São Paulo – A jovem paquistanesa Malala Yousafzai ficou famosa em 2012 após ser baleada pelo grupo Talibã por sua defesa pelos direitos à educação de meninas em sua região. Sua história serviu de inspiração para um grupo de alunos e professores da Universidade de São Paulo (USP), que criou, no ano seguinte, uma revista com o nome da jovem para debater questões políticas e religiosas do Oriente Médio. Este mês, a publicação eletrônica Malala (www.revistas.usp.br/malala) chega à quinta edição.
“A cada vez temos um tema central. Já escrevemos sobre os movimentos sociais no mundo árabe; sobre o conflito Israel-Palestina, que é um tema super popular entre a intelectualidade da América Latina; fizemos análise do Hamas; falamos sobre a não intervenção internacional na guerra civil na Síria e sobre Orientalismo. Este número vai falar sobre se é possível criticar o Islã, quais os perigos e como é possível fazer isso”, conta Peter Demant, editor responsável pela revista.
Demant é historiador e professor de Relações Internacionais na USP, especializado em questões do Oriente Médio, mundo muçulmano e relações Islã-Ocidente. A criação da revista Malala é uma iniciativa do Grupo de Trabalho Oriente Médio e Mundo Muçulmano (GTOMMM) da USP e conta ainda com uma comissão editorial formada por quatro especialistas em Relações Internacionais.
O professor destaca que a intenção da revista é estar aberta a uma “variedade de linhas de pensamento”. “Queremos evitar algo islamofóbico, mas não queremos uma adulação do Islã”, diz Demant. Ele indica, por exemplo, que o quarto número da revista, sobre o conflito Israel-Palestina, trouxe posições de defensores de ambos os lados. “Tentamos manter uma pluralidade de opiniões”, diz.
Apesar de o Brasil ter um grande foco em suas relações com os Estados Unidos, o editor da Malala afirma ver um aumento do interesse nas relações do País com outras regiões. “Nos últimos 15 anos, vi um interesse crescente para outras partes do mundo, como a China e o Oriente Médio. O Brasil tentou se perfilar na nuclearização do Irã, junto com a Turquia”, exemplificou.
Para ele, essa atenção não parte apenas do governo brasileiro. “Percebo entre os alunos um interesse grande sobre o Islã, Oriente Médio e mundo árabe. Interesse não falta. O desafio é educar para [a aceitação de] vários pontos de vista”, ressalta o professor.
Nas edições já publicadas da Malala há artigos, entrevistas, relatórios e pesquisas. A maior parte do material está em português, mas Demant destaca o aumento da publicação de trabalhos em inglês “para que sejam entendidos fora do Brasil”. A revista também traz material em espanhol.
A publicação de artigos na Malala é aberta a alunos, professores e especialistas do Brasil e do exterior. A cada número, é feita pela internet uma chamada por artigos sobre o tema central daquela edição. Segundo Demant, já foram recebidos trabalhos países como Espanha e Grécia.
Segundo Demant, os temas das próximas edições ainda serão definidos, mas ele acredita que assuntos como terrorismo e a situação do Egito devam entrar na pauta da revista.
O lançamento do quinto número da Malala acontece no dia 27 deste mês, com a apresentação de um filme e a realização de debates no Instituto de Relações Internacionais da USP.
Serviço:
Lançamento Revista Malala – nº 5
Dia 27 de novembro, às 15h
Local: Sala da Congregação, IRI-USP (2º Andar). Av. Prof. Lucio Martins Rodrigues, s/n – travessas 4 e 5 – Cidade Universitária – São Paulo
Programação:
15h: sessão aberta “Timbuktu”
16h30: “O Terrorismo Islâmico no Mali”, debate com Natalia Nahas Calfat
17h30: “Leituras, Interpretações e Críticas sobre o Islã pós-Charlie Hebdo” Mesa com a Profa. Dra. Francirosy Campos e o Prof. Dr. Peter Demant (via skype), mediação Cila Lima.
19h30: “O Islã, o Corão e seus Críticos”, conferência com Magno Paganelli, comentários de Ariel Finguerut.
Entrada gratuita