São Paulo – O Sudão quer atrair investimentos e realizar cooperação técnica na área de petróleo e gás com o Brasil. Este foi um dos principais temas tratados durante a visita de uma delegação liderada pelo ministro do Petróleo do país árabe, Awad Eljazz. Os sudaneses exploraram o assunto em seminário realizado nesta terça-feira (27) na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
“Temos vários projetos no setor de petróleo”, afirmou Eljazz. “Tivemos uma reunião com a Petrobras com boas discussões técnicas”, declarou o ministro. Azhari Abdalla, diretor-geral de Exploração do Ministério do Petróleo sudanês, informou que a reunião ocorreu na segunda-feira, no Rio de Janeiro, com representantes da petrolífera brasileira.
“Discutimos projetos potenciais em termos de exploração de petróleo e gás, particularmente exploração marítima no Mar Vermelho do Sudão. Apresentamos a eles detalhes técnicos dos blocos e eles mostraram interesse. Ficamos de trocar mais informações e também os convidamos para ir ao Sudão”, detalhou Abdallah.
Ele destacou que 60% do potencial de petróleo e gás do Sudão ainda não é explorado e que “de cada três poços abertos, dois são bem sucedidos”. Segundo o executivo, o Sudão produz 120 mil barris de petróleo por dia e possui uma reserva de 200 milhões de barris que será explorada a partir de 2013.
Michel Alaby, diretor-geral da Câmara Árabe, informou que em 2011 o Brasil exportou US$ 97,4 milhões em mercadorias ao Sudão, a maior parte em açúcar. “Na América do Sul, o Brasil é o principal parceiro comercial do Sudão”, afirmou.
A área de açúcar foi outro destaque do seminário. Mohamed El Tegani, diretor-gerente da Kenana Sugar Company, maior grupo sucroalcooleiro do Sudão, destacou que sua empresa produz 400 mil toneladas de açúcar branco por ano e 200 mil litros de etanol por dia.
“Nós cultivamos cana, produzimos açúcar, etanol, geramos eletricidade, fazemos ração animal, laticínios, uma série de produtos. O modelo da Kenana é muito diversificado e temos cinco megaprojetos para os quais queremos atrair investidores brasileiros”, ressaltou.
Sobre a situação econômica do Sudão, Magdi Yassin, vice-ministro de Finanças e Economia Nacional, afirmou que, nos últimos anos, o país vinha apresentando um crescimento do PIB de 5%, mas que a separação entre Sudão e Sudão do Sul em 2011 deve fazer com que haja retração da economia este ano.
“Isso afetou diretamente nossas receitas”, afirmou Yassin. “O governo, então, criou um programa de estabilização para minimizar os efeitos da separação no país. Com isso, esperamos um crescimento de 2% a 3% em 2013.”
“Pretendemos incentivar o investimento estrangeiro direto no país e o setor privado, para que ele desempenhe um papel importante no crescimento do Sudão”, ressaltou Yassin. “Em agosto, assinamos um acordo com o Sudão do Sul para termos um bom relacionamento, permitindo que o petróleo do Sul passe pelos oleodutos do Norte.”
Salim Taufic Schahin, presidente da Câmara Árabe, destacou a importância da realização do seminário para a integração entre os empresários brasileiros e árabes. “A Câmara tem incentivado que mais e mais empresas brasileiras possam aproveitar essa aproximação do Brasil com os países africanos e do Brasil com os países árabes. O Sudão é um país árabe e africano e temos uma vontade enorme de fazer com que essas relações melhorem cada vez mais.”
Financiamento
A missão sudanesa também tratou sobre financiamento da exportação de máquinas e equipamentos brasileiros para o Sudão. “Abrimos caminho para o financiamento. Havia um pequeno débito de uma empresa sudanesa, o qual nós liquidamos em Brasília”, afirmou Eljazz. “Também conversamos sobre estabelecer relações bancárias para facilitar transferências entre o Sudão e o Brasil”, explicou o ministro.
As reuniões para o acerto da dívida e liberação de financiamento ocorreram no Itamaraty e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Tegani, da Kenana, a dívida foi contraída na década de 1970 por uma companhia do Sudão que, em valores atuais, soma cerca de US$ 4 milhões.
“Isso (a negociação do débito) irá abrir caminho para um grande programa de financiamento para as empresas brasileiras exportarem equipamentos ao Sudão”, disse Tegani. Segundo a delegação sudanesa, o financiamento para exportações brasileiras ao Sudão deve estar disponível em fevereiro de 2013.
A delegação sudanesa teve também reuniões nos ministérios das Relações Exteriores e das Minas e Energia, em Brasília, na Agência Nacional do Petróleo (ANP), no Rio, e no Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), em Piracicaba, interior de São Paulo. Os encontros foram acompanhados pelo embaixador do Sudão em Brasília Abd Elghani Elkarim.