Giuliana Napolitano
São Paulo – Começa a funcionar no próximo mês, em Brasília, a primeira embaixada do Sudão na América Latina. O objetivo da representação diplomática é "aproximar" os dois países, especialmente no campo econômico, disse à ANBA o embaixador Ramatullah Mohamed Othman, que chegou ao Brasil no início de março. "É uma honra estar aqui", declarou.
Othman lembrou que, da mesma forma que ocorreu com muitos países árabes – entre eles, o Iraque -, Brasil e Sudão iniciaram um relacionamento comercial na década de 1970. "Importamos, por exemplo, cerca de 300 ônibus da Mercedes Benz em 1977, que eram usados para o transporte público", contou.
Os negócios não continuaram e, no ano passado, a corrente de comércio bilateral não passou dos US$ 8 milhões. Além de baixo, o volume é quase 50% inferior ao registrado em 2002, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O embaixador, porém, tem uma série de projetos engatilhados para melhorar esses números. Um deles envolve a Petrobras. Segundo Othman, o governo sudanês quer que a estatal brasileira explore petróleo na região do Mar Vermelho, que fica entre a Ásia e a África. "Já temos empresas da China, da Índia e da Europa ali e queremos a participação da Petrobras, que é uma companhia com uma excelente reputação mundial", disse e acrescentou que terá "em breve" uma reunião com representantes da estatal para discutir a proposta.
Outro projeto está ligado à área de tecnologia agrícola. Othman lembrou que o Sudão é um "país agrícola": a agricultura contribui com mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega cerca de 80% da população economicamente ativa.
"E produzimos itens similares aos do Brasil, como algodão, soja e cana-de-açúcar. Por isso, acho que podemos estabelecer uma cooperação na parte de tecnologia e pesquisas agrícolas e usar o expertise que os dois países têm em determinadas áreas", explicou.
Licitação para usina de açúcar
Uma chance mais imediata para empresários brasileiros pode ser a abertura de licitação para a construção de uma usina de açúcar no país. A usina, disse o embaixador, terá capacidade para produzir 500 mil toneladas de açúcar por ano, e a intenção do governo é comprar do Brasil as caldeiras de vapor, que geram energia para a indústria e, segundo Othman, representam metade do custo dessas fábricas.
"O Brasil é muito famoso na produção de açúcar e derivados. Por isso estamos interessados. Queremos a tecnologia brasileira", declarou Othman. O prazo para enviar propostas para a licitação vai até o dia 22 de abril, informou o diplomata.
Prédio e turismo
Esses projetos já estão sendo tocados, disse Othman, apesar de a embaixada ainda não ter uma sede fixa no Brasil. "Estamos procurando um prédio", explicou. Além disso, o diplomata precisa apresentar credenciais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A previsão é iniciar as atividades formais em abril "no máximo", declarou.
Além das metas comerciais, outro objetivo do governo do Sudão, ao abrir uma embaixada no Brasil, é "aumentar o relacionamento com nossa comunidade no país", afirmou. Ele disse não saber quantos sudaneses vivem no Brasil hoje, mas lembrou que ter esse tipo de número também fará parte do trabalho da representação diplomática.
Othman disse ainda que a inauguração da embaixada deve abrir caminho para aumentar o turismo entre os dois países. "Hoje é muito difícil para brasileiros irem ao Sudão e vice-versa, porque não existem sedes diplomáticas. Isso atrapalha o turismo, convencional e de negócios. Queremos encurtar esse caminho e dar mais informações a turistas e empresários", afirmou. O Brasil também não tem embaixada no Sudão.
A reunião de cúpula entre chefes de governo árabes e sul-americanos, proposta por Lula e prevista para ocorrer no Brasil em dezembro, também é encarada por Othman e pelo governo do Sudão como forma de aproximar as duas regiões. O embaixador disse que o presidente do país, general Omar Hassan Ahmad al-Bashir, "respondeu positivamente" ao convite brasileiro. "Apoiamos esse tipo de iniciativa, que leva a um maior conhecimento mútuo".
Perfil
O Sudão faz parte dos países árabes do Norte da África. A renda per capita do país é baixa: está em cerca de US$ 1,4 mil, pelo critério de paridade de poder de compra da Organização das Nações Unidas (ONU), usado para comparações internacionais. Mas o país vem implementado reformas para ativar a economia: começou a exportar mais (atingiu o primeiro superávit comercial em 1999), elevou sua produção de petróleo e adotou uma política monetária que estabilizou a taxa de câmbio. O resultado foi um crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002.
Ainda assim, a base econômica do Sudão é a agricultura. As plantações de algodão – principal produto exportado – e de outras culturas são favorecidas pela bacia do Rio Nilo, que corta a parte sul do país. O norte é coberto por desertos e pelo clima semi-árido. "É um pouco parecido com o que acontece no Brasil", comparou o embaixador.
Contato: licitação
Mais informações sobre a licitação para a usina de açúcar podem ser obtidas na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), no tel: (11) 3283-4066.