Giuliana Napolitano*
São Paulo – Terminou na semana passada em Londres a World Travel Market 2003. Um dos destaques da feira, que durou quatro dias e da qual participaram milhares de agências de viagens de mais de 200 países, foi o setor de turismo nos países árabes.
Dados da Organização Mundial do Turismo (OMT) mostram que o fluxo de turistas para o Oriente Médio aumentou cerca de 17% entre 2001 e 2002. Foi uma taxa bem superior à mundial – que ficou em menos de 3% no mesmo período -, alcançada apesar dos conflitos na Palestina, da guerra no Afeganistão e da epidemia de Sars, que também prejudicou o turismo na região.
A previsão da OMT é de que o setor continue crescendo. Em 2020, a organização estima que o Oriente Médio receba 68,5 milhões de turistas, um aumento de 150% em relação ao total do ano passado (27,6 milhões). Segundo a Organização Mundial do Turismo, isso significa um aumento médio anual de 7%, maior do que a média de 4% projetada para o mundo.
A expansão é possível porque a queda de turistas para os centros de conflitos vem sendo compensada por um forte aumento de visitas a outros pontos da região. O melhor exemplo desse deslocamento é Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O total de turistas recebidos pela cidade aumentou 31% em 2002, a maior taxa mundial. Durante a World Travel Market, Dubai foi eleito o destino turístico mais seguro do Oriente Médio.
O reconhecimento não veio à toa. A cidade, que é o pólo econômico dos Emirados, vem investindo para se tornar também o centro turístico da região. A oferta de quartos de hotéis, por exemplo, subiu 344% em apenas quatro anos: de 900 para 4 mil.
Além disso, estão em construção complexos turísticos bilionários, como o Dubailand, maior projeto de turismo, lazer e entretenimento do Oriente Médio, e o The Palm, arquipélago artificial que terá hotéis, casas, praias particulares, marinas e shopping centers.
O governo local também vem investindo no turismo de negócios e, neste ano, Dubai foi a primeira cidade árabe a sediar o encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que aconteceu em setembro.
Para atender à demanda por vôos, foi inaugurada a primeira companhia aérea de Dubai, a Etihad Airlines. A empresa começou a operar neste mês com dois aviões alugados da brasileira TAM.
Alternativa ao setor de petróleo
Dubai é fenômeno atual do Oriente Médio, mas outros destinos turísticos também começam a despontar na região. Segundo a OMT, o turismo é visto por muitos governos da região como forma de reduzir a dependência do setor de petróleo.
"Os países começam a capitalizar seus recursos naturais, a cultura histórica e as tradições islâmicas", diz um relatório da organização sobre o Oriente Médio.
É o caso da Arábia Saudita. O país, que costumava limitar a entrada de visitantes, dando preferência aos peregrinos e aos turistas de negócios, vem abrindo o país, de acordo com a OMT. No ano passado, a Arábia Saudita foi o país árabe que mais recebeu turistas: foram registradas 7,5 milhões de chegadas. Em segundo lugar, apareceram os Emirados Árabes, com 5,4 milhões, e em seguida, o Egito, com 4,9 milhões.
Egito e Líbano
Para 2020, porém, a OMT prevê que o Egito se torne o principal destino turístico árabe, recebendo 7 milhões de visitantes por ano. Para a organização, as recentes medidas de promoção do turismo adotadas pelo governo egípcio – entre elas, a melhoria da segurança, a facilitação dos processos de vistos e a redução dos preços dos vôos domésticos – devem surtir efeito.
A segunda posição ficaria com a Arábia Saudita (2 milhões). Em terceiro, viria Dubai (8 milhões), seguido por Bahrein (7 milhões) e Jordânia (6 milhões). A OMT também destacou os esforços do Líbano para voltar ao circuito regional do turismo. Antes da guerra civil, que durou de 1975 a 1990, o país era um dos principais destinos do Oriente Médio. No ano passado, porém, recebeu menos de milhão de visitantes. Para reativar o setor, o governo planejou investimentos de longo prazo, como um programa de restauração de 270 prédios históricos, previsto para durar 25 anos.
Panorama mundial
Com o crescimento de 150% programado para 2020, a participação do Oriente Médio no panorama mundial de turismo deve aumentar de 2,2% para 4,4%. Apesar da expansão, a região continuará como o quinto principal destino de visitantes do planeta, à frente apenas do Sul da Ásia, que terá uma fatia de 1,2%.
A Europa se manterá como principal pólo de atração de turistas, mas a participação no total mundial deve diminuir, de 59,8% para 45,9%. No segundo lugar, porém, haverá uma inversão de papéis: a fatia da Ásia Oriental e do Pacífico subirá de 14,4% para 25,4% e passará o percentual das Américas, que cairá de 19,3% para 18,1%. Na quarta posição, aparece a África (3,6% para 5,0%).
Em 2020, o fluxo total de turistas ao redor do mundo deve chegar a 1,6 bilhão, um crescimento de 122% em relação aos números do ano passado.
*com agências internacionais