disse.
A partir desse trabalho no centro e dando palestras sobre a Síndrome de Down em diferentes lugares, como escolas, empresas e embaixadas, foi que Ladimari teve a ideia de escrever o livro. Eu vi que as crianças faziam muitas perguntas e que existia essa lacuna de informação, então decidi escrever o livro, para auxiliar essa nova geração, para que elas saibam melhor sobre a síndrome e para que haja esse contato maior entre as crianças, que elas interajam mais entre si”, concluiu.
Em janeiro deve sair edição do livro em árabe. Há previsão para traduções em turco, português e espanhol, ainda sem data definida. O livro pode ser comprado pelo site da Amazon ou entrando em contato com a autora pelo e-mail ladimarito@gmail.com.
O valor arrecadado pela venda dos livros será utilizado para um projeto de Ladimari para a conscientização de mães e famílias que estão esperando bebês com Síndrome de Down. Será um guia completo com informações e depoimentos em vídeo, com material em diferentes idiomas.