Thais Sousa
tsousa@anba.com.br
SĂŁo Paulo – Para falar de arqueologia e Egito Antigo a brasileira MĂĄrcia Jamille criou seu prĂłprio canal no Youtube, o Arqueologia EgĂpcia, que hoje jĂĄ ultrapassa a marca de 14.400 inscritos. Bacharel e mestre em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Jamille Ă© natural da capital sergipana, Aracaju. Para se aprofundar nos estudos do Egito, ela teve que usar as ferramentas que tinha Ă mĂŁo. âNĂŁo tĂnhamos disciplina voltada para a ĂĄrea de Egiptologia, entĂŁo fiz como muitos estudantes fazem, conversei com um professor para me orientar e juntei a ĂĄrea dele (Arqueologia de Ambientes AquĂĄticos) e o estudo do Egito Antigoâ, disse ela em entrevista Ă ANBA.
Se durante a graduação o acesso Ă s informaçÔes era restrito, na infĂąncia da youtuber o conteĂșdo era ainda mais escasso. âQuando eu era criança jĂĄ achava a Arqueologia interessante, e fascinante aquele lance de escavar com cuidado e saber mais sobre o nosso passado. PorĂ©m, os Ășnicos documentĂĄrios que passavam na TV eram sobre Arqueologia BĂblica ou sobre a PrĂ©-HistĂłria da Europa. Eu nem imaginava que existiam estudos em Arqueologia no Brasil. Quando alcancei 13 anos, a professora de HistĂłria passou um documentĂĄrio sobre o Egito Antigo. Foi simplesmente amor Ă primeira vistaâ, declarou a arqueĂłloga.
Aos 31 anos, a jovem guarda atĂ© hoje recordaçÔes da paixĂŁo pelo Egito. âA minha infĂąncia foi muito rica neste sentido. Eu lembro, por exemplo, da minha mĂŁe voltando do trabalho e trazendo revistas sobre o Egito Antigo. Tenho tudo guardado aindaâ, contou. E da menina que guardava recortes ela passou a ser produtora de conteĂșdo. HĂĄ mais de dez anos, Jamille criou o site Arqueologia EgĂpcia, e em 2014 passou a abastecer um canal no Youtube de mesmo nome. Em 2018, o canal no Youtube passou a fazer parte do ScienceVlogsBrasil, selo que atesta a qualidade da divulgação cientĂfica no Youtube. Jamille tambĂ©m participou do concurso NextUp, onde os vencedores recebem treinamento de uma semana para criadores de conteĂșdo nos YouTube Spaces. âDuas grandes vitĂłrias para a divulgação cientĂfica da Arqueologia na internetâ, afirmou ela.
Hoje, a arqueĂłloga se dedica aos espaços na internet em tempo integral. âTrabalho apenas com os conteĂșdos do canal e criando palestras ou aulas on-lineâ, contou ela que, ainda assim, se mantĂ©m pesquisadora associada do LaboratĂłrio de Arqueologia de Ambientes AquĂĄticos ligado Ă UFS.
Arqueologia AquĂĄtica
Para estudar o Egito, Jamille escolheu se aprofundar em Arqueologia AquĂĄtica. A youtuber explica que existem sĂtios submersos no Egito, especialmente na ĂĄrea da baĂa de Alexandria. Ainda dentro da Arqueologia de Ambientes AquĂĄticos Ă© possĂvel abordar inclusive os artefatos relacionados Ă ĂĄgua. âEmbarcaçÔes sĂŁo um exemplo, assim como divindades associadas com o meio aquĂĄtico. No meu caso, quando eu estava em meados da graduação, comecei a perceber que os egĂpcios antigos tratavam a ĂĄgua de uma forma especial. Tratando as cheias do Nilo como algo mĂĄgico, criando altares para os deuses em forma de embarcaçÔes, enterrando barcosâ, pontuou.
JĂĄ durante o mestrado ela foi bolsista e realizou pesquisas bibliogrĂĄficas no laboratĂłrio, buscando gerar bibliografia em portuguĂȘs para seu objeto de estudo. LĂĄ, Jamille chegou a iniciar treinamento em mergulho cientĂfico, onde aprendeu algumas das principais metodologias para trabalhar em sĂtios submersos. âAtĂ© mesmo na tumba de Tutankhamon temos indĂcios desta ligação sagrada com a ĂĄgua, como a presença de remos na cĂąmara funerĂĄria. Ă um tema realmente bem complexo, mas foi divertido realizar a pesquisa porque agora estĂĄvamos olhando a histĂłria egĂpcia desta nova perspectivaâ, revelou.
Apesar de nunca ter ido ao Egito, a brasileira diz que estĂĄ batalhando para atingir esse objetivo. âNĂŁo tem para onde correr, o estudo do Egito Antigo Ă© a minha vocação, me sinto feliz falando sobre o assuntoâ, contou ela, que atravĂ©s do canal tem recebido mensagens de alunos e professores que tiveram acesso a seus vĂdeos. âEu tenho uma ‘sala de aula’ com milhares de pessoas que sĂŁo tanto as que visitam o site como as que assistem o canal. Posso nĂŁo estar escavando no momento, mas ao menos posso estar acendendo a fagulha em alguĂ©m por aĂ que estĂĄ começando a amar a arqueologia e quem sabe serĂĄ uma futura ou futuro arqueĂłlogoâ, concluiu.
Veja abaixo um dos vĂdeos do canal Arqueologia EgĂpcia: