Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – A Petrobras está investindo US$ 2,1 bilhões na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada no município de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, capital do Paraná. Trata-se do maior investimento realizado pela estatal em uma única planta industrial em todo o país. O plano de investimentos, que vai até 2011, contempla 19 projetos, que deverão gerar cerca de 60 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos. Ele deve movimentar amplos setores da economia do Paraná e do país.
Os recursos serão aplicados na instalação e ampliação de unidades produtoras de coque de petróleo, gasolina e diesel, gás de cozinha, propeno e hexano. A estimativa é de aumentar em 10% a capacidade de refino, que passaria para 220 mil barris por dia. “Até agora estivemos concentrados nos projetos básicos”, explica João Adolfo Oderich, gerente-geral da unidade.
No final do ano passado, teve início a fase de licitação das obras de terraplanagem e construção civil, na qual é maior a absorção de mão-de-obra. A compra de alguns equipamentos também está sendo ou já foi licitada. É o caso da nova caldeira, que está sendo construída pelo consórcio SES Montcalm – formado por uma empresa brasileira e outra eslovaca. Ela vai gerar 180 toneladas horárias de vapor, usado no refino do petróleo.
Nos próximos quatro anos, estes US$ 2,1 bilhões não vão produzir apenas mais derivados de petróleo e empregos. Trarão uma ajuda substancial ao esforço arrecadador do governo do Estado. Os investimentos da Petrobras em Araucária vão produzir um montante estimado de US$ 200 milhões em Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Além de reforçar o caixa estadual, as obras na Repar estão originando um efeito em cadeia que vai atingir diversos setores da economia paranaense. Vão gerar oportunidades de negócios nos segmentos agrícola, de serviços e industrial, da capital, Região Metropolitana e interior. "Os efeitos sobre os níveis de emprego e renda devem ser relevantes durante a construção dos complexos industriais e, principalmente, depois de instaladas as plantas fabris" avalia o economista Gilmar Mendes Lourenço, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.
Este é o caso da unidade produtora de propeno. Trata-se de um insumo fundamental para indústrias petroquímicas de segunda e terceira geração, como a de polipropileno, empregado na produção de acessórios para automóveis, embalagens e utilidades domésticas. O propeno também entra na fabricação do ácido acrílico, usado na produção de polímeros superabsorventes, acrilatos de butila – matéria-prima da indústria de tintas e vernizes – e acrilatos – empregados no tratamento de água. A unidade a ser instalada na Repar demandará recursos da ordem de US$ 76 milhões, com capacidade para produzir 180 mil toneladas anuais do produto. E surge como o núcleo de um futuro pólo petroquímico na Região Metropolitana de Curitiba.
Construção
O setor da construção civil é um dos que estão diretamente interessados no plano de investimentos da Petrobras. No começo de 2006, os técnicos da estatal estiveram reunidos com dirigentes do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), em Curitiba. O objetivo foi apresentar os projetos aos empresários e explicar-lhes as possibilidades de negócios que se abrem com os investimentos em Araucária. "A expectativa é de que haja uma grande movimentação no setor", declara Júlio Araújo Filho, presidente da entidade.
Uma realidade constatada a partir dos dados apresentados pela Petrobras é que, eventualmente, haverá demandas que, por suas dimensões ou especificidades tecnológicas, não terão condições de ser atendidas pelas construtoras paranaenses. Neste caso, o Sindicato sugeriu a possibilidade de formação de consórcios de empresas. Outra medida adotada para aprimorar a competitividade do setor frente à magnitude dos projetos para a Repar foi a parceria com o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e o Senai.
As construtoras também estão buscando sua adequação aos padrões exigidos pelo Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade do Habitat (PBPQ-H). Segundo Araújo Filho, os benefícios de adaptar-se a estas normas ultrapassam os limites do atendimento às demandas da Petrobrás. Geram um importante mercado para as empresas da construção civil do Paraná em outros setores, também ciosos da qualidade dos seus fornecedores.
O fato é que já há empresas paranaenses integradas à cadeia de fornecedores da Petrobras ou trabalhando para se adaptar às exigências e abocanhar uma parcela dos investimentos previstos para a Repar. Carlos Roberto Nunes Lobato, sócio da Goetze Lobato Engenharia, conta que a sua construtora adaptou-se às condições impostas pela estatal. Atuando há quinze anos na construção civil, há quatro anos presta serviços para a empresa, tendo realizado obras na Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em Paranaguá.
*Federação das Indústrias do Estado do Paraná