São Paulo – A alta mundial nos preços das commodities deve incentivar os investimentos no campo no Brasil e, consequentemente, o aumento da produção. Isso deverá ocorrer a partir da capitalização maior do agronegócio brasileiro, quando começa o período forte das exportações e pagamentos de safra no país, no início do ano que vem. A afirmação é Steve Cachia, analista de Commodities da Cerealpar, corretora de cereais.
"O Brasil, como grande produtor e exportador, vai ser estimulado a produzir cada vez mais e continuar atendendo importadores como os países árabes", afirma Cachia, a respeito da disponibilidade maior de produtos agrícolas que o Brasil pode ter para exportação, a partir da alta nas cotações das commodities. Os produtos agrícolas nos quais mais está se verificando esse aumento são os do complexo soja, além de algodão e açúcar.
"O açúcar está com o melhor preço dos últimos trinta anos. O algodão está com o melhor preço de todos os tempos", afirma Cachia. A maioria das commodities, entre elas a soja e seus derivados, está voltando aos patamares de 2008, antes da crise econômica mundial. Na época, houve o início de um “boom” das commodities, com investidores aplicando no segmento e dando a ele maior liquidez, o que recuou com o começo da crise.
"Agora, com certa calmaria na economia mundial, o dinheiro está voltando para esse mercado", afirma Cachia. As aplicações em títulos lastreados em commodities acabam influenciando no preço dos produtos. Somado a isso há o aumento da demanda, principalmente chinesa, e a redução da oferta por problemas de safras em diversos países. Esse movimento de alta nos preços começou principalmente a partir de julho deste ano, segundo o analista, com anúncio de quebra da safra de trigo na região da ex-União Soviética.
E o viés de alta nas cotações, se for levado em conta oferta e demanda, continua. Isso porque a América do Sul, por exemplo, uma das regiões grandes produtoras de commodities, principalmente agrícolas, espera para a safra 2011 a convivência com a La Niña, fenômeno climático que causa seca. Ou seja, pode haver problemas na oferta e influenciar a manutenção dos preços altos. Os Estados Unidos também anunciaram safra de soja menor do que o esperado. "Não tem mais espaço para quebras de safra", afirma Cachia.
Outro fator que tem peso, no entanto, na permanência ou não da alta dos preços das commodities, é o desempenho das economias desenvolvidas. Uma melhora poderia influenciar para cima as cotações, em função de uma maior disponibilidade de dinheiro no mercado. Mas os analistas não têm previsões muito positivas para a recuperação das economias européias e norte-americana. “Eu passo alguns meses no Brasil e alguns na Europa. Esse clima de euforia só há no Brasil e na China”, afirma Cachia.
Ao mesmo tempo em que a maior cotação injeta dinheiro no campo no Brasil, favorecendo e incentivando setores ligados ao agronegócio – como produção de máquinas -, pesa negativamente nas compras do consumidor urbano. É esperado que essa alta de preços gere algum tipo de pressão inflacionária, não apenas no Brasil, mas também em outros países.