Isaura Daniel
São Paulo – A experiência em produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas deve abrir deve abrir novas portas para a Petrobras no exterior nos próximos anos. A companhia brasileira é líder global neste tipo de tecnologia e, de acordo com seu gerente-geral de gestão de projetos de exploração, Luiz Reis, a maior parte das áreas com petróleo não exploradas no mundo está em águas profundas. São consideradas águas profundas áreas no mar com mais de 300 metros de profundidade e ultraprofundas as áreas com mais de dois mil metros.
Atualmente, dos quase dois milhões de barris diários que a Petrobras produz no Brasil, 65% vêm de águas profundas e ultraprofundas. E 80% das reservas de petróleo que existem no país estão neste tipo de área. Os demais 10% estão em águas rasas e os outros 10% em terra, de acordo com Reis."A nossa grande experiência no Brasil é em águas profundas", diz o gerente. A Petrobras recebeu, em 1992 e 2001, prêmios da Offshore Technology Conference pela liderança mundial em tecnologia de produção de petróleo em águas profundas.
A experiência na Petrobras neste tipo de trabalho começou ainda na década de 60, quando começou a ser explorado o primeiro campo de petróleo no mar. Com o passar do tempo, as descobertas foram aumentando e cada vez em áreas mais profundas. Hoje, a produção mais profunda de petróleo da companhia é feita a 7,6 mil metros de profundidade. De acordo com Reis, o fato de a Petrobras ser uma estatal a levou à especialização em águas profundas. Segundo ele, por priorizar o Brasil, em vez de partir em busca de petróleo em terra em outros países, a companhia optou por procurar a commodity no mar.
A Petrobras utiliza um sistema de plataformas flutuantes que foi desenvolvido por ela mesma em conjunto com prestadores de serviço internacionais. Em vez de construir a plataforma de forma fixa, com os pés no fundo do mar, a plataforma, que tem âncoras e motores, bóia e é controlada por computadores. O petróleo que vai sendo retirado do fundo do mar é depositado em um navio cisterna para que, ainda em alto mar, seja depositado em um outro navio, que o transportará.
Uma das vantagens desse sistema, segundo Reis, é que a plataforma é instalada de forma mais rápida. O Brasil começou a usar esse sistema justamente porque tinha pressa em produzir mais petróleo e chegar à auto-suficiência, o que ocorreu neste ano, quando a produção se igualou ao consumo interno. Hoje, além da tecnologia de ponta que lhe fornece crédito para atuar no mercado internacional, a Petrobras tem um time de profissionais especializados em águas profundas.
"Temos um corpo técnico com 40 anos de experiência com a geologia desse ambiente de águas profundas. Isso nos dá vantagem perante as outras companhias no exterior e nos permite abrir novas frentes no exterior", afirma o gerente de geofísica da área de exploração da Petrobras, Celso Martins. A companhia, segundo Reis, tem interesse em produzir petróleo em novas áreas, em águas profundas, fora do Brasil, apesar do principal foco ser o Brasil.
A atuação no exterior, segundo Reis, é considerada complementar para a Petrobras. No país, segundo ele, há uma produção grande de óleo pesado e como grande parte das refinarias brasileiras foram feitas no passado para o petróleo leve, já que a própria companhia não produzia em tanto volume, o Brasil precisa importar o óleo leve e exportar parte do pesado. Em águas profundas é encontrado tanto petróleo leve quanto pesado.
No mundo
De acordo com informações publicadas no site de notícias petrolíferas Rigzone, atualmente há 204 plataformas petrolíferas flutuantes no mundo, das quais 32 estão em águas com até 450 metros de profundidade. Já em águas com profundidade entre 450 metros a 1,2 mil metros há 92 plataformas, segundo o site. O maior número delas está em áreas com mais de 1,2 mil metros de profundidade.
A Petrobras assinou recentemente com a estatal petrolífera da Turquia, a Türkýye Petrollerý Anoným Ortaklidi, dois contratos para exploração e produção de petróleo em águas profundas no Mar Negro. A empresa vai produzir em dois blocos, um no oeste da parte turca do Mar Negro, a 1,2 mil metros, e outro na parte oriental, a 2,2 mil metros.