São Paulo – A startup brasileira Cognisigns desenvolveu um software capaz de diagnosticar o autismo em crianças e adultos. Criada em Florianópolis (SC) há um ano e meio pelo neurocientista Leandro Mattos e a psicóloga Andressa Roveda (foto acima), a companhia pretende mapear os autistas no Brasil e no mundo antes de chegarem ao consultório médico.
O projeto foi vencedor do TIP Summit 2020 (Technology Innovation Pioneers) em Abu Dhabi, que ocorreu em fevereiro. Entre quatro mil inscritos, o evento selecionou cinco startups vencedoras nas categorias Saúde, Meio Ambiente e Energia, e a Cognisigns ficou entre as cinco da categoria Saúde, ganhou um prêmio em dinheiro e pretende implantar o software nos Emirados. A empresa vai abrir um escritório em Abu Dhabi até o final deste semestre.
A ANBA conversou com Leandro Mattos, que contou um pouco sobre o software e a participação no TIP Summit, evento organizado pelo Ministério da Economia dos Emirados.
O transtorno do espectro do autismo ainda é pouco conhecido no mundo, disse Mattos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1% a 2% da população mundial é autista (dados de 2010). “Se 1% é autista, o Brasil teria dois milhões de autistas, mas apenas três mil pessoas são diagnosticadas dessa forma no País. Isso dá um total de 0,15%, ou seja, 99,85% das pessoas não sabem ou desconhecem o transtorno, e nós queremos chegar nessas pessoas, porque se elas não têm o diagnóstico, não procuram o médico”, explicou Mattos.
O software, segundo ele, tem uma primeira etapa com um questionário de múltipla escolha, de usabilidade simples, que vai se adaptando de acordo com a resposta dos pacientes. Se for detectado algum traço de autismo, a pessoa passa para a segunda fase do programa, que é um rastreamento ocular feito pela câmera do computador.
“Dá para fazer tudo online, são questionários internacionais, já traduzimos para o inglês e o árabe, e o comportamento visual não depende da cultura ou do idioma, não precisa de tradução. A partir desse diagnóstico a criança ou adulto pode ir ao médico para fazer o tratamento adequado e ser incluso socialmente”, explicou.
O rastreamento ocular é feito por estímulos visuais, como um videogame, que estimula reações, e pela captura dessas reações é possível fazer os diagnósticos. “O que nós queremos fazer é uma espécie de teste do pezinho do autismo, se nós conseguirmos fazer esse scanner global, vamos ajudar na triagem populacional, colocando a tecnologia a serviço das famílias e dos médicos”, disse.
A primeira etapa, a do questionário, é grátis. A segunda etapa é paga e o valor é de R$ 250. Segundo Mattos, o público-alvo da startup são as famílias, as empresas e os governos. “A jornada de compra dos pais é mais rápida, a das empresas leva um tempo intermediário, e são nosso foco neste momento, o B2B; e os governos leva bastante tempo, mas também estamos trabalhando nisso”, disse.
Para os governos, o software poderia fazer uma triagem para estratificação das filas de atendimento do SUS, por exemplo. Os pacientes diagnosticados com autismo iriam para o início da fila, com caráter de urgência. “O governo não precisa de mais hospitais para tratar o autismo, talvez ele só precise organizar melhor a fila, e isso teria um impacto financeiro de redução de gastos para o governo; já realizamos o teste em escolas municipais de Florianópolis”, contou.
O software já ajudou diversas famílias, crianças e adultos no Brasil e pretende chegar em regiões de difícil acesso ao atendimento médico para oferecer acessibilidade às pessoas. “Hoje nós ajudamos pais de autistas, crianças, médicos. Identificamos e fazemos o acompanhamento dessas pessoas, a conscientização e a inclusão que o diagnóstico gera. É isso que nos move, nossa grande moeda, além do financeiro, do operacional, que toda empresa precisa, quando você vê isso acontecer é diferente e muito recompensador”, declarou.
TIP Summit
A Cognisigns está trabalhando para sua operação nos Emirados. “Nossa intenção é que a empresa passe a ser brasileira e árabe. O TIP Summit foi como um passaporte para entrar em contato com os Emirados, nós fomos só para o prêmio, e agora queremos abrir a empresa lá com um sócio árabe, estamos buscando essa parceria”, disse Mattos, que pretende abrir o escritório ainda este semestre.
Segundo ele, existe a possibilidade de incubação nos Emirados. A Cognisigns fica incubada na Miditec, a quinta melhor incubadora do mundo, em Florianópolis. “O que eu sinto do mundo árabe é que eles estão muito empenhados nessas questões de tecnologia assistiva a minorias”, disse.