Alexandre Rocha
São Paulo – O príncipe jordaniano El Hassan Bin Talal, presidente do Clube de Roma, disse ontem (21) que a América Latina tem um papel importante a desempenhar no fortalecimento da cooperação sul-sul. "A América Latina tem um papel importante para dar uma nova dinâmica ao diálogo sul-sul", disse ele, após se reunir com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo. A próxima reunião anual do Clube de Roma, organização que se dedica a discutir os grandes temas internacionais, será realizada no final do ano no México.
"O príncipe ficou muito impressionado com a possibilidade de diálogo não só entre o Brasil e os países árabes, mas também com outras nações, como a Índia, por exemplo", disse Fernando Henrique à ANBA na sede do instituto que leva o seu nome, na região central da capital paulista. FHC é membro do Clube de Roma e foi convidado pelo príncipe a participar do encontro no México e também a assumir um posto de honra dentro da instituição.
De acordo com o ex-presidente, Talal elogiou o Brasil por ser um país que preza o multilateralismo no campo internacional e o multiculturalismo dentro de suas próprias fronteiras. "O Brasil tem uma riqueza enorme nestes dois campos, e o príncipe insistiu muito nisso", afirmou FHC.
Mais cedo, Talal, que é muçulmano, teve uma idéia do nível de integração cultural e religiosa existente no Brasil, ao tomar café da manhã com o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista (CIP), e o xeque Armando Hussein Saleh, da Mesquita Brasil. O príncipe é um grande defensor do diálogo entre culturas e religiões. Durante o encontro, os participantes falaram do dever do Brasil de exportar esse exemplo de convivência harmônica.
Além da integração cultural, Talal disse que a região oferece outros exemplos para o resto do mundo, como no caso dos países da Bacia do Prata (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai), que mantém um instrumento de consultas recíprocas sobre o uso dos recursos da região. "Eles tratam de segurança regional e uso dos recursos naturais", afirmou Talal.
Outro exemplo citado por ele foi na área de comércio e investimentos. Para o príncipe, fontes de energia alternativa, como o etanol, que hoje são produzidas no Brasil, podem ser introduzidas em países da África e da Ásia. "A energia é um nicho que pode ser desenvolvido", afirmou.
Talal acrescentou que os países do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) têm condições de se articular conjuntamente para desenvolver políticas em prol do multilateralismo e influenciar a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU). "É preciso luta por algo", disse ele, referindo-se a uma nova ordem mundial baseada no humanitarismo e a paz.
Nova visão sobre o desenvolvimento
De assuntos semelhantes, o príncipe tratou com o prefeito de São Paulo, José Serra, com quem se encontrou no final da tarde de ontem. "Trocamos idéias sobre o Clube de Roma e sobre uma nova visão acerca do terceiro mundo, das relações sul-sul e sul-norte", disse Serra à ANBA.
Segundo o prefeito, Talal disse que após a queda do Muro de Berlim as relações internacionais tornaram-se mais complexas, mas muitos problemas permanecem, como é o caso da questão do desenvolvimento. De acordo com Serra, o príncipe quer ajuda para fortalecer o Clube, que reúne intelectuais, líderes políticos e empresariais reconhecidos internacionalmente. "Posso ser um colaborador", garantiu o prefeito.